Aécio trai e diz que “jamais” prometeu fim do fator previdenciário

Em entrevista ao Bom Dia Brasil, nesta terça-feira (23), o candidato tucano disse que seu plano de governo não é escrito a lápis, mas passou uma borracha na promessa feita a sindicalistas na semana passada de pôr fim ao fator previdenciário.

Por Dayane Santos, da Redação do Portal Vermelho

Site PSDB fator previdenciário - Reprodução

Dando sequência à sabatina com os candidatos presidenciáveis, o jornal Bom Dia Brasil entrevistou nesta terça-feira (23) o tucano Aécio Neves (PSDB). Na segunda-feira (22), o programa entrevistou a candidata à reeleição Dilma Rousseff.

Aécio disse que o governo Dilma “afugentou” os investimentos privados nos últimos anos, pois “demonizou” ações como as parcerias público-privadas (PPP), concessões e as privatizações, que, segundo ele, caso seja eleito, voltariam com força total no seu governo.

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Disse ainda que vai divulgar o seu plano de governo, que está sendo preparado por vários “notáveis da economia” ligados aos tucanos, e alfinetou a candidata Marina Silva (PSB): “Tenho dito: [o meu] não será um programa de governo feito a lápis, para que se passe uma borracha”.

Fazendo valer a premissa de que o que Aécio e Marina dizem não se escreve, o candidato passou uma borracha no compromisso assumido na semana passada com lideranças sindicais ligadas à Força Sindical de pôr fim ao fator previdenciário. Ele disse que “jamais” se comprometeu com o fim do fator e que extingui-lo sem colocar outro no lugar seria uma “leviandade”.

“Nem eu nem você estamos sendo levianos, mas essa afirmação não existe. Eu não disse que vou acabar com o fator previdenciário. Eu me reuni com as centrais sindicais e meu compromisso é público. Assumi o compromisso de discutirmos uma alternativa ao longo do tempo ao fator previdenciário. O que eles querem é a verdade, um presidente que se senta à mesa e discuta alternativas e caminhos. O que eu assumi foi buscar caminhos para que o impacto do fator possa ser minorado para os aposentados. Acabar com o fator previdenciário sem colocar algo no lugar seria uma leviandade. Jamais isso foi dito”, disse Aécio.

Os fatos atropelam o candidato tucano. “Aécio vai acabar com o fator previdenciário” é a manchete do site do PSDB em matéria publicada dia 19 de setembro, após encontro do tucano com lideranças sindicais. O candidato dizia ter firmado um acordo com os sindicalistas para encontrar caminhos para acabar com o fator, criado na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tinha na época Aécio como líder do governo no Congresso Nacional. O fator previdenciário reduz em até 40% o valor da aposentadoria, além de prolongar o tempo de trabalho e contribuição.

Sem proposta de governo

Como tem sido recorrente, Aécio criticou o governo Dilma, mas sem apresentar proposta focando em sua “previsibilidade” como garantia de solução para os desafios do Brasil. Mas nem a bancada de jornalistas da Globo, formada por Miriam Leitão, Chico Pinheiro e Ana Paula Araújo, ele conseguiu convencer.

Apesar da insistência dos jornalistas, Aécio não conseguiu responder quais medidas tomará para o que chama de “baixo crescimento”. A exceção ficou por conta da antecipada nomeação de seu ministro da Fazenda, Armínio Fraga, que presidiu o Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso.

“Olha, fiz algo ousado: sinalizei quem será o ministro da Fazenda para apontar na direção de política fiscal absolutamente transparente, o oposto do que estamos vivendo. É previsibilidade, sim. Quando você fala de previsibilidade, quero dizer que não farei um governo de improviso, um governo de choque, de planos mirabolantes”, se esforçou Aécio para argumentar.

Fraga: credenciado pelos especuladores

Armínio Fraga é uma espécie de credencial de Aécio ao sistema financeiro internacional. É a garantia de que, apesar de não ter plano de governo para o Brasil, tem um plano de governo para os especuladores internacionais. Isso porque Fraga tem uma trajetória de serviços prestados aos especuladores, chegando a ser diretor-gerente da Soros Fund Management por seis anos. Essa credencial o levou direto para a presidência do Banco Central no governo FHC.

Armínio Fraga, a garantia de solução de Aécio para a economia, foi responsável pela devastadora política econômica do segundo mandato de FHC, que em 2002 apresentava crescimento baixo, dívida alta, reservas baixas, meta de inflação descumprida e um dólar que se aproximava de quatro reais.

Diante do grau elevado de abstração de Aécio, Miriam Leitão a certa altura da entrevista soltou: “Candidato, está pedindo que eu acredite no senhor pela fé e não tem um programa para apresentar”.

Aécio respondeu juntando as mãos quase em desespero: “Nós apresentamos as diretrizes que são a base daquilo que nós sempre fizemos. O nosso programa não contradiz a nossa história”.

A história que Aécio se refere foram os oito anos de governo FHC marcados pela quebradeira da indústria, desemprego, arrocho salarial e perda de direitos, além da dependência econômica junto ao FMI.