João Franzin: "Mais todos nós!"

O jornalista e coordenador da Agência Sindical, João Franzin, publicou carta aberta parabenizando a presidenta Dilma Rousseff pela reeleição e destacando a importância do diálogo, principalmente com os setores organizados como o movimento sindical. Confira a íntegra do artigo.

João Franzin

"Prezada Dilma
(que não me lerá):

Em primeiro lugar, parabéns pela vitória.

Não sei qual o seu pronunciamento desta noite (26), pois trabalhei à tarde e agora vou beber pra comemorar. Mas entendo que a fala deve ser de estadista, reconhecendo a situação real, a disputa dura, as tarefas enormes pela frente e a necessidade de somar forças pra avançarmos.

Tenho muita fé em sua conduta; você que conhece a vida dura da tortura e da doença; você que tem base doutrinária; você que chegou ao PT vinda do PDT, onde pôde conviver com o herói brasileiro Leonel Brizola; você quem tem lado, e é o lado do povo.

Tomo a liberdade de sugerir que faça, com a honestidade que lhe é própria, o balanço dos acertos e erros dos governos Lula e do seu (o saldo é positivo, sei). E, a partir disso, amplie o que deu certo e passe lixa grossa no que emperrou ou andou errado.

Mas não faça sozinha. Chame os aliados de todas as horas e amplie a conversa, o diálogo, o entendimento com os movimentos sociais, o setor produtivo, o sindicalismo, os artistas, a juventude, os aposentados, a mídia alternativa, as igrejas, os ambientalistas, os cientistas. Ou seja, procure tratar com a Nação real.

Presidenta: sei que a grande mídia critica os chamados pronunciamentos em rede nacional. É a raposa dando conselho, pois quer ser ela o elo com a Nação, cobrando pedágio escorchante – e depois enfiando a faca nas nossas costas. Eu te aconselho a falar mais com a Nação, a não ter pudor em explicar o Bolsa Família; o Minha Casa, Minha Vida; o Mais Médicos; o Pronatec; o Ciências Sem Fronteiras; e tantos outros programas valorosos. E mesmo as ações e políticas de combate à corrupção.

Seu governo, presidenta Dilma, é pleno de realizações. É impressionante constatar que somos o segundo maior canteiro de obras do mundo; estamos fazendo as três maiores hidrelétricas do planeta; e é do Brasil o maior programa habitacional da face da Terra. Considero histórica a decisão de não comprar os caças norte-americanos, livrando-nos da ingerência ianque. Aprovo a partilha do pré-sal, a começar por Libra, que manteve afastadas as grandes petroleiras daquele conhecido Estado terrorista. Mas tudo isso foi muito mal comunicado. Em termos de comunicação, prezada, seu governo foi um chocante fracasso.

Desde a campanha de Brizola, em 1989, prezada Dilma, eu não mergulhava numa campanha, como agora. Eu não tenho negócios com seu governo e penso que não terei. Nas últimas semanas, falei com muitas pessoas e, posso assegurar, consumi parte do tempo defendendo teu partido e explicando coisas que ninguém merece ter de explicar. Mas, como disse no passado seu adversário, o hoje senador Aloysio Nunes Ferreira, “política a gente faz pra atingir objetivos”.

Prezada Dilma: diziam os gregos que com o destino nem os deuses podiam. E o destino tem sido generoso contigo – saiu com vida e lucidez das torturas; superou um câncer; derrotou não o mineiro fracote e sim o braço do sistema internacional, que atrevidamente até já havia nomeado Armínio Fraga feitor de seus interesses na colônia. Seja, se me permite, ainda mais generosa. Faça um grande governo, mas faça com a Nação. Menos com um partido e mais com todos nós!"