Marcos Verlaine: A política é parte da solução, não do problema 

Os grandes e complexos problemas sociais nacionais e locais só serão resolvidos por meio da política e da participação social. Isto é, não há fórmulas mágicas e salvacionistas.

Por Marcos Verlaine*

Pesquisas de intenção de voto e de avaliação do governo, além de opinião de especialistas e analistas políticos detectam que na eleição de cinco de outubro próximo poderá haver uma enxurrada de votos brancos e nulos. Fruto do ceticismo, que campeia não só em relação ao processo político-eleitoral em curso, mas também em relação à vida de parcela do eleitor brasileiro.

Na última pesquisa de intenção de voto realizada pelo Ibope e divulgada na última quinta-feira (17), os votos brancos e nulos aparecem em segundo lugar, com 24%, logo depois de Dilma, com 37%.

Some-se a essa expectativa negativa, a possibilidade, também, de grande percentual de abstenção, que, segundo o Dicionário inFormal, é “deixar, intencionalmente, de exercer um direito ou uma função.” Assim, aguarda-se uma “eleição do ceticismo”, como descreve em artigo a jornalista Tereza Cruvinel, no Correio Braziliense deste último domingo (20).

No artigo, Cruvinel chama a atenção para dois aspectos das pesquisas de intenção de votos divulgadas recentemente.

Um, são as quedas da presidente Dilma. Na pesquisa Datafolha divulgada no dia 5, Dilma, candidata à reeleição, caiu de 44% em fevereiro para 38%. Na pesquisa Ibope, do último dia 17, a presidente caiu de 40% para 37%.

O outro aspecto que preocupa e que a esta altura da campanha eleitoral já deveria ter sido alterado (estancado), é o alto índice (esperado) de votos brancos e nulos.

No pleito de 2010, a porcentagem de votos em branco também cresceu em comparação com as eleições de 2006, mas em nada se compara com a expectativa para o pleito de 2014. Foram 3,13% em 2010 (3,4 milhões), contra 2,73% em 2006 e 3,03% em 2002. Já os votos nulos vêm caindo nas últimas três eleições: 7,35% em 2002, 5,68% em 2006 e 5,51% em 2010 (6,1 milhões).

Para efeito de comparação, no pleito de 2010, 18,12% dos eleitores não votaram, o que dá 24,6 milhões de votos não validados contra 111,1 milhões computados. Em 2002, a abstenção foi de 17,74% e em 2006 de 16,75%. Agora, para o pleito de 2014 aguarda-se um índice avassalador de não comparecimento às urnas.

Três problemas imbricados

Esse fenômeno – abstenções, votos brancos e nulos – cuja soma é conhecida na Ciência Política como Índice de Alienação Eleitoral (IAE), pode estar relacionado a três fatores que têm atuado juntos, não só na conjuntura política, mas como fatores históricos que têm ajudado a “queimar” a política, os partidos e, por conseguinte, a participação popular como meio para alterar a realidade.

O primeiro desses fatores é a corrupção, sobretudo dos agentes públicos-políticos, que no Brasil ganhou uma dimensão para além de sua realidade, já que tem se procurado criar mecanismos não só para combatê-la, mas também coibi-la.

Os mecanismos de controle têm se aprimorado no País, leis têm sido aprovadas no Congresso, a fim de combatê-la e também de punir os agentes públicos-políticos que se desviam ética e moralmente.

A pergunta é: por que temos a impressão que nesse quesito o País piorou, quando, efetivamente, melhorou?

Aposto em duas variáveis para responder a esta indagação. Há muitas outras, mas avalio que estas duas que cito são as mais relevantes no momento histórico.

Uma é a desinformação, que por si só já é ruim, mas agregada à manipulação dos meios de comunicação torna o problema ainda mais devastador do que já o é propriamente.

A outra, segundo dos três fatores, é a interpretação editorializada de parte expressiva da velha mídia, que deseduca politicamente a população, sobretudo aquela menos abastada. São vários exemplos, cotidianos e históricos. O noticiário diário eletrônico – rádio e TV – e impresso, as novelas, os filmes, enfim, tudo serve à manipulação a partir dos interesses políticos e até ideológicos dos donos dos meios.

O atual estágio da velha mídia, com suas posições de classe, agrega os setores mais conservadores e abastados da população e procura desagregar os setores mais populares, numa clara intenção de definir a seu favor quem comandará politicamente o País pelos próximos quatro anos.

Manipulação e mentira

Lembram-se de dezembro de 2013? Quando os jornalões manchetearam que o comércio teria tido o pior resultado em 11 anos. Mas se as vendas de 2013 foram maiores do que em 2012, como considerar que foi o pior resultado em 11 anos? Tratou-se de manipulação para passar a ideia de crise. Este é só um exemplo.

O pensamento conservador propagado diuturnamente pela velha mídia estimula o individualismo, a “carreira solo”, o cada um por si, ao mesmo tempo em que desestimula a luta social coletiva como meio comum para se combater as mazelas do País e das elites, sobretudo, a econômica. Contribuindo assim para um processo incivilizatório crescente.

O terceiro fator é a alienação decorrente destes dois fatores anteriores. Esmagados por uma enxurrada de notícias negativas, ruins, desalentadoras e pessimistas, parcela expressiva dos setores médios brasileiros “radicalizam” se abstendo da política, da participação organizada.

Pior, além de não participarem, satanizam a política e qualquer forma de organização social. Só negam a política os ingênuos e os maus intencionados. Os primeiros perdem com isso e nem se dão conta do mal que fazem para si próprios. Os segundos, talvez, nada percam ou até se beneficiam disso, mas fazem mal à democracia.

Os grandes e complexos problemas sociais nacionais e locais só serão resolvidos por meio da política e da participação social. Isto é, não há fórmulas mágicas e salvacionistas.

A política é parte da solução, não do problema!

*É jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap