Lejeune Mirhan: Por que jamais votaria em Aécio Neves

Circulam nas redes sociais, em especial na maior delas e adotada pelos brasileiros, o Facebook, dezenas de motivos para que não votemos no Aécio Neves. No entanto, quero deixar registrado os principais motivos pelos quais jamais votaria em uma pessoa como essa. E não por questões pessoais. Vejamos:

Por Lejeune Mirhan*

Aécio Neves - Reprodução

Não votaria no Aécio não porque pesa sobre ele acusações de que bate em mulheres e é com elas arrogante e autoritário. Não seria por isso.

Não votaria em Aécio não porque pesam sobre ele acusações de que é um alcoólatra e usuário de drogas. Nunca seria por isso.

Não votaria jamais no Aécio não porque ele foi um péssimo gestor e fez o pior governo que Minas Gerais teve nas últimas décadas, odiado pelos servidores e em especial pelos professores. Nem pelo fato de que ele ficou em terceiro lugar no “seu” Estado ou que tenha perdido para o PT o governo já no primeiro turno. Dizem por aquelas bandas assim: “quem te conhece, Aécio, não te compra”. Não será por isso.

Não votaria no Aécio não porque, em plena ditadura, filho de um deputado de direita, da Arena, apoiadora dos militares, ele foi nomeado – com 17 anos! – “assessor” de seu pai na Câmara dos Deputados em Brasília, mas morava e estudava no Rio de Janeiro onde praticava surf. Não será por isso.

Não votaria jamais no Aécio não porque ele passou quatro anos no Senado e não aprovou nenhum projeto de Lei, nem pelo fato de que ele viajou mais para o Rio de Janeiro, ficando na sua casa no Leblon, do que para Belo Horizonte, principal cidade de sua base eleitoral. Não seria por isso.

Não votaria jamais no Aécio por que ele e sua “turma” tucana odeiam “pobres e pretos”, em especial os nordestinos e nortistas. Que lotam aeroportos, compram carros do ano, matriculam seus filhos em universidades que estudam por conta do Estado brasileiro, que viajam ao exterior e consomem. Que fazem mestrado e doutorado em vários países. Que odeiam pessoas com orientações de LGBT, pois ele está cercado por conhecidos homofóbicos. Não, não seria por esse motivo que não votaria nesse cidadão.

Não votaria jamais no Aécio não por causa das dezenas de denúncias de corrupção, mandonismo, nepotismo (emprego de nove parentes em MG), locupletação, beneficiamento das empresas de rádio (três) e uma TV da sua família, com verbas destinadas na casa dos 850 milhões no período que sua irmã, Andréia, sócia dele nesses órgãos de imprensa, era secretário de Comunicação de MG, e portanto, responsável pela alocação de verbas publicitárias. Não, jamais votaria no Aécio por todas essas razões.

Mas, enfim, quais seriam mesmo os motivos e as principais razões pelas quais jamais votaria em uma pessoa como essa? O que me pauta, o que baliza minha ação não é o combate à corrupção, não são pautas morais. Não. E não que eu seja a favor da corrupção. Muito ao contrário. Aos homens públicos, ser honesto e ser contra a corrupção é princípio básico.

Nunca fiz da pauta da ação política como comunista a moralidade. Pauto-me pelos grandes projetos de desenvolvimento nacional, pelo fortalecimento da Nação, da sua independência e soberania, em especial das potências imperialistas. Sempre lutei em 40 anos de militância política, por igualdade, justiça social, soberania, desenvolvimento. Sempre fomos contra o arrocho salarial, pela distribuição igualitária de renda entre os que produzem no Brasil.

Assim, não votarei no Aécio, jamais, porque ele prega um modelo de país e de economia completamente oposto ao que defendemos. Prega a concentração de renda. Prega a distribuição desigual da riqueza produzida pela maioria dos trabalhadores. Ele pretende implantar no Brasil um modelo econômico neoliberal que deu errado no mundo todo!

Não votarei no Aécio, porque ele retirará direitos históricos dos trabalhadores. Seu ministro nomeado (mas que, felizmente, não tomará posse), Armínio Fraga, é marionete do maior especulador do mundo, George Soros, presidente do Soros Fund Management. Ele vai rasgar a CLT que assegura tantos direitos aos trabalhadores. Ele vai arrochar salários. Para atingir a meta de 3% de inflação, manterá os juros em pelo menos 15% ao ano (quase o dobro do atual governo), sacrificando ainda mais o setor produtivo da economia e que acarretará, segundo economistas sérios, uma taxa de desemprego da ordem de 15% (o triplo da atual).

Não votarei no Aécio jamais, porque ele defende um modelo de capitalismo financeiro, que beneficia os rentistas. Tanto que sua “equipe econômica” (com os economistas “marineiros”) vem dizendo que o BB, a CEF e o BNDES, bancos públicos e que emprestam muito dinheiro a juros baixos ou subsidiados, serão enfraquecidos ou mesmo fechados. Seu modelo é privatista. O Estado, na sua concepção jamais poderia ser indutor da economia. As poucas empresas estatais que sobraram das privatarias tucanas de FHC, serão vendidas a preço de bananas. A grande joia da coroa será a Petrobras, cujo petróleo das camada pré-sal, será entregue às irmãs da indústria do petróleo, em especial a Chevron, conforme Serra prometera em 2010.

