Lembrando João Amazonas, no 12º aniversário da sua morte

Há exatos 12 anos, no dia 27 de maio, faleceu o camarada João Amazonas, uma irreparável perda para o Partido Comunista do Brasil, os trabalhadores e o povo brasileiro.

Por José Reinaldo Carvalho*

João Amazonas - Arquivo

Sobre o velho João, sua memória, vida e obra, temos dedicado textos e homenagens. Nunca é demais lembrar seu papel de formulador político e teórico, como ideólogo marxista-leninista, agitador, propagandista e organizador do Partido. João encabeçou o processo de refundação do Partido Comunista do Brasil, em 1962, quando atacado pela onda revisionista, liquidacionista e oportunista de direita. Como poucos, compreendia o papel da organização partidária na luta política e dedicou o melhor dos seus esforços para forjar o PCdoB como organização de vanguarda estruturada, ligada às massas e independente. Um vivo organismo de classe para a luta de classes.

Amazonas foi o ideólogo e o dirigente político da reorganização revolucionária do PCdoB. Sob sua direção, os comunistas atravessaram o período mais difícil da existência do Partido, a ditadura militar (1964-1985), na mais estrita clandestinidade.

Amazonas viveu intensamente e enfrentou o período contrarrevolucionário de liquidação do socialismo na URSS e países do Leste europeu, em fins dos anos 1980, começos da década de 1990. Ajudou o partido a extrair as lições daquela viragem histórica, que marcava a existência de profunda crise na teoria e na prática do movimento revolucionário e comunista. Comandou a autocrítica antidogmática, a partir do 8º Congresso (1992), sem cair no canto de sereia do oportunismo de direita nem do liquidacionismo.

O camarada João dirigiu a formulação de uma estratégia revolucionária, baseada nos princípios do marxismo-leninismo, e de uma tática ampla, combativa e flexível. Ensinou-nos que o partido deve enraizar-se entre as massas, inserido no curso político, enfrentar os grandes e pequenos embates políticos do cotidiano e acumular forças revolucionariamente.

João fazia uma análise implacável sobre as classes dominantes brasileiras. Dizia, na redação do Programa Socialista aprovado na Conferência Nacional de 1995 e ratificado no 9º Congresso (1997): “O desenvolvimento deformado da economia nacional, o atraso, a subordinação aos monopólios estrangeiros e, em consequência, a crise econômica, política e social cada vez mais profunda são o resultado inevitável da direção e do comando do país pelas classes dominantes conservadoras. Constituídas pelos grandes proprietários de terra, pelos grupos monopolistas da burguesia, pelos banqueiros e especuladores financeiros, pelos que dominam os meios de comunicação de massa, todos eles, em conjunto, são os responsáveis diretos pela grave situação que vive o país. Gradativamente, separam-se da nação e juntam-se aos opressores e espoliadores estrangeiros. As instituições que os representam tornaram-se obsoletas e inservíveis à condução normal da vida política. Elitizam sempre mais o poder, restringindo a atividade democrática das correntes progressistas. A modernização que apregoam não exclui, mas pressupõe, a manutenção do sistema dependente sobre o qual foi construído todo o arcabouço do seu domínio”.

Percebendo que a luta democrática e patriótica pelo desenvolvimento, a soberania nacional, em defesa da nação ameaçada pela voragem neoliberal, era no fundo um aspecto da luta de classes, inseparável da luta pelo socialismo na fase peculiar que o Brasil vivia, Amazonas era taxativo em suas conclusões acerca da evolução desse combate. No mesmo documento, o Programa Socialista, dizia: “Tais classes não podem mudar o quadro da situação do capitalismo dependente e deformado. Sob a direção da burguesia e de seus parceiros, o Brasil não tem possibilidade de construir uma economia própria, de alcançar o progresso político, social e cultural característicos de um país verdadeiramente independente. Na encruzilhada histórica em que se encontra o Brasil, somente o socialismo científico, tendo por base a classe operária, os trabalhadores da cidade e do campo, os setores progressistas da sociedade, pode abrir um novo caminho de independência, liberdade, progresso, cultura e bem-estar para o povo, um futuro promissor à nossa Pátria”.


João Amazonas e Lula durante o comício de 1º de Maio em 1989. / Foto: Arquivo Fundação Maurício Grabois
 
Amazonas tinha um agudo senso tático, fazia diuturnamente análise concreta da situação concreta. Por isso foi um dos pioneiros da candidatura de Lula em 1989, tendo-se destacado como um dos fundadores da Frente Brasil Popular.
 

Ao homenageá-lo na passagem do 12º aniversário da sua morte, lembro aqui um episódio histórico. O camarada João dizia que morreria em sua trincheira de luta e jamais abandonaria o posto de combate. Deixou a Presidência do PCdoB nos meses finais de 2001, tornando-se presidente de honra. Todos os dias, invariavelmente, cumpria sua rotina de trabalho de leituras, redação de artigos, reuniões de trabalho. Ausentou-se apenas três semanas antes da sua morte, quando a saúde lhe faltou em definitivo. Um dos seus últimos atos, poucas semanas antes de sua morte, foi receber uma delegação composta por Lula e Zé Dirceu, (presente!) na sede nacional do Partido, quando os dois dirigentes petistas foram pedir formalmente o apoio dos comunistas para a campanha vitoriosa que se iniciaria em seguida.

Evoco o fato para registrar que mesmo não tendo vivido para assistir ao triunfo das forças populares em 27 de outubro de 2002, o pensamento do João, seu empenho e sua lúcida orientação estiveram, sim, presentes. Como estarão na grande campanha do povo brasileiro, da qual os seus seguidores e herdeiros políticos participarão com desassombro, pela reeleição da presidenta Dilma Rousseff, com a quarta vitória do povo brasileiro.

*Secretário nacional de Comunicação do PCdoB e editor do Vermelho