Jorge Drexler troca tom reflexivo pelo dançante

Atento à escolha de variáveis rítmicas, timbres e texturas, o compositor e cantor uruguaio Jorge Abner Drexler Prada, médico formado em otorrinolaringologia, muda de rumo no décimo-segundo disco. Nascido em uma família de intelectuais de esquerda, sob a tumular ditadura uruguaia, radicado na Espanha desde os anos 1990, Drexler troca a reflexão de discos anteriores pelo estímulo dançarino, em Bailar en la Cueva.

Jorge Drexler - Reprodução

E vale da valsa circense, calçada por tuba, Todo Cae ("por mais engenhoso/ todo corpo viaja ao encontro de seu repouso") à salsa pontuada por pandeiro com um rap embutido (Universos Paralelos) e a cumbia, atapetada por acordeon (La luna de Rasquí). E ainda um híbrido entre o xote e o baião,Bolívia, onde ele celebra, com participação no vocal em espanhol de Caetano Veloso, o único país a acolher a seus parentes judeus fugidos do nazismo.

Autor da única música latina vencedora do Oscar de melhor canção original (Al Otro Lado del Río, da cinebiografia de Che Guevara, Diários de Motocicleta, de Walter Salles Jr.), Jorge Drexler concita o movimento de quadris sem promover o derretimento de neurônios.

Sacudida por sopros de pulso afro beat, Data Data mira na voracidade do atual patrimonialismo ("todos querem tudo/ tudo sempre é pouco/ busquemos o penúltimo atum nos sete mares"). A era dos caçadores de fofocas dardeja no xaxado estilizado La Plegaria del Paparazzo ("que o pulso não trema no último instante/ que o foco não perca o detalhe dos amantes").

Com seu canto confidente, da acidez ao lirismo, Drexler comanda um baile sem estridências ou espalhafato. A noite não é uma ciência exata, como reconhece em outra canção do disco.

Fonte: Carta Capital