Leci: Vamos combater o racismo com educação e políticas públicas

Dando sequência à série “Eleições PCdoB 2014”, o Portal Vermelho entrevista, nesta quinta-feira (28), a deputada estadual e candidata à reeleição em São Paulo, Leci Brandão. A comunista faz uma análise da conjuntura nacional e comenta os ataques racistas que vem sofrendo nas redes sociais.

Laís Gouveia, da Redação do Vermelho

Leci - Alesp

Leci Brandão afirma que os últimos tempos foram essenciais para as conquistas sociais. “Os 12 anos de governos progressistas foram fundamentais para o “povão”. Começamos a ter uma série de conquistas, como a criação das secretarias da Igualdade Racial, de Mulheres e a política para indígenas. Foram mapeadas todas as áreas quilombolas, levando direitos sociais para essa parcela antes esquecida, sem contar os avanços da inclusão na área da educação com o ProUni e a política de cotas”.

Retrocesso é a volta da miséria

“Essa parcela, que atualmente é denominada “classe C”, antigamente não tinha o que comer, onde morar. Hoje possui geladeira, alimento, filhos nas universidades, entre outras vitórias históricas para o povo. Esquecer os avanços é promover o retrocesso no Brasil. Para administrar o país é preciso muita sensibilidade, vontade política, consciência de direitos humanos, liberdade e cidadania”.

Segundo Leci, “o Lula contribuiu e muito para os avanços da inclusão social no país. Ele viveu a pobreza, tem o sindicalismo em sua veia, entende os anseios do povo, pois sentiu na pele as injustiças sociais. Dilma Rousseff está dando continuidade a este processo, por isso é importante a reeleição da presidenta”, afirma.

Reforma política: Mais mulheres nos espaços de poder

Para a deputada, a reforma política é peça chave para a democratização do parlamento. “Como resultado vamos conquistar o financiamento publico de campanha, para qualquer cidadão concorrer a um cargo público, pois não será necessário apoio de empresas e grandes montantes financeiros envolvidos. O percentual de candidaturas femininas e masculinas deve ser igualitário. Acabar com as mínimas participações das mulheres nos espaços de poder é algo urgente a ser conquistado”.

São Paulo precisa sair do salto alto

Para Leci, São Paulo é um estado que precisa andar com o pé no chão, sair do salto alto e resolver os problemas sociais. “A diferença de classe é gritante. Acontecem muitos casos de racismo, a população é segregada. O negro não pode ir a um local frequentado por pessoas de maior poder aquisitivo que já é tratado com preconceito e hostilidade, mesmo quando tem condições financeiras para isso. Vemos no estado uma elite muito forte e tradicional oriunda dos barões do café e que hoje detém as grandes indústrias. O governo de São Paulo, dirigido há quase 20 anos pelo PSDB é a representação dessa classe social. Encerrar esse ciclo é fundamental para o avanço do estado”.

Ataques racistas

Leci comenta sobre os ataques que vem sofrendo de alguns internautas, reflexo do preconceito e intolerância religiosa. “Devemos urgentemente enfrentar esse tipo de prática, com políticas públicas. As músicas que componho e minha atuação política, visam sempre à ação afirmativa para a população negra. É necessária uma maior inclusão das nossas crianças e jovens, construindo mais escolas e menos cadeias. A mulher negra necessita de alto estima. É preciso sentir orgulho da sua pele”.

“É muito importante respeitar todas as religiões, as pessoas não leem a Constituição, lá está escrito que nosso país é laico. Tenho amigos católicos, evangélicos, e não existe problema algum nisso. Qualquer tipo de intolerância deve ser prontamente combatida”.

Nesta quarta-feira (27), a Procuradoria Regional Eleitoral do Estado de São Paulo (PRE/SP) manifestou-se a favor de concessão de liminar para a retirada imediata de mensagens ofensivas à deputada Leci Brandão (PCdoB) no Facebook.

Música e política como instrumento de transformação

De origem humilde, nascida no bairro carioca de Madureira, criada em Vila Isabel e cidadã paulistana, Leci sempre pensou na música como instrumento de transformação social. Iniciou sua carreira em um emprego na universidade Gama Filho onde participou de festivais musicais e se inseriu no meio artístico.

“Quando comecei a cantar, não sabia que fazia música de protesto, as pessoas que comentavam. Penso que a luta sempre foi algo muito natural. Cantei na sede da UNE antes de ser incendiada pelos agentes da ditatura militar, no Rio de Janeiro. Participei das "Diretas Já", atuei no movimento de demarcação das terras indígenas, cantei no primeiro CD do Movimento Sem Terra (MST), ajudei na campanha contra a fome do Betinho, cantei no Carandiru, no presídio da Ilha Grande, pois acredito no processo de recuperação das pessoas”.

Em 2010, foi eleita deputada estadual de São Paulo pelo PCdoB e se tornou a segunda mulher negra a ocupar uma cadeira no parlamento paulista.

Como parlamentar, continua fiel às causas que sempre considerou importantes e pelas quais vem se dedicando ao longo da vida: igualdade racial, religiões de matrizes africanas, populações negras e indígenas, juventude, mulheres, segmento LGBTT e cidadania.

“Fui operária de fábrica, servente de escola entre tantas outras profissões. Hoje sou sambista e estou deputada representando os interesses do povo na Assembleia”, conclui Leci.