Crônica: Ternura maranhense – Um dia qualquer

O sol entrou pela fresta da casa e ele acordou; lá de fora vinha o barulho forte do vento contra as árvores e da cozinha o cheio do café. Depois de uma boa espreguiçada ele se levantou e saiu do quarto. O céu estava azul sem nenhuma nuvem; o sol brilhava intensamente, os galhos das árvores dançavam conduzidos pelos ventos e as galinhas andavam de um lado para o outro no quintal comendo os grãos que sua mãe lhes atirava.

Por Raimundo Sales Freire, para o Portal Vermelho

Árvore de Babaçu - Reprodução

Depois de uma rápida conversa com a mãe, ele se sentou à mesa e comeu o delicioso cuscuz de arroz com café e leite.

Saboreou cada bocado e quando estava satisfeito se levantou, pegou a baladeira e foi para a casa do seu melhor amigo. Faziam aquilo todo dia – passarinhar era divertido (apesar de nunca ter matado nenhuma ave) e possibilitava caminhar pela mata naquela sombra fresca, colher castanhas de caju (que depois eram devidamente assadas ou então usadas para brincar, já que nem todos possuíam petecas), comer mangas, goiabas e correr um pouco. Ah, como aquilo era bom…

Quando o sol já estava subindo ele deixou a floresta com seu amigo e voltou para casa. Não havia televisão ou nada que se pudesse fazer. A esta hora suas irmãs e sua mãe estavam cuidando da casa e ele, como só tinha sete anos, não fazia nada – por isso pegou seus livrinhos e foi para sua pituruna. Lá, se sentou em seu galho, que por obra da natureza permitia que se escorasse como em uma cadeira e começou a ler aquelas fábulas infantis enquanto sentia o doce aromas das flores e ouvia o som das pipiras.

A hora do almoço passou e ele, junto com sua mãe e suas irmãs, foi para o local onde ficavam os cocos, a uns quarenta e cinco minutos de caminhada. Era em cima de uma serra, onde havia várias palmeiras e ali o vento era muito forte, mas era tão boa a sensação de liberdade que ele proporcionava… Todos se sentaram com seus machados em volta dos cocos e começaram a quebrá-los. Ele quebrava apenas por diversão, sua mãe não o obrigava, mas era tão bom estar junto de suas irmãs; durante todo o tempo, riam. Às duas e meia, quando terminavam, ele havia conseguido quebrar apenas um litro, suas irmãs conseguiam cerca de dez. Aqueles cocos seriam torrados, pisados e tirado o óleo, aquele óleo seria usado na cozinha e para a fabricação de sabão, um processo chatinho para um menino de sete anos, tinha que misturar a potassa com água e depois com o óleo e então mexer, mexer, mexer… até dar o ponto e então era colocado em uma bacia…

A família chegou em casa pouco mais que três horas e depois de um bom banho eles lancharam e então o resto do dia era de brincadeira. No final de semana seu pai viria e então ele o carregaria na garupa da bicicleta… A vida não podia ser melhor!