Nivaldo Santana: São Paulo está na contramão das conquistas do Brasil

Na última sexta-feira (12), o secretário nacional Sindical do PCdoB e candidato a vice-governador de São Paulo, Nivaldo Santana, concedeu entrevista ao Portal Vermelho. O comunista toca em questões importantes a serem resolvidas no estado, como a crise hídrica e a lentidão da expansão metroviária. Segue abaixo a íntegra da entrevista.

Laís Gouveia, da redação do Vermelho

Nivaldo - MuriloTomaz

Nivaldo Santana é paulistano, filho de pais baianos que migraram para São Paulo no pau de arara, assim como tantos outros brasileiros, buscado uma vida melhor. Jovem, trabalhando na Sabesp, estudando na USP e militante político desde 1974, teve que deixar de estudar e priorizar a política no período do regime militar. Foi presidente distrital do extinto Movimento Democrático Brasileiro (MDB), atuou no Movimento contra a Carestia e em lutas políticas e populares.

Em 1980 ingressou nas fileiras do ainda clandestino PCdoB e foi eleito em 1988 presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema). Em 1988, ajudou na construção e foi membro nacional da Corrente Sindical Classista. Já em 1992 foi eleito primeiro-secretário da CUT São Paulo. O líder sindical foi eleito deputado estadual em 1994, exercendo três mandatos, sempre dando prioridade à luta em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras.


Nivaldo Santana, na inauguração da sede do Sintaema.

Em 2007, com a fundação da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), foi eleito vice-presidente da Central, cargo que ocupa até hoje. É membro do Comitê Central do PCdoB há mais de vinte anos, foi presidente do Partido na capital e no estado de São Paulo. Há três anos ocupa a Secretaria Sindical Nacional. Nivaldo também integra a Escola Nacional de Formação e o Conselho da Fundação Maurício Grabois.

Portal Vermelho: O Brasil avançou nesses últimos anos de governos progressistas. Em sua opinião, o estado de São Paulo acompanhou esse ciclo de mudanças?

Nivaldo Santana: temos no Brasil dois grandes projetos em disputa. Um foi derrotado nas eleições de 2002, encerrando um ciclo neoliberal, privatista, que promovia uma abertura desenfreada da economia, encabeçada por Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República nos anos 1990. Esse período não trouxe desenvolvimento econômico e muito menos justiça social. Em contrapartida, o outro projeto de país, que tem como marco a vitória de Lula há 13 anos, representa uma nova etapa política da vida brasileira que prevê uma ação protagonista do Estado, incrementando o desenvolvimento econômico, promovendo a justiça social, garantindo as liberdades democráticas, promovendo a integração latino-americana e a defesa da soberania do nosso país. Dentro desse contexto de bipolarização política, minha compreensão é que São Paulo ficou na contramão da história. O estado tem um PIB que representa quase um terço da economia do país. Assim São Paulo deveria ser líder para alavancar o crescimento econômico brasileiro, desenvolver políticas de distribuição de renda e valorização do trabalho. Mas em todas às áreas o governo enfrenta dificuldades. O estado perdeu o dinamismo, o elo da história, por isso o processo de renovação e de mudanças é a melhor opção para a população.


Nivaldo Santana, em seu mandato de deputado estadual, discursa na Alesp.

O PSDB então priorizou interesses partidários e prejudicou a chegada de programas nacionais no estado?

O PSDB e as elites possuem uma visão autossuficiente e arrogante de que São Paulo não precisa de parcerias nacionais. Essa postura excludente limitou o desenvolvimento de políticas de promoção social, a melhoria dos transportes e construção de moradias populares. A parceria dos municípios com a união é fundamental para reverter o estado de letargia atual e fazer com que o estado acompanhe os rumos nas conquistas que o país obteve nos últimos 12 anos e volte a se desenvolver.

Estamos passando por um sério problema com a questão da falta d’água no estado. A origem dessa crise é a má gestão da Sabesp ou de “São Pedro”?

A estiagem é um fator agravante, mas a causa dessa crise foi a falta de planejamento e de investimento por parte do governo. Como exemplo, em agosto de 2004 a Sabesp assinou um contrato com o Departamento de Água e Energia Élétrica (Daee), em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA), para renovar a outorga do Sistema Cantareira. Esse contrato, que completou 10 anos recentemente, tem alguns pré-requisitos, como a diminuição da dependência da Sabesp do Sistema Cantareira, a realização de obras para aumentar a captação de água em conjunto com o desenvolvimento de políticas do uso racional da água e o estímulo a uma cultura de não desperdício, pois o sistema de abastecimento, pelo seu envelhecimento e falta de manutenção, perde entre 35 a 40% de toda a água tratada, é necessário adotar a política do reuso da água não potável para a limpeza urbana, comercial e industrial. Ocorre que a estatal, sob a gestão do PSDB, priorizou suas ações para grupos privados, já que metade das ações da Sabesp é negociada na Bolsa de São Paulo e a outra na Bolsa de Nova York. Essas instituições impõem ações draconianas de governança corporativa, exigem lucros crescentes, distribuição de dividendos, gerando um conflito de interesses entre a preocupação da garantia do abastecimento de água para toda a população em prol do interesse da obtenção de lucros crescentes privados. É adequado que uma empresa estatal tenha um equilíbrio econômico financeiro, o que não é aceitável é um lucro dessa magnitude em detrimento de investimentos imprescindíveis para a regularidade no fornecimento de água.


