Presidenta Dilma defende reforma no futebol brasileiro

Em entrevista concedida à rede de televisão norte-americana CNN, um dia depois da derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo, a presidenta Dilma Rousseff disse que o futebol brasileiro precisa ser renovado e que o país não pode mais continuar exportando jogadores. Em contrapartida, o candidato da oposição, Aécio Neves, acusou o governo de “se apropriar” da Copa e foi rebatido pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

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Dilma falou também a respeito da discussão sobre o crescimento econômico do Brasil, as relações do país com os Estados Unidos depois das denúncias sobre espionagem, o combate à corrupção e sua experiência pessoal durante os anos da ditadura militar, que pontuaram o diálogo com a jornalista.
 
Confira trechos da entrevista: 
Copa do Mundo e a derrota da Seleção Brasileira
Nós brasileiros, e também todos os torcedores que aqui vieram, nós sabemos que foi uma Copa que transcorreu em paz, com muita alegria, com toda a infraestrutura funcionando. De fato, é muito triste que nós cheguemos nesse momento e tenhamos uma derrota, é muito triste. Agora, isso não elimina nem a luta anterior da Seleção, nem tudo o que foi feito e está sendo feito. Afinal, tem uma característica o futebol: ele é feito de vitórias e de derrotas. Ser capaz de superar a derrota, eu acho que é uma característica de uma grande Seleção e de um grande país.

Mas, a gente também tem de considerar uma coisa, sob todos os aspectos o Brasil fez uma Copa do Mundo que eu acredito que, de fato, foi uma das melhores Copas, e nós devemos isso, em grande parte, ao povo brasileiro, à sua capacidade de ter hospitalidade e de receber bem os torcedores do mundo, e eu espero – e tenho certeza – que todo o mundo vai reconhecer esse fato.
Reforma no futebol brasileiro

(…) quando eu disse que o futebol brasileiro tem de ser renovado, o que eu queria dizer com isso? Eu queria dizer que o Brasil não pode mais continuar exportando jogador. Exportar jogador significa não ter a maior atração para os estádios ficarem cheios. Qual é a maior atração que um país que ama o futebol como o nosso tem para ir num jogo de futebol? Ver os craques. Tem craques no Brasil que estão fora do país há muito tempo. Então, renovar o futebol brasileiro é perceber que um país, com essa paixão pelo futebol, tem todo o direito de ter seus jogadores aqui e não tê-los exportados.

Investimento nos estádios da Copa

Veja bem, nos estádios foram gastos R$ 8 bilhões de reais, mais ou menos US$ 4 bilhões de dólares, nos estados. Esse gasto dos estádios, ele foi financiado pelo governo. Nós gastamos, entre 2010 e 2013, com educação e saúde, nas três esferas de governo, R$ 1,7 trilhão, o que dá aproximadamente US$ 850 bilhões de dólares. Então comparar US$ 4 bilhões com US$ 850 bilhões é absolutamente desproporcional. Nós não gastamos… porque o resto dos gastos fica para o Brasil, não só para a Copa.

Crescimento econômico do país

O nosso crescimento ter desacelerado se deve à violenta crise que começa no mundo a partir de 2008. De 2008 até 2014, no mundo, em torno de 60 milhões de empregos foram encerrados, foram fechados. Nós no Brasil, conseguimos, mesmo assim, enfrentar essa crise mantendo um nível de emprego ainda alto. Nós criamos, nesse mesmo período, 11 milhões de empregos. De fato, o mundo passa hoje por um momento difícil. No nosso caso, nós temos feito um imenso esforço para manter as taxas de crescimento e um desses esforços diz respeito aos investimentos que fazemos em infraestrutura.