Não votaria no Aécio, jamais, porque ele defende o estado mínimo. Ainda que tenhamos um percentual da PEA de servidores muito menor até do que os EUA, ele pretende demitir servidores federais e não abrirá nenhum novo concurso para qualquer cargo na administração pública federal. Na sua concepção, os “serviços” como saúde, educação e mesmo segurança, devem ser “geridos” pelo setor privado, precarizando serviços e mercantilizando direitos.

Não votaria jamais no Aécio pelo simples fato que seu partido, o PSDB, os governadores desse partido, seu antecessor tucano FHC, criminalizaram e ainda criminalizam os movimentos sociais e populares. Até os dias atuais, sempre que o povo se organiza e reivindica seus direitos, são massacrados pelas policiais sob o comando dessa gente. Ao contrário das gestões populares de Lula e Dilma, não haveria diálogo algum do governo com a representação dos setores mais desfavorecidos da sociedade.

Jamais votaria no Aécio pelo simples fato que ele, seu partido e os tucanos e neotucanos como Osmarina e quetais acharem os programas sociais de transferência de renda como se fossem “bolsas esmolas” (sic). Ainda que falem bem na atualidade desses programas sociais dos governos Lula e Dilma, o PSDB só faz “projetos pilotos que beneficiam 2% da população pobre”, como diz Dilma.

Jamais votaria no Aécio porque ele é absolutamente contra o MERCOSUL, o terceiro maior bloco econômico do mundo. Ele ressuscitaria a Alca – Área de Livre Comércio das Américas – uma tentativa de nos transformar em um quintal estadunidense, devidamente enterrada por Lula e pelos governos progressistas da América Latina. Aécio retiraria o Brasil da Unasul, sairia do bloco dos BRICS, mesmo antes que formemos o banco que financiará o desenvolvimento desses países e enfrentará o FMI. Não queremos nunca mais o Fundo Monetário a dizer o que devemos fazer em nossa economia.

Aécio está cercado de golpistas, fascistas, direitistas, homofóbicos, xenófobos e tantas outras pessoas ruins de tão triste currículo na nossa história. Seu projeto hoje é retirar o Brasil de sua rota desenvolvimentista e subordiná-lo aos ditames dos EUA. Perderemos a nossa soberania. Deixaremos de olhar para o Sul, para a África e Ásia e voltaremos a ser colônia e ficar na órbita estadunidense e europeia. Voltaremos a falar grosso com nossos vizinhos próximos e fino com os Estados Unidos.

Não queremos andar para trás. Não queremos um retrocesso brutal ao país. Se conseguimos com a vitória de Lula em 2002, interromper o afundamento geral do Brasil, estancar a quebra da economia, se conseguimos pagar a dívida com o FMI e a dívida externa em geral; se conseguimos reduzir o emprego a um índice considerado como pleno emprego; se conseguimos ampliar direitos e enfrentamos a crise sem cortar direitos e arrochar salários, porque retrocederíamos 12 anos?

Pra frente é que se anda, diz a música. E nós vamos para a frente. O povo brasileiro, em que pese a mais brutal e negativa cobertura de mídia que temos no país, com uma imprensa golpista que apoiou o golpe de 1964 e apoiaria de pronto novo golpe, saberá fazer a sua escolha. Há dois projetos claros em jogo, em disputa.

Do nosso lado, está o povo mais pobre, os trabalhadores que ascenderam na escala social, os setores médios progressistas, os sindicatos e partidos também progressistas, artistas, religiosos comprometidos com as causas populares, economistas antineoliberais e tantos outros setores que apoiam a reeleição de Dilma. Um governo que soube surfar na crise mundial sem deixar de crescer, ainda que abaixo do que precisamos e, o principal, sem demitir ou cortar direitos dos trabalhadores. Um governo que tirou mais de 42 milhões de pessoas da miséria e colocou outros 38 milhões de pessoas na chamada “nova classe média” (faixa “C” de consumo).

De outro lado, o atraso, a volta ao passado, o controle do estado pelo setor privado, a subordinação ao imperialismo, a perda da soberania, a entrega das riquezas, o arrocho salarial, o enfraquecimento do Estado nacional, a demissão dos servidores públicos, a criminalização dos movimentos sociais, a perda dos direitos trabalhistas e sociais e a precarização do trabalho em geral. Os responsáveis pela política econômica desse governo seriam os banqueiros, que defendem a independência do Banco Central e não simplesmente a sua autonomia. Os reacionários e direitistas e mesmo muitos fascistas, encontram-se naquele campo do Aécio.

Nós temos lado. E fizemos nossa escolha. Por todos esses e outros motivos é que jamais votaríamos em uma pessoa como Aécio.

* Sociólogo, Professor, Escritor e Arabista. Colunista da Revista Sociologia da Editora Escala e do Vermelho. Foi professor de Sociologia e Ciência Política da UNIMEP. Foi presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo (2007-2010) e da Federação Nacional dos Sociólogos (1996-2002).