“A reforma política é uma questão urgente”, diz Nasi

Marcos Valadão Rodolfo, ou Nasi, como é mais conhecido, é um dos principais nomes da geração que nos anos de 1980 levou o rock brasileiro do “underground“ amador para o sucesso popular. Como vocalista da banda Ira!, conheceu o sucesso.

Nasi - Rolling Stone Brasil

Dos tempos de Voluntários da Pátria até o programa "Nasi Noite Adentro" (CanalBrasil), muita coisa aconteceu. Em entrevista ao Brasil de Fato, Nasi relembra alguns desses episódios, fala sobre política, sua filiação ao PCdoB, sua opinião sobre cultura, governo federal e reforma política. Conta ainda sobre a volta do Ira! na Virada Cultural em São Paulo, ao lado do companheiro de palco Edgar Scandurra.

Brasil de Fato: Você sempre demonstrou interesse pela mistura do rock com outros ritmos. Fale um pouco sobre o porquê e como surgiu este interesse.

Nasi: Não exatamente por outros ritmos. Especificamente produzindo um rock com forte influência da música negra da América: blues, soul, hip hop.

O que você acha do disco Psicoacústica, hoje, ser considerado um clássico da banda?

Acho ótimo, era um disco bem diferente dos padrões da época. Não foi entendido pela maioria da crítica, o que é lamentável. Porque o tempo provou que esse é um dos melhores discos de rock da banda e do Brasil.

Pelo que se sabe, você tem grande interesse por religiões africanas. É verdade? Você sofre algum tipo de preconceito por praticá-la?

Eu sou Yawo há 6 anos. Sou iniciado no culto de Ifa e também nos orixás Exu, Ogum, Oxum, Obatalá, e outras iniciações que requerem segredo. Sou iniciado no culto tradicional Youruba pelo sacerdote Baba King, nigeriano radicado no Brasil há 30 anos, e que tem “filhos” no mundo inteiro.
Quanto ao preconceito, sei que existe, mas não ligo. Tem uma tal de Constituição que me protege de algum fato mais grave que ocorrer nesse sentido.

Como é o seu relacionamento com a música das “vacas sagradas” da MPB?

Gosto muito do Tim Maia, Martinho da Vila, Jorge Ben e de muitas coisas do Gilberto Gil.

O que você acha do Roger (Ultraje), que tem tido posturas reacionárias, assim como o Lobão?

Acho que esse assunto nas redes sociais vem se transformando infelizmente num grande Fla-Flu. Respeito os dois e concordo com algumas coisas que eles dizem e discordo de tantas outras. Acho que democracia e liberdade de expressão só existem quando há espaço para o contraditório.

Como você avalia o atual momento da indústria fonográfica (mp3, download, etc.)?

A indústria está esgotada e não tem dinheiro para novas carreiras. Se o negócio da música não se fortalecer num formato que privilegie novos artistas vejo problemas no futuro. Atualmente, devido a esse estado da indústria, a mídia tem tratado os artistas da música através do conceito de celebridade e valorizando dancinhas e outras coisas duvidosas. Pena!

Como anda o seu relacionamento com o Edgard e os outros membros da banda? Estamos sabendo que vocês vão voltar. É verdade? Tem algo especial preparado para este retorno do Ira!?

O relacionamento com o Edgard está ótimo e estamos ensaiando direto para ao show da Virada que marcará a volta do Ira!. Quanto aos outros, perdi o contato. Mesmo porque o Ira! será formado, além de mim e Edgard, por outros músicos.

Como você avalia o governo federal e a questão cultural hoje no país?

Um governo que fez avançar em muito a inclusão social no Brasil. Temos um problema sério, que não é desse nem daquele governo, que é o fisiologismo canibal que existe no nosso país. Uma reforma política é urgente!

Você sempre teve postura de esquerda. Já militou em algum partido político? Como você avalia os partidos de esquerda no Brasil hoje?

Sou ainda filiado ao PCdoB onde tenho amigos e pessoas que admiro muito como Aldo Rebelo, Jamil Murad, Manoela D’ávila etc. Mas, sinceramente, vejo uma profunda crise nos principais partidos da dita esquerda. Não engulo certas coligações e abraços políticos em gente que representa o pior nesse país, inclusive alguns filhotes da ditadura.

A música Pobre Paulista tem uns versos que parecem xenófobos. “Não quero ver mais essa gente feia/ Não quero ver mais os ignorantes/ Eu quero ver gente da minha terra/ Eu quero ver gente do meu sangue”. Você pode esclarecer?

Ai meu Santo Antônio, tenho que explicar isso até hoje!? Essa leitura que fazem desses versos em separados são descontextualizado se geram essa famigerada polêmica. Por conta disso deixei de cantar essa música há mais de 15 anos, apesar dos pedidos do público em show no país inteiro.

Por fim, você pode esclarecer a origem do seu apelido?

Essa é outra também… acho que nazista não devo ser, né? Filiado ao PCdoB e macumbeiro, deve ser meio difícil. Isso foi bullying na minha escola por conta de atitudes extremistas que tinha.

Fonte: Brasil de Fato