Espionagem

O que nós não aceitamos e continuamos não aceitando é o fato de que o governo brasileiro, empresas brasileiras e cidadãos brasileiros fossem espionados, porque isso atinge diretamente os direitos humanos brasileiros, principalmente o direito à privacidade e à liberdade de expressão. Então nós manifestamos essa questão para o governo Obama porque, no momento, o que nós dissemos a eles é que cada ato recíproco entre o Brasil e os Estados Unidos, que são grandes parceiros estratégicos, seria comprometido por revelações que nós não tínhamos controle, não sabíamos que existiam, e que queríamos duas coisas: uma garantia que não aconteceria mais e o fato de que alguém tinha de se responsabilizar e falar para nós que não aconteceria. Naquele momento o governo Obama estava em processo de equacionar esse problema… essa questão da espionagem internacional, e não tinha condições de responder para nós. Como não tinha condição de responder para nós, nós não tivemos nenhuma outra ação… por exemplo, eu ia fazer uma visita e não fiz por isso. Isso não implicou em nenhuma ruptura com o governo Obama. Implicou simplesmente em colocar as cartas na mesa e dizer “olha, isso é impossível”. Hoje eu acredito que eles deram vários passos.

Combate à corrupção

Eu defendo, e a minha vida toda demonstra isso, eu defendo tolerância zero com a corrupção, e isso não é só… não pode ser só uma fala presidencial. Tem de resultar em modificações institucionais. Nós criamos, no setor público federal, nós criamos um Portal da Transparência. Todos os gastos, todas as compras, todos os investimentos realizados pelo governo federal aparecem no Portal da internet em menos de 24 horas. Nós criamos a Controladoria-Geral da União e demos à Controladoria-Geral da União poder de investigar e de criar todos os mecanismos de imposição de melhores práticas dentro da administração. Muitas das ações de corrupção foram descobertas pela Controladoria-Geral da União. Nós demos integral autonomia para a Polícia Federal investigar crimes de corrupção. Noventa por cento do que aparece de corrupção no Brasil foi investigado pela Polícia Federal, que é um órgão do governo federal.

Tortura nos tempos da ditadura militar

Eu fui presa nos anos 70 e fiquei por três anos num presídio em São Paulo, que hoje está, inclusive, demolido. É uma experiência em que você aprende que é necessário duas coisas: resistir e… e você percebe que só você mesmo pode te derrotar. Não que seja fácil suportar a tortura, não é, e você só suporta a tortura se você se enganar, deliberadamente, dizendo: mais um pouco eu suporto, mais outro pouco eu suporto, e assim você vai indo, e vai indo, e vai indo. A tortura não pode te derrotar, a adversidade não pode te tirar o ânimo de viver e você não pode se contaminar pelo que o torturador acha de você.

(…) O pior era o choque elétrico. É a forma mais… é uma dor que anda. A dor praticada por alguém sobre outra pessoa é algo imperdoável, bárbaro, que quem faz isso tem uma perda de valores humanos, de tudo o que nós conquistamos ao sair das cavernas e nos elevarmos à condição de civilizados. A tortura é uma negação disso, é uma negação do outro. Talvez a pior forma de negação. Por isso nós não podemos aceitar, em lugar nenhum do mundo, a ocorrência de tortura, sob qualquer alegação. Eu nunca vi um processo de tortura não destruir a instituição que pratica, que pratica a tortura. Todos os processos de tortura, historicamente, destruíram quem praticou a tortura. É gravíssimo o Ocidente voltar atrás nessa questão.

Nós derrotamos, no Brasil, a estrutura que praticou a tortura, e foi a ditadura. Ao construir a democracia e construir com padrões que respeitam os direitos humanos… porque no Brasil nós temos, hoje, esse amor perdido pela democracia. Eu acho que isso foi o grande ganho.

Aécio se desmascara

O candidato neoliberal e conservador Aécio Neves, da coligação PSDB-DEM, voltou a demonstrar todo o seu oportunismo e a se desmascarar, ao revelar que torceu mesmo contra a Seleção e tripudiar sobre a derrota. O senador mineiro declarou nesta quinta-feira (10) que a presidenta Dilma Rousseff fez “uso político” da Copa e que o governo “pagará o preço”. O ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, rebateu dizendo que a fala de Aécio é “desprezível” e afirmou que quem acha que uma derrota da Seleção muda a eleição “vai se dar mal”.

Da Redação do Vermelho, com Blog do Planalto