Candidato a vice-governador, Nivaldo Santana em campanha, dialoga com a população.

Como reverter à crise do abastecimento d’água?

Para reverter essa situação é preciso reorientar as prioridades, realizar obras e serviços indispensáveis para o fornecimento de água para o consumo humano e atividades econômicas. Aponta nessa direção o programa “Água Dia e Noite”, que o nosso candidato, Alexandre Padilha, apresentou.

O projeto consiste em um conjunto de obras e serviços que garantem o abastecimento duradouro de água. São previstas obras emergenciais como a ampliação do volume da represa Taiaçupeba, no Sistema Alto Tietê, que beneficiará três milhões de moradores da Zona Leste de São Paulo, e a transposição do Rio Pequeno para o Rio Grande, no sistema Billings-Guarapiranga, que irá favorecer as cidades de Santo André, São Bernado do Campo, São Caetano e Diadema (ABCD). Somam-se a isso obras estruturantes que incluem a implantação do Sistema São Lourenço e intervenções para a bacia do Piracicaba/Capivari/Jundiaí (PCJ).

Outros pontos do programa são: investir, no mínimo, o dobro do que atualmente é empregado na redução de perdas de água nos sistemas de distribuição; pagar por serviços ambientais e remunerar municípios produtores de água; estimular as empresas para que adotem água de reuso e de captação da chuva em seus processos de produção; agir junto com os municípios para aumentar os índices de tratamento de esgoto; além da adoção de uma política de bônus para quem reduzir o consumo.


Nivaldo Santana e Alexandre Padilha saem às ruas em caminhada.

Hoje o paulistano convive com um colapso do transporte em todos os sentidos. Metrôs lotados, uma rede da CPTM sucateada e intermináveis congestionamentos. Qual o projeto da coligação para a mobilidade urbana?

Nesse mês de setembro o metrô esta comemorando 40 anos de existência. Dessas quatro décadas, quase metade foi sob a gestão do PSDB. Temos uma malha metroviária em torno de 70 km, é visível que o crescimento das linhas de metrô segue a passo de tartaruga e a demanda da população pelo serviço aumenta a cada dia. Regiões extremamente populosas como a Vila Brasilandia, Jardim Ângela, Taboão da Serra, ABC e Guarulhos precisam com urgência de novas estações de metrô. O governo precisa ser comprometido com os cidadãos e dar prioridade ao transporte sobre trilhos, pois é menos poluente, mais rápido e mais prático. Além disso, é preciso reverter a situação de sucateamento em que a CPTM se encontra.

Outra medida no sentido da mobilidade urbana é a criação do Bilhete Único Metropolitano, que vai proporcionar 25% de desconto imediato para quem utiliza trens urbanos intermunicipais na grande São Paulo e metrôs da sua região metropolitana, reduzindo os gastos da população com transporte público.

A Cidade do México iniciou a construção do seu metrô em um tempo semelhante que São Paulo e hoje possui mais de 300 km de linhas expandidas. Aqui na capital paulista atingimos cerca de 70 km. Esse resultado lento na expansão metroviária é consequência da má gestão do dinheiro público?

Os investimento insuficiente é o fator prioritário e a causa da lentidão da expansão do metrô foi a gestão temerária envolvendo a questão do cartel e o desvio de dinheiro, situação que caminha sob investigação. A não transparência no uso do dinheiro público demonstra que os tucanos gostam muito de falar em moralidade administrativa, mas quando os problemas atingem as suas gestões, ao invés de punir os responsáveis, eles adotam a velha política de esconder a poeira debaixo do tapete.

Vivemos uma situação caótica na área da saúde em São Paulo e o Alexandre Padilha é ex-ministro da Saúde. O que o senhor e o candidato a governador estão pensando a respeito de programas de políticas públicas de saúde a serem implementadas no estado?

Nossa proposta é ampliar a capacidade de atendimento à população, agilizar e humanizar as consultas, exames e todos os procedimentos hospitalares. Para isso é necessário fortalecer o SUS e promover a maior parceria dos municípios com a união. Além disso, o programa Mais Médicos, só no estado de São Paulo atende cerca de 10 milhões de pessoas que não possuem acesso ao profissional especializado. Em um patamar superior, vamos criar o programa Mais Médicos Especialidades, que consiste na valorização dos médicos da rede estadual, parceria com hospitais e clínicas privadas para ampliar vagas e o número de residências médicas para formar mais especialistas. Além disso, vamos garantir o Samu em 100% dos municípios. Quando ministro, Padilha aumentou a cobertura do Samu para 140 milhões de brasileiros.



O PCdoB é o partido mais antigo do país, com uma longa trajetória de lutas. Qual o diferencial que o militante comunista joga nesta campanha?

O PCdoB tem dado uma grande contribuição para a quarta vitória do povo e no estado de São Paulo na coligação PT-PCdoB. Na condição de candidato a vice-governador, considero que a indicação do Partido na chapa aumenta a representatividade política e social da chapa majoritária, pois incorpora trabalhadores, sindicalistas que dão uma dimensão social importante à nossa chapa e serve de elemento de mobilização nas diferentes áreas de atuação partidária. Todas as frentes estão em uma grande mobilização, seja o movimento sindical, feminista, de juventude, comunitário, negro. Todos estão nas ruas e nos comitês para a eleição dos nossos candidatos a deputados estaduais, federais, para eleger Alexandre Padilha governador e Dilma Rouseff presidenta do Brasil.