Petrobras demonstra crescimento e eficiência no gerenciamento de crise

A última década da estatal, que este ano completou 61 anos, foi marcada pelo aumento na capacidade de produção e no volume de investimento. A consultoria britânica Evaluate Energy aponta a petrolífera como a única empresa do segmento no mundo a registrar crescimento de produção nos últimos seis anos.

Por Sheila Fonseca, especial para o Portal Vermelho

Fachada da sede da Petrobras

Em meio a crises internas e externas, investimentos pesados em infraestrutura elevaram a Petrobras à liderança no setor energético de petróleo e gás no mundo. No ano de 2014 o desempenho da empresa foi marcado por desafios à principal fonte da matriz energética brasileira, alcançando o recorde histórico do total de produção diária de 2 milhões e 490 mil barris por dia, incluindo a parcela operada pela Petrobras com seus parceiros.

Na última década a Petrobras acumulou aumento de 10% na participação do Produto Interno Bruto (PIB) do país, passando de 3% para 13%. Registrando também aumento, entre 2002 e 2012, no valor de mercado da empresa, que passou de US$ 15,4 bilhões para R$ 214,69 bilhões.

A presidente Dilma Rousseff ressalta o crescimento dos investimentos da empresa em avanços tecnológicos para a expansão das atividades: "A Petrobras é hoje a empresa que mais investe do Brasil. Foram 306 bilhões de dólares de 2003 a 2013, sendo que só no ano passado foram mais de 48 bilhões de dólares investidos. É importante lembrar que em 2002, a empresa investiu apenas U$ 6,6 bilhões em avanços tecnológicos e exploração. Isso significa que nesse período nós multiplicamos por oito o investimento. Além disso, o lucro líquido da empresa passou de R$ 8 bilhões para R$ 13 bilhões", resume.

Entre os desafios para os próximos anos, está a implementação do Plano de Negócios e Gestão da estatal para o período 2014-2018, que prevê investimentos de US$ 220,6 bilhões e tem como foco o curto e o médio prazos. No longo prazo, a meta da estatal é chegar a 2030 como uma das cinco maiores empresas integradas de energia do mundo. Segundo a nota, um dos desafios é manter o sistema tecnológico reconhecido por disponibilizar tecnologias que contribuam para o crescimento sustentável da estatal.

A única petrolífera a registrar crescimento nos últimos seis anos

De acordo com estudo publicado pela consultoria britânica Evaluate Energy, a Petrobras foi a única empresa entre as grandes do setor a registrar aumento de produção de barris de petróleo nos últimos seis anos, segundo o levantamento.

A consultoria aponta que a produção de petróleo da empresa subiu da média de 1,918 milhão de barris por dia em 2007 para 2,059 milhões em 2013. O que representa um aumento de cerca de 140 mil barris por dia, levando em conta os campos operados dentro e fora do Brasil.

Thomas Adolff, analista do banco Credit Suisse, também vê o crescimento da petrolífera brasileira com otimismo e se referiu ao pré-sal como “Harvard das águas profundas” em relatório de investidores deste ano. O analista destaca em sua avaliação a riqueza que a estatal preservou, em leilões, para si própria, nos contratos.

E completa: “Em oito anos de exploração, a produção atingiu 500 mil barris por dia. Já no Golfo do México e no Mar do Norte, demorou, respectivamente, 10 e 20 anos para atingir o mesmo volume”, diz o especialista.

Segundo Rudimar Lorenzatto, gerente-executivo da Petrobras, para atingir a meta de crescimento da produção em 7,5%, a estatal conta com dez novas plantas. “A produção do pré-sal está crescendo de forma sustentável e mostra alta produtividade nos seus campos”, afirmou o executivo, em evento do Credit Suisse, em junho deste ano.

Na avaliação da consultoria Economática, publicada neste mês, com a alta de 7,10%, a bolsa brasileira é a única da América Latina e Estados Unidos que obteve crescimento de valor de mercado. E por conta desta alta, a Petrobras tornou-se, novamente, a empresa com maior valor na América Latina. A estatal fechou o dia 13 de outubro valendo US$ 116,37 bilhões. No dia 30 de setembro, a empresa valia US$ 93,7 bilhões, o que significa um ganho de R$ 22,6 bilhões.

Novas descobertas colocam o Brasil na liderança mundial do setor

Na última sexta-feira (24) a petrolífera anunciou a descoberta de acumulação de hidrocarbonetos em águas profundas, no pós-sal da Bacia do Espírito Santo, por meio da perfuração do poço Lontra, em profundidade de água de 1.319 metros.

