Sem proposta, Marina apresenta um apagão em debate sobre banda larga

Apesar de afirmar ser a única candidata a ter proposta, Marina Silva (PSB) se esquivou e se comprometeu apenas em questões genéricas como a ampliação do acesso e democratização da internet no Brasil, durante a mesa de debate Diálogos Conectados, realizada nesta segunda-feira (22), no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo.

Marina Silva banda larga - Vagner Campos

O evento é organizado por entidades que integram a campanha “Banda Larga é um Direito Seu”, entre as quais o Intervozes, o Proteste e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Marina foi a segunda presidenciável a participar. A primeira foi a candidata à reeleição Dilma Rousseff.

Marina se comprometeu com a universalização da banda larga no país, o reconhecimento desta como um serviço essencial para a população e a neutralidade na rede, mas não disse como nem quanto se propõe a fazer.

Na maioria das questões, a candidata do PSB não quis ou não soube esclarecer como seriam efetivadas as propostas, caso seja eleita. “Para nós, o acesso à internet por meio da banda larga para todos os cidadãos brasileiros se constitui em um serviço essencial no país. Entendemos que é fundamental estender o acesso para toda a população, reconhecendo os aparelhos e as redes de telefonia celular como os principais aliados no processo de inclusão digital e democratização dos serviços públicos”, disse Marina.

Culpa dos técnicos

Como seu programa tem um verdadeiro apagão nessa questão, em diversos momentos, a candidata fugiu das perguntas ou foi pouco objetiva nas respostas. A certa altura, a candidata alegou que os técnicos da área na campanha pessebista estavam discutindo os temas levantados pelos debatedores para os quais não apresentou respostas.

Contudo, mais tarde, ela admitiu: “Nós não fizemos essa discussão com a profundidade que vocês estão colocando”.

Sem proposta, a candidata usou o tempo para criticar os adversários na disputa eleitoral dizendo que a política depende de uma melhora na gestão pública, pois a atual disse estar muito “aquém dos meios modernos que possibilitam transparência e visibilidade”.

Especialistas avaliam

Na avaliação dos especialistas que participaram da conversa com Marina, as respostas da candidata foram imprecisas e genéricas na maioria dos casos.

“De um modo geral, as respostas foram bastante vagas. Como a candidata disse, está em construção um [futuro] governo dela e ela não conseguiu aprofundar muito nenhuma das questões que foram feitas. A marca do debate foi de certa indefinição”, analisou Renata Mielle, do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.

Para a pesquisadora, a candidata Dilma Rousseff mostrou mais conhecimento de causa, embora ressalte que é preciso ter em consideração que a petista é atual governante do país e, portanto, teria o domínio de determinadas questões que Marina não tem. “No entanto, eu esperava um pouco mais da candidata Marina no que diz respeito a pelo menos responder algumas questões que estão, inclusive, no programa de governo dela”, enfatizou, citando o caso de extensão da internet por meio de telefonia celular.

“Isso me parece um desconhecimento muito grande da realidade da telefonia celular no Brasil. Como você pretende universalizar a banda larga com um serviço que tem tamanha precariedade e cujos preços das tarifas são os mais altos do mundo?”, indagou Mielle.

Sem compromisso

A advogada Flávia Lefèvre, da Proteste, lembrou que o programa de governo de Marina Silva não faz nenhuma menção, com relação a universalização, de mecanismos já existentes à disposição da sociedade, como as redes públicas e a Telebrás, que está no PNBL como um vetor importante para promover a universalização da banda larga.

“E esse é um assunto fundamental, como ela mesmo reconheceu aqui, para o desenvolvimento da cidadania, da democracia. Entretanto, apesar disso tudo, ela também não deixou claro como é que esses elementos fundamentais dentro da campanha seriam aproveitados”, disse a advogada, que não percebeu em nenhuma das duas candidatas sabatinadas, Dilma e Marina, a possibilidade de compromisso a curto e médio prazos com a universalização da banda larga.

“Dar volumosos recursos públicos à rede privada, nós somos contra, justamente contra isso que nossa campanha se opõe.”, complementou.

O professor Sergio Amadeu da Silveira, da Universidade Federal do ABC (UFABC), avaliou que faltou uma resposta contundente contra as patentes de softwares no Brasil. “Eu fiquei muito preocupado, porque esperava um compromisso claro contra as patentes, uma vez que, se a lei permitir a patente, não haverá escolha para ninguém. E essa é uma questão para se posicionar”, frisou.

Durante o debate, Marina Silva considerou essa questão como uma “discussão complexa” que será aprofundada e precisa encontrar um caminho para que se possa preservar a coexistência entre dois sistemas que os especialistas classificam como "antagônicos."

Apesar das incertezas e da falta de posição da Marina, os especialistas destacaram que a candidata do PSB abriu uma “ponte de diálogo”, assim como fez Dilma Rousseff, com a sociedade civil e os movimentos sociais.

“São palavras, mas que, em um debate sobre políticas públicas, fazem a diferença. Para nós como sociedade civil e movimento social é importante estar aqui e, se eleita, a gente cobra políticas efetivas com o compromisso de entendimento”, considerou Pedro Ekman, do coletivo Intervozes.

Fonte: Rede Brasil Atual