Programa estimula produção de alimento e energia no Nordeste 

A Embrapa vai desenvolver um programa com agricultores familiares do Nordeste brasileiro, que tem como objetivo a produção de macaúba em sistemas agroflorestais para gerar alimentos e matéria-prima para bioenergia. A iniciativa integra o Programa para Desenvolvimento de Cultivos Alternativos para Biocombustíveis do World Agroforestry Centre (Icraf), financiado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (IFAD) e o Governo da Índia.

Programa estimula produção de alimento e energia no Nordeste - Embrapa

O chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza, explicou que a macaúba é uma palmeira nativa do Brasil, encontrada em várias regiões, cujo fruto tem grande potencial de ser utilizado na produção de biodiesel, biocombustíveis de aviação e outros produtos. "A produtividade de óleo é próxima à do dendê", diz Souza.

Na assinatura do acordo com o Icraf, na semana passada, em Brasília (DF), o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, disse que a Empresa está feliz com a participação no projeto, especialmente porque envolve o estudo de uma cultura que compõe a biodiversidade brasileira. A macaúba será utilizada como componente de floresta das áreas que farão parte do projeto. Pinhão-manso e culturas de uso alimentar como amendoim, feijão e soja também devem entrar na composição.

Início no Piauí

Inicialmente, as ações serão desenvolvidas no município de Piracuruca, no Piauí, e envolverão três unidades da Embrapa – duas em Brasília e uma em Teresina -, além da Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Viçosa e a empresa Acrotech. Foi estabelecida também parceria com a Fazenda Tiracanga, onde será estabelecida uma área de demonstração para as 39 comunidades que devem participar do projeto.

O Programa do Icraf no qual está inserido o projeto para o Nordeste brasileiro foi lançado no ano passado e atua principalmente na África e na Ásia, procurando desenvolver sistemas agroflorestais sustentáveis para a produção integrada de alimentos e matérias-primas para biocombustíveis. Tem um cunho social forte, já que pretende beneficiar comunidades pobres, melhorando a qualidade de vida e a segurança alimentar.

Durante a reunião do comitê diretivo, na semana passada, o representante do IFAD, Shantanu Mathur, explicou porque a instituição está investindo na produção de matérias-primas para biocombustíveis. "Em quatro décadas trabalhando para a redução da pobreza, descobrimos que a produção de alimentos sozinha não é suficiente", afirmou.

Brasil, líder mundial

Outro ponto fundamental é tratar os biocombustíveis como negócio e estabelecer políticas públicas, lembra o diretor do Programa de Biocombustíveis do Icraf, Navin Sharma. Na opinião dele, foram esses dois fatores que fizeram do Brasil um dos líderes mundiais no tema. Sharma explica que o programa visa à obtenção de matérias-primas para biocombustíveis em sistemas agroflorestais que permitam a produção concomitante de alimentos.

Para o diretor, as mudanças climáticas foram aceleradas a partir da década de 1950, com as alterações no uso da terra e o aumento da queima de combustíveis em veículos, por conta da intensificação das atividades industriais. Os biocombustíveis são parte importante da solução para redução do impacto ambiental dos transportes, mas o cultivo de biomassa para gerá-los não pode agravar o problema do uso da terra.

O Icraf aposta em áreas com plantio de diferentes culturas, que atendam a múltiplos propósitos, como forma de promover benefícios ao meio ambiente, garantindo produção de alimentos e geração de renda, além de melhorar as condições de solo. Mas Sharma ressalta: bioenergia é subproduto desse processo. O bem-estar das populações é o objetivo principal.

Manoel Souza, que é membro do comitê diretivo, lembrou que a busca por fontes de energia mais sustentáveis abre oportunidade de renda para pequenos agricultores e suas famílias. Além do etanol e do biodiesel, uma das expectativas é o surgimento do mercado de biocombustíveis de aviação, já que a associação internacional das empresas de transporte aéreo (IATA, na sigla em inglês) se comprometeu a reduzir em 50% as emissões de gás carbônico até 2050.

Da Redação em Brasília
Com informações da Embrapa Agroenergia