Esse poço, localizado a 81 km da cidade de Vitória (ES) na área de produção de Golfinho, do qual a Petrobras é operadora e detém 100% da concessão de produção, comprovou a presença de gás e condensado, de acordo com dados de perfilagem e teste a cabo. Os reservatórios foram identificados a 3.055 metros de profundidade.

Navio plataforma da Petrobras

A diretora-geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Magda Chambriard afirma que a Agência tem se concentrado na avaliação dos estudos ambientais e geológicos da margem leste brasileira, uma área que vai dos estados do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Segundo ela, as primeiras avaliações foram boas e a ANP trabalha para que essa fronteira possa ser incluída na 13ª Rodada de Licitações, prevista para o primeiro semestre de 2015.

A empresa ressalta ainda que a produção na província pré-sal já ultrapassou a marca de 480 mil barris diários nos campos das bacias de Campos e Santos. O número, que é recorde, se deve à entrada em operação do poço CR-49, que é interligado à plataforma P-48, no campo de Caratinga, localizado na bacia de Campos.

O vice-presidente executivo da petroleira holandesa Shell, Mark Shuster, avalia que a Petrobras caminha em direção ao topo do ranking da produção mundial de petróleo. “Os 40 bilhões de barris previstos nas reservas do pré-sal têm potencial para lançar o Brasil ao topo da lista de produtores mundiais de petróleo”, afirmou Mark Shuster em setembro, no Rio de Janeiro, durante a feira Rio Oil & Gas, principal evento de petróleo e gás da America Latina.

Denúncias revelam eficiência na gestão de crise

Denúncias de supostos casos de corrupção envolvendo a estatal figuram entre os temas centrais da cobertura da imprensa nos últimos meses, aquecida, em parte, pela pauta da corrida presidencial.

A intensa exposição através da imprensa de crises internas e denúncias de supostas atividades de corrupção envolvendo dirigentes da estatal demonstraram a habilidade da empresa no gerenciamento de crise que foi capaz de minimizar os impactos negativos gerados.

O consultor Jonathan Boddy, especialista em gerenciamento de crise na Grã-Bretanha, ressalta o bom uso dos recursos de gerenciamento utilizados pela estatal brasileira para a manutenção da estabilidade da empresa em meio à crise. “A Petrobras tem uma marca forte. Há dois anos, figurava no Índice Forbes Global como a 10ª. empresa do mundo, com ativos de 319 bilhões de dólares. Passou incólume ou desgastada por várias outras crises no passado. Aprendeu com elas. A ponto de criar uma área de gerenciamento de crises considerada bastante eficiente, quando precisou administrar crises operacionais”, opinou o consultor, em artigo publicado no Comunicação e Crise.

Especialistas apontam o fim das nomeações políticas como uma solução a ser adotada para a otimização na gestão e melhora no equilíbrio e imagem da empresa.

Contudo, o analista de mercado André Perfeito, da Gradual Investimentos, ressalta que é contrário à nomeação de diretores por motivação política, mas para ele, o pessimismo em torno da estatal é exagerado e resultado direto de uma campanha acirrada para a presidência.

“Eu acho que a questão da Petrobras está sendo focada agora por conta de um período eleitoral bastante agressivo. Apesar do pessimismo de alguns colegas, eu vejo tudo isso como um sinal até positivo: estão finalmente 'limpando' a estatal de alguns hábitos deploráveis”, afirma. “A investigação da Policia Federal, juntamente com o Ministério Público, pode trazer uma Petrobras mais forte e melhor daqui para a frente”, afirmou Perfeito em entrevista ao portal português RFI.

A denúncia da Revista Veja e a cobertura da imprensa

Na sexta-feira (24), a Revista Veja antecipou a sua publicação do fim de semana, a dois dias das eleições, com denúncias sem comprovação documental do envolvimento da candidata do PT, Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula com o suposto esquema de corrupção da estatal. A denúncia da revista foi criticada por especialistas em comunicação, sendo apontada como manobra midiática para fins eleitorais.

O jornalista Odilon Lima, integrante do Fórum Pernambucano de Comunicação, e Coordenador de Economia Criativa da Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, avalia que a postura da revista Veja configura uma tentativa de golpe midiático. “Quem viveu as eleições pós-redemocratização do País e viveu de perto com as manipulações da mídia, acho que já esperava por isto. O que nós temos hoje é uma disputa de poder da mídia contra um governo eleito democraticamente. Se engana quem acha que o que a mídia quer é dinheiro. Não. Querem é continuar com o poder nas mãos de decidir para onde a sociedade vai, o que ela pensa, veste, curte. Neste sentido os governos de esquerda são um perigo neste projeto delas de poder”, avalia o jornalista.

