Fátima Teles: Sustentabilidade e direitos humanos

O Planeta Terra está envelhecido, cansado, desgastado e por isso clama por socorro. Ele não quer rejuvenescer, pois, sabe que não pode. Porém, quer ser preservado para manter-se vivo, gerando qualidade para todos os seres que nele habitam.

Por Fátima Teles*, especial para o Portal Vermelho

Sustentabilidade - Reprodução

A Carta da Terra, documento iluminado, concluído no ano 2000, com muita inspiração, por vários povos de culturas variadas, traz em seu bojo o chamamento para a responsabilidade da humanidade, diante da Terra mãe. Logo no seu preâmbulo, diz :

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras gerações. (BOFF,2012,p.167-168).


Os desequilíbrios ambientais aliados aos desequilíbrios de ordem moral, causados pelo homem, está ameaçando a vida de todos os seres que habitam a Terra. A lei de ação e reação que rege o universo vem ao longo dos séculos tentando despertar a humanidade para a sua responsabilidade social, vem tentando acordar o homem para que haja a compreensão de que tudo o que se planta, colhe. Tudo o que se faz, recebe de volta. O equilíbrio da justiça universal está na causa e efeito, de modo que a natureza responde sempre como é tratada.

O que são os tsunamis, os terremotos, as catástrofes geográficas, os maremotos, senão a grito de indignação de Gaia?

A situação atual se encontra social e ecologicamente, tão degradada que a continuidade da forma de habitar a Terra, de produzir, de distribuir e de consumir, desenvolvida nos últimos Séculos, não nos oferece condições de salvar a nossa civilização e talvez até a própria espécie humana; dai que imperiosamente se impõe um novo começo, com novos conceitos, novas visões, e novos sonhos, não excluídos os instrumentos científicos e técnicos indispensáveis; trata-se, sem mais nem menos, de refundar o pacto social entre os humanos e o pacto natural com a natureza e a mãe Terra.(BOFF,2012,p.15).


Está na hora de arrumar a casa. Gaia chora, grita, clama, revolta-se. Tudo o que nós precisamos para nossa sobrevivência, nós temos aqui na Terra. Os recursos naturais nos dão as condições para uma vida digna e de qualidade. O reino mineral nos fornece o seu bem maior, a água, fonte de alimento para a sobrevivência do corpo físico. O reino vegetal nos dá a alimentação, além dos remédios extraídos de suas plantas e flores. O reino animal tão útil, explorado e violentado ainda por nós, diante de nossa condição inferior espiritual, que necessita matar e alimentar-se de cadáver, para manter-se vivo. O homem, como a criação mais complexa de Deus, não age com sabedoria, mas com a inteligência ambiciosa e egoísta, acreditando que a natureza está a mercê de sua vontade, de seu suposto poder. A humanidade arrasta-se para sua falência moral, ameaçando a vida de sua própria espécie, pela devastação da natureza,, provocada pela sua ganância.

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, esgotamentos dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente e a diferença entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos tem aumentado e são causas de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases de segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas ,mas não inevitáveis.(BOFF,2012,p.168-169).


A desigualdade econômica e social do mundo é aviltante. As barreiras que separam ricos e pobres são altas, que não há possibilidade de ultrapassagem. Vivemos uma apartação social onde cada classe tem um lugar definido. Quem detém os meios de produção quer mais produção, para que o lucro seja cada vez maior e por isso explora mais também. A globalização na prática contribui para o aumento da desigualdade econômica e social e para o aumento da concentração de renda, uma vez que os países desenvolvidos estão aliados pelos mesmo interesses de crescimento e poder, econômico ou ideológico em detrimento dos países que ainda não se desenvolveram aos moldes do século 21, na corrida capitalista pelo desenvolvimento econômico em agravo ao desenvolvimento social.

Desenvolvemos a inteligência, descortinamos a ciência, mas falimos espiritualmente. Oprimimos o semelhante como se fôssemos superiores, numa ilusão de que os bens da Terra nos pertencem.

A sustentabilidade deve ser pensada numa perspectiva global, envolvendo todo o planeta, com equidade, fazendo que o bem de uma parte não se faça à custa do prejuízo da outra. Os custos e os benefícios devem ser proporcional e solidariamente repartidos. Não é possível garantir a sustentabilidade de uma porção do planeta deixando de elevar, na medida do possível, as outras partes ao mesmo nível ou próximo a ele.(BOFF,2012,p.17).
O mundo sustentável só será possível com a consciência coletiva, voltada para o bem-estar de toda a humanidade. Não devemos proclamar a felicidade quando sabemos que na África, as crianças acordam chorando, porque lhes falta aquilo que é básico para a sustentabilidade do corpo físico e desenvolvimento mental, que é a alimentação. Não podemos proclamar a paz, quando vemos países em guerra, praticando genocídios humanos. Não podemos proclamar a liberdade, quando vemos mulheres sendo oprimidas, violentadas. Quando vemos crianças e adolescentes sofrendo com o trabalho infantil, crianças e mulheres sendo vítimas de tráfico humano ou entregues à prostituição infantil. Não podemos proclamar a beleza da natureza quando vemos a sua degradação, feita por nós, pela humanidade, em atos de desumanidade.

Nossa desumanidade precisa se humanizar.

Vamos arrumar a casa! Gaia nos chama!

(*) Fátima Teles é Assistente Social e colaboradora do Portal Vermelho

Referências bibliográficas

BOFF, Leonardo. Carta da Terra in Sustentabilidade: O que é- O que não é. Petrópolis, RJ.Vozes,2012.p.167-183.

BOFF, Leonardo. Sustentabilidade : Questão de vida ou morte in Sustentabilidade: O que é- O que não é. Petrópolis, RJ.Vozes,2012.p.13-29..