João Ananias: Uma data triste 

Dia 1º de abril de 1964. Uma data triste para a história do Brasil. Nesse dia, a espinha dorsal da ordem democrática brasileira foi quebrada pelo golpe militar. Depois daquele dia, a ditadura, com todo seu arsenal, sobreviveu por vinte e um anos e deixou cicatrizes profundas no seu povo. O silêncio foi imposto e o medo espalhado através de prisão, tortura, exílios e morte de muitos brasileiros.

Por João Ananias* 

A justificativa que foi digitalizada nos letreiros da época era a necessidade de salvar o País de um regime comunista. Portanto, as primeiras providências tomadas para conseguir seus objetivos foram, naturalmente, calar os ideais igualitários, perseguir as organizações e eliminar os mais radicais, que defendiam uma ordem social mais justa, com a diminuição das desigualdades econômicas, implantação da reforma agrária, universalização da educação, diminuição da jornada de trabalho, um salário justo e a garantia de direitos básicos como saúde, educação e transporte público e gratuito para todos.

Os inconformados, que