Espírito de 1950 anima classificação uruguaia

Parecia mais um naufrágio, entre tantos que o Uruguai se acostumou a sofrer nas últimas 16 edições da Copa do Mundo. Desde o surpreendente título em 1950, no Brasil, os uruguaios ficaram fora de seis edições do Mundial e caíram na primeira fase em outras três. O país já tinha quase ficado de fora da Copa de 2014, conquistando a última vaga na repescagem. E jogar precisando da vitória contra a Itália, no encerramento do Grupo D, era o enredo de nova tragédia anunciada.

Não para os cerca de 100 torcedores da Celeste Olímpica que acompanharam a partida na Fan Fest do Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. Anabolizados pelo apoio de são-paulinos, com camisas de Pedro Rocha ou Lugano, chilenos, colombianos e até um inesperado boliviano, o grupo nunca deixou de acreditar. Mais numerosa e engrossada por palmeirenses, a torcida italiana se concentrava mais atrás.

No primeiro tempo, a Itália, que jogava pelo empate, pouco dava espaço para a criação das jogadas do Uruguai. Cavani, craque do PSG, da França, não conseguia concluir ao gol. Luis Suárez, artilheiro do último Campeonato Inglês, bastante marcado, pouco aparecia. Ainda assim foi de Luisito a melhor chance do primeiro tempo, mas ele perdeu cara a cara com o goleiro Buffon. Lodeiro ainda tentou no rebote. Sem sucesso, para a frustração de Facundo Perez. “O jogo está fechado. Uruguai e Itália sempre dá 0 a 0”, lamentava ele. “Mas para o Uruguai, nada é impossível”, acrescentava ele, que já tinha garantido o ingresso para as quartas-de-final do torneio, caso o Uruguai se classifique.

Expulsão

O segundo tempo veio no mesmo tom da primeira etapa. Com o duelo truncado no meio de campo, a Celeste pouco criava. A expulsão de Marchisio, por entrada violenta em Arévalo Ríos, deu novo ânimo aos uruguaios. “Eu sou Celeste! Eu sou Celeste! Celeste sou eu!”, entoava o grupo mais animado.

Caso passasse de fase, a Itália jogaria sem o meia e o atacante Balotelli, que já havia recebido o segundo cartão amarelo. Nenhum consolo para os uruguaios, que passaram a acreditar como nunca. “Vamos ganhar porque temos Suárez. Só ele salva”, garantia Diego Vizozo, torcedor do Peñarol, confiante na vitória.

"Voltaremos"

Apesar da vantagem numérica, o gol salvador demorou. E, de modo surpreendente foi marcado por um zagueiro. Godín, do campeão espanhol Atlético de Madri, de cabeça, deixou a pequena torcida uruguaia em polvorosa aos 36 do segundo tempo. “Voltaremos!Voltaremos! Voltaremos outra vez! Poderemos ser campeões, como da primeira vez!”, entoavam animados os uruguaios, abraçados até aos brasileiros, invocando o espírito do Maracanazo.

“Brasileiros, se preparem. Como em 1950, vamos ganhar no Maracanã. Vai ser o novo Maracanazo!”, provocava Vizozo, após a classificação garantida. A vitória sobre a Itália e a classificação em um difícil grupo em que outro ex-campeão mundial, a Inglaterra, também voltou mais rápido para casa, encheu de confiança os torcedores da pequena nação sul-americana. “Somos um milagre. Não dá para explicar. Temos só 3 milhões de habitantes, mas muitos craques, como o Brasil, e muita garra”, tentava definir Jorge Aldabalde, uruguaio que vive há três anos em São Paulo.

“Sempre me perguntam se vou torcer para o Uruguai ou o Brasil. Não tem como não torcer para o Uruguai e o Corinthians”, contou ele, que ainda viu a namorada, Fiorella Escobar, ser convocada ao palco e receber prêmios da organização do evento.

Fonte: Portal da Copa