Carreira de Aécio sempre esteve vinculada às famílias tradicionais

O tucano Aécio Neves defende a meritocracia como se tivesse se valido desse critério para se dar bem na vida. Na verdade, sua atuação profissional e política sempre esteve vinculada à influência da família de políticos tradicionais de Minas Gerais, no melhor estilo “coronelismo pós-moderno”.

Por Najla Passos*, na Carta Maior

Aécio mamata

Se sua carreira política deslanchou devido ao apoio do avô, o ex-presidente Tancredo Neves (PMDB). Foi seu pai, o ex-deputado Aécio Ferreira da Cunha (PDS-MG), quem lhe garantiu acesso ao primeiro emprego, aos 19 anos. E com a vantagem dele nem precisar comparecer ao local de trabalho para receber, no final do mês, o salário de Cr$ 8,4 mil (cruzeiros).

O salário, àquela época, equivalia a um total de 2,8 salários mínimos. Hoje, portanto, significaria algo em torno de R$ 2.030, tomando como base o mesmo salário mínimo. Pela tabela remuneratória atual da Câmara, o salário de um secretário parlamentar varia de R$ 1.690 a R$ 12.940.

E Aécio, mesmo do Rio de Janeiro, onde residia desde os 10 anos de idade, recebeu a remuneração por 3 anos e 3 meses, até pedir exoneração em 2/1/1980, o que contabiliza algo em torno de R$ 85 mil, ainda tomando como base o salário-mínimo, e descontando-se gratificações, proporcional de férias e outros direitos trabalhistas que não o 13º.

Filiado primeiro à Arena e depois ao partido que a sucedeu, o PDS Arena, Aécio pai fez sua carreira política ao lado dos que apoiaram a ditadura. E foi justamente quando os militares ainda comandavam o país, em 1980, que nomeou Aécio filho para trabalhar em seu gabinete, em Brasília.

Em uma época que não existia internet, telefone celular e fax, o hoje presidenciável Aécio laborava para um deputado mineiro, que cumpria mandato em Brasília, enquanto ele próprio residia no Rio de Janeiro.

Em 1981, Aécio Neves foi convidado pelo avô Tancredo Neves para trabalhar na sua campanha eleitoral para o governo de Minas. Ele aceitou prontamente esta função, conforme a biografia que consta no site oficial de sua campanha.

Nesta época, Aécio ainda recebia o salário mensal da Câmara dos deputados, como comissionado do gabinete do pai. Em 1983, passou a ocupar o cargo de secretário particular do avô. Foi quando deixou a boquinha na Câmara Federal.

Para o PSDB, a incompatibilidade geográfica entre residência, base eleitoral do representado e local de trabalho é mera formalidade.

“Ele cuidava da agenda do deputado Aécio Cunha. Não havia nenhuma irregularidade no fato de ele estudar no Rio de Janeiro e trabalhar para o gabinete. Apenas com a edição do Ato da Mesa número 58, de 2010, os ocupantes de cargos na Câmara passaram a ter que atuar obrigatoriamente em Brasília ou no Estado de representação do deputado”, diz a Nota à Imprensa divulgada pelo partido.

*Jornalista, mestre em Linguagens, repórter da Carta Maior
Título original: CC do pai em Brasília, Aécio recebeu durante mais de 3 anos vivendo no RJ