G. Parron: As seis vagas restantes na Seleção

Os principais jogadores de futebol do país esperam como nunca o dia 7 de maio. Nesta data, o técnico Luiz Felipe Scolari divulgará quem terá a missão de defender a camisa amarela em solo brasileiro – o sonho de qualquer moleque que já se divertiu chutando uma bola. Serão contemplados com uma chance única na vida, 23 homens que já foram garotos como esses.

A grande verdade é que boa parte da lista está definida. Quando Felipão assumiu a Seleção no final de 2012 no lugar de Mano Menezes, não havia um time titular definido, que estivesse na boca do povo. O período de Mano como técnico foi marcado por muitos testes – em dois anos foram 102 convocados – e derrotas contra rivais tradicionais, como Argentina (duas vezes), Alemanha e França. Parte disso ocorreu por causa da missão de renovar uma seleção velha e descabida deixada por Dunga em 2010, parte por falta de convicção e incompetência para montar a equipe.

Por incrível que pareça, em menos de um ano Felipão conseguiu o que Mano não chegou nem perto de alcançar: montou um time de verdade, conseguiu bater adversários tradicionais (Itália, Uruguai e Espanha) e conquistou um título. Tudo isso graças à Copa das Confederações. É verdade que a imponente vitória por 3 a 0 em cima da Espanha na final acabou escondendo um caminho às vezes trôpego até a decisão, mas não deu para negar a superioridade ante a seleção que vinha da conquista de um Mundial e duas Eurocopas.

O fato é que o Brasil foi campeão e Felipão encontrou seu time. Não dá para imaginar que a Seleção entre em campo no dia 12 de junho, contra a Croácia, com uma escalação diferente daquela que bateu a Espanha: Júlio César; Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; Luiz Gustavo e Paulinho; Hulk, Oscar e Neymar; Fred. É o mais lógico e justo – esses são os caras que ganharam a confiança do técnico.

Isso também significa que já são 11 dos 23. A lógica das convocações costuma ter dois jogadores por posição, com exceção dos goleiros, que costumam ir em três para o Mundial. Como Felipão não é dos treinadores mais modernos, é provável que ele siga esta fórmula.

No gol, o próprio técnico já disse que seu titular é Júlio César. Não importa que ele tenha passado mais de seis meses parado e que atualmente defenda o inexpressivo Toronto FC, da liga norte-americana de futebol. Goleiro é questão de confiança e Felipão já depositou a sua no ex-flamenguista. Se a decisão é a correta só será possível saber na Copa. A segunda vaga deve ser de Jefferson, do Botafogo, figura constante nas convocações do treinador. O terceiro goleiro deve ser Diego Cavalieri ou Victor, os outros únicos chamados desde que o técnico reassumiu a Seleção. Cavalieri foi para a Copa das Confederações, mas caiu de rendimento no segundo semestre e até foi rebaixado com o Fluminense. Victor brilhou na conquista da Libertadores pelo Atlético-MG, embora também tenha regredido um pouco na segunda metade no ano passado. Como o terceiro goleiro é figura meramente ilustrativa, é provável que a opção seja Cavalieri, que já conviveu com o grupo no torneio teste para a Copa.

Nas laterais não há qualquer dúvida sobre os titulares: Daniel Alves e Marcelo são donos incontestáveis da posição, titulares absolutos de Barcelona e Real Madrid, respectivamente, e estão um nível acima dos concorrentes. No entanto, há disputa nas duas vagas para o banco.

Na direita, tudo indicava que Maicon, da Roma, seria nome certo. Mas no jogo contra a África do Sul, último amistoso antes do Mundial, Felipão testou Rafinha, que atua no poderoso Bayern de Munique e ganhou espaço coma chegada de Pep Guardiola.

Pelo lado esquerdo a situação é ainda mais imprevisível. Filipe Luís, do Atlético de Madrid, foi à Copa das Confederações. Maxwell, do Paris Saint-Germain, ganhou a preferência nos amistosos seguintes. O atleta do clube francês é bastante regular no ataque e na defesa, é daqueles que não costumam se complicar. Poderia ser nome carimbado não fosse o excelente momento de Filipe e do Atlético de Madrid – o clube está na semifinal da Liga dos Campeões da Europa e é líder do Espanhol, enquanto o lateral foi eleito o melhor da posição do torneio europeu nas duas últimas rodadas. Nem Felipão deve ter certeza de quem escolherá.

A dupla de zaga já está definida: ninguém tira David Luiz e o capitão Thiago Silva. O posto de suplente imediato é de Dante, que foi bem na Copa das Confederações e é outro membro do Bayern. O quarto defensor é uma incógnita. Réver, do Atlético-MG, esteve na Copa das Confederações. Dedé, do Cruzeiro, também já foi chamado pelo técnico. Ultimamente, o escolhido tem sido Marquinhos, jovem de 19 anos contratado a peso de ouro pelo PSG no início da temporada. E, embora ainda não tenha sido convocado por Felipão, não há como ignorar o excelente momento de Miranda, um baita zagueiro que é titular absoluto do Atlético de Madrid. Nesta corrida cabeça a cabeça, Marquinhos parece na dianteira.

Se houve alguém que garantiu presença no Mundial por conta da Copa das Confederações foi Luiz Gustavo. O primeiro volante, que era do Bayern na época, entrou, tomou conta da posição e mostrou ótimo entrosamento com Paulinho, outro que brilhou com belas atuações e gols decisivos. O reserva de Paulinho deve ser Ramires, um volante versátil e dinâmico, que seria titular em quase todas as outras seleções do mundo. E não dá para esquecer de Hernanes, outro grande jogador que pode ficar de fora da Copa por atuar na posição com competição mais qualificada da Seleção. Como os três têm capacidade de sair jogando e ir ao ataque, pode ser que Felipe decida preterir um meia e levá-los. O técnico já colocou Ramires como meia na Seleção e pode contar com ele para a função. No entanto, Paulinho, Ramires e Hernanes rendem mais quando atuam de volante com liberdade para aparecer de surpresa na frente.

A vaga de reserva de Luiz Gustavo ainda está aberta. Em suas primeiras convocações, Felipão apostou em Fernando, um jovem do Grêmio. Mas ele acabou se transferindo para o Shakthar, da Ucrânia, e pareceu ter saído do radar do técnico. Lucas Leiva sempre foi um nome lembrado, no entanto, lesões o tiraram de combate e fizeram perder parte do prestígio que tinha no Liverpool. Contra a África do Sul, a novidade foi Fernandinho, que se consolidou como dupla de Yaya Touré no meio-campo do ótimo time do Manchester City. O jogador aproveitou a chance e até marcou gol, o que deve ter rendido alguns pontos com Scolari.

No setor ofensivo, Felipão costuma escalar uma linha com três jogadores de movimentação atrás de um centroavante fixo. É o esquema 4-2-3-1, o preferido dos treinadores na atualidade. Assim, Neymar costuma cair pela esquerda, Oscar fica centralizado, Hulk atua na direita e Fred é o homem de área. Às vezes Neymar e Oscar trocam de posição, mas invariavelmente o time titular é esse.

Pelos lados, Bernard ganhou a vaga na Copa das Confederações. Felipão deve levar o garoto que tem "alegria nas pernas", como o próprio técnico definiu. Até então, o dono da posição era Lucas, do PSG, mas as fracas atuações pelo Brasil o fizeram ficar para trás – o mais provável é que o ex-são-paulino nem vá para a Copa. Outro jogador que teve ascensão meteórica foi Willian. Antes escondido no Anzhi, da Rússia, o meia chegou no início do ano ao Chelsea, logo caiu no gosto de José Mourinho e foi parar na Seleção. Esteve nas últimas convocações e agradou Felipão. Ele é habilidoso, controla bem a bola, tem velocidade e joga em qualquer uma das três posições na linha atrás do centroavante. Vale a pena tê-lo entre os 23.

As duas vagas seguintes estão nebulosas. Como Willian joga centralizado e Bernard faz qualquer dos lados, o outro jogador pode ser um meia ou atacante, que atue no meio ou pelas pontas. Enfim, pode ser um atleta ofensivo com qualquer característica. Pode ser Lucas, que cresceu recentemente com o PSG. Pode ser Kaká, que é experiente e tem qualidade inegável, embora o físico esteja longe do auge. Pode ser Philippe Coutiho, jovem destaque do Liverpool que ainda não foi lembrado. Pode até ser Jadson, que esteve na Copa das Confederações e tem chances se mantiver no Brasileiro as boas atuações do início da passagem no Corinthians. E pode ser Hernanes, afinal, para um bom treinador gaúcho ter um volante a mais não faz mal nenhum. Esta é a vaga mais aberta de todas.

Ainda resta a de suplente de Fred, que parece ter sido preenchida por Jô por mera incompetência da concorrência. Leandro Damião teve chances, Pato teve chances, Luís Fabiano teve chances e até Diego Costa teve uma chance antes de preferir defender a Espanha. Entre eles, o único que entrou e conseguiu jogar bem foi o atacante do Atlético-MG. A garantia da vaga de Jô diz mais sobre a atual safra de centroavantes brasileiros do que sobre as preferências de Felipão.

E para não ficar em cima do muro, segue a aposta da convocação de Luiz Felipe Scolari:

Goleiros: Júlio César (Toronto FC), Jefferson (Botafogo) e Diego Cavalieri (Fluminense)
Laterais: Daniel Alves (Barcelona), Marcelo (Real Madrid), Maicon (Roma) e Filipe Luís (Atlético de Madrid)
Zagueiros: Thiago Silva (Paris Saint-Germain), David Luiz (Chelsea), Dante (Bayern) e Marquinhos (Paris Saint-Germain)
Volantes: Luiz Gustavo (Wolfsburg), Paulinho (Tottenham), Fernandinho (Manchester City), Ramires (Chelsea) e Hernanes (Inter de Milão)
Meias e atacantes: Oscar (Chelsea), Hulk (Zenit), Neymar (Barcelona), Bernard (Shakthar Donetsk) e Willian (Chelsea)
Centroavantes: Fred (Fluminense) e Jô (Atlético-MG)

*G. Parron é jornalista por causa do futebol e atacante que costuma cair pela esquerda.