Trabalho das parteiras foi debatido no Quintas Femininas 

A atuação das parteiras tradicionais em municípios distantes das áreas centrais do Brasil foi o tema de debate no projeto Quintas Femininas, nesta quinta-feira (8), no Senado. O objetivo é recolher sugestões dos participantes e encaminhá-las a projetos de lei que melhorem a atividade. A procuradora da Mulher do Senado, senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), considera a discussão fundamental. 

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A cada quinze dias, a Procuradoria da Mulher do Senado e a Coordenação da Bancada feminina da Câmara se reúnem para debater assuntos de interesse da mulher. O encontro dessa semana foi sobre o Dia Internacional das Parteiras Tradicionais. A data é comemorada em 5 de Maio, e foi instituída em 1991 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que vê nessa prática uma forma eficiente de reduzir a mortalidade e melhorar a vida da mãe e do bebê.

No país, são realizados anualmente pelo menos 38 mil partos domiciliares, sendo que a maioria dos casos é assistida por parteiras tradicionais. A maior incidência ocorre em áreas afastadas nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste.

Estima-se que existam 60 mil parteiras no Brasil, principalmente nas comunidades mais distantes dos centros médicos e também nas periferias dos centros urbanos, e essas mulheres enfrentam inúmeras dificuldades para exercer a tarefa.

O projeto de lei que regulamenta a atividade das parteiras tradicionais está sendo analisado na Câmara, mas foi rejeitado na Comissão de Seguridade Social e Família. A deputada Janete Capiberibe (PSB-AP) garantiu que vai trabalhar pela aprovação da matéria, que, segundo ela, enfrenta resistência no Congresso.

“Precisamos reconhecer a parteira como trabalhadora com direitos como qualquer outro trabalhador. Vou continuar lutando, apesar da resistência enorme no Congresso Nacional, pela a regulamentação da atividade”, afirmou a deputada.

De geração em geração

Maria Luiza Dias, parteira no Amapá, começou a aprender o ofício com 19 anos, ajudando sua avó e sua mãe, que também eram parteiras. Trinta anos depois, ela conta que já realizou 221 partos e diz que só de apalpar a barriga, já consegue identificar se a mulher está grávida e com quantos meses de gestação.

“Muitas vezes o próprio marido não sabe que ela está grávida. Mas ela vem até mim contar que parou de menstruar e que está sentindo uns enjoos. E quer confirmar se está grávida. Fazemos a apalpagem e dizemos se está com dois, três meses.”

Para a Professora da Universidade de Brasília (UnB), Silvéria Santos (foto), é preciso respeitar o conhecimento da arte de partejar, que passa de geração em geração. Ela enfatiza que muitos conhecimentos médicos, reconhecidos pela ciência, foram descobertos pelas parteiras.

“Todo conhecimento que se tem em Ginecologia e Obstetrícia começou com a atuação das parteiras, porque eram elas que adentravam os lares, adentravam a intimidade, iam aos corpos das mulheres para conhecer, para identificar, para dar nome, para observar os fenômenos e a fisiologia do corpo das mulheres. Então a gente precisa louvar e tirar essas mulheres do anonimato.”

Parto humanizado

A servidora pública Luciana Rodovalho optou pelo parto humanizado e apoia o trabalho das parteiras. Ela deu a luz à Helena em casa, no quarto da criança, dentro de uma piscina improvisada.

“Foi o momento mais feliz da minha vida. Nós fomos respeitadas. Minha filha nasceu e veio para os meus braços, mamou logo. O cordão umbilical só foi clampeado depois que parou de pulsar, o bebê não recebeu aquela luz forte no rostinho e nem precisou passar por procedimentos desnecessários, como pingar colírios agressivos no olho ou apanhar no bumbum.”

A jornalista Vanessa Oliveira, que é mãe de Javier, também escolheu o parto humanizado, porém realizado no hospital. Ela diz que na hora de dar a luz, foi induzida pelos médicos a abandonar a opção de parto normal. Tempos depois, Vanessa descobriu que tinha sido enganada pelo obstetra.

Ela acredita que Javier teve problemas de saúde em decorrência da cesariana. “Ele acabou tendo várias complicações graças a uma cesariana que não era pra ter sido feita. Eu já tinha sido informada sobre o parto humanizado, também li bastante coisa durante a gravidez, mas quando chega na hora H, se você não tem uma equipe que de fato é humanizada, eles podem utilizar qualquer argumento para simplesmente facilitar a vida deles.”

Da Redação em Brasília
Com agências