Odilon revela que o conteúdo dos depoimentos do doleiro Alberto Youssef, ao qual tem acesso, não corresponde ao que foi publicado na revista Veja. “O que a Veja fez atenta contra a democracia. Tenho os depoimentos na integra do Youssef e do Paulo Roberto Costa, disponibilizados na semana passada pelo Juiz do caso Petrobras. Sei que não é este depoimento que a Veja se refere. Porém em momento algum dos dois depoimentos se deixa transparecer que o ex-presidente e a atual, Dilma, fossem coniventes ou soubessem de algo. Na faculdade, quando cursamos Jornalismo, Relações Públicas ou qualquer outro ramo das comunicações, nos ensinam a averiguar informações, checar com fontes e principalmente ouvir os dois lados de uma possível matéria. Hoje em dia o que se vê é uma imprensa conservadora, manipuladora e irresponsável. O que a Veja fez não foi jornalismo. O que a Veja fez foi tentativa de Golpe”, sentencia.

Na opinião do jornalista Alfredo Herkenhoff, autor do livro Jornal do Brasil – Memórias de um Secretário, a reportagem não segue os critérios de isenção desejados em uma cobertura de imprensa. “A reportagem é fruto de crime envolvendo mais de uma pessoa. O processo contra o doleiro corre em segredo de Justiça. A poucas horas do segundo turno, a revista repete o que faz há anos, jornalismo como propaganda política. A revista tem a pretensão de ser uma Revista Time, mas faz reportagem cheia de adjetivação. E como todo veículo impresso, está fadada a morrer por causa do advento da era da internet.”

Contudo, o jornalista adverte que a revista possui em si pouco poder de influência. “O efeito das denúncias da Veja, pouco importando para ela se são verdadeiras ou não, se dá pela reverberação das denúncias em outras mídias, em especial a TV aberta. E claro, também nas ferramentas sociais, mas na web o quadro hoje também é de internautas polarizados. A Veja em si não faz mais proselitismo neoliberal, apenas afaga os que já se deixaram levar por esse clima de mar de lama, para ficar na expressão de Lacerda repetido por Aécio Neves. Como mídia impressa, o poder de influência dela em si é zero. Mas sim, mais do que pelo descrédito da revista, é pelo atraso, as pessoas não precisam mais ler os impressos, quase mais ninguém compra mídia impressa. A Veja está ficando sozinha na sua mediocridade”, comenta.

Para Herkenhoff, a atual cobertura da imprensa vai ser motivo de vergonha no futuro “O Brasil vai se envergonhar no futuro pelo jornalismo que pratica hoje. Os erros do governo de Dilma e Lula foram muitos, alguns graves, mas foram muito menores e menos importantes do que os avanços sociais e econômicos alcançados até aqui. O debate acalorado faz parte do jogo democrático, mas os ânimos acirrados nas ruas, antigovernistas insuflados, praticamente lobotomizados pelo jornalismo da Veja e congêneres, não. Mas como a mídia impressa está fadada a morrer no mundo inteiro por causa da internet, a Veja não vai precisar fazer como as Organizações Globo, com aquela declaração fajuta de mea culpa pelo apoio que deu 50 anos atrás ao golpe de 1964. A Veja vai morrer naturalmente, como morreu a Newsweek. A Veja vai morrer de morte morrida, nenhum poder democrático vai fechar essa coisa antiga”, salienta.

Envolta em polêmica, a “Lei de Meios” retorna ao debate em torno da necessidade de regulamentação de setor de comunicação.

Segundo Odilon Lima, o nível de ataques aos candidatos com falsas notícias e a baixa qualidade na cobertura são oportunidades para repensarmos o tipo de imprensa que desejamos ter. “Na eleição passada já se discutia uma possível Lei de Meios na Argentina e em outros países. O bombardeio e o terrorismo da mídia neste assunto eram enormes. Acusam-nos, lutadores da democratização da mídia, de sermos a favor da censura”, diz.

“Porém, hoje, depois da Lei de Meios ser aprovada em vários países da América Latina e o povo ver seus benefícios e que não se instalou ditadura em canto algum, eles ficaram sem discurso. Hoje na Argentina, por exemplo, são centenas de rádios e tevês a mais, nas mãos de povos tradicionais, com sua cultura indo ao ar. A Argentina está conhecendo uma Argentina que não conhecia e não via na mídia. Pesquisas do governo argentino apontam para a aprovação da população à Lei. Não podemos mais conviver com desrespeitos aos direitos humanos, com políticos e igrejas donas de concessões de canais de rádios e tevês. É inaceitável que em pleno ano de 2014 ainda se conviva com menos de 10 famílias mandando em toda a mídia deste País. Enquanto isto, milhares de comunidades indígenas, quilombolas e as próprias universidades e a sociedade civil organizada vivem ainda na época da ditadura sem vez, nem voz.”, opina, Odilon.