Comissão concede anistia a indígenas vítimas da ditadura

Em uma decisão inédita, a Comissão da Anistia pediu desculpas formais, em nome do Estado brasileiro, a um grupo de índios da etnia aikewara, conhecidos como suruís, que sofreram violências pelo Exército durante as operações de combate à Guerrilha do Araguaia no período da ditadura militar no Brasil. Forçados a servirem de apoio nas operações de perseguição, 14 pedidos foram aceitos. O ato ocorrreu na última sexta-feira (19).

Até recentemente os suruís carregavam o estigma de colaboracionistas do Exército. Teriam servido espontaneamente como guias dos militares na caça aos guerrilheiros instalados nas matas às margens do Rio Araguaia, no sul do Pará – região onde o PCdoB montou movimento de resistência armada à ditadura militar, na primeira metade da década de 1970.

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Diante da Comissão da Anistia, os índios contaram que foram forçados a trabalhar durante dois anos como guias e submetidos a maus tratos, humilhações e privações. Afirmaram ainda que foram obrigados a carregar cadáveres e a segurar corpos de guerrilheiros enquanto eles eram decapitados por soldados ou moradores locais.

"Estado de sítio" 

Para o presidente da comissão, Paulo Abrão, a decisão abre uma nova página sobre a história da ditadura e a guerrilha. "Com o pedido formal de desculpas do Estado brasileiro aos índios pelos sofrimentos que enfrentaram, a história da ditadura no Brasil ganha um novo complemento", disse ele ao Estado.

"O Exército implantou uma situação de estado de sítio na região, no qual os direitos dos cidadãos que viviam ali foram violados. Nós já havíamos tratado do caso dos camponeses que sofreram com os atos de exceção. Faltava reconhecer que os índios também foram vítimas", concluiu Abrão.

Segundo os relatos apresentados durante a sessão de julgamento, os suruís, foram tratados como prisioneiros de guerra, em situação análoga à escravidão. A coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Bone Guajajara, classificou a decisão como histórica.

Segue abaixo reportagem da NBR sobre o tema:

Fonte: O Estado de S.Paulo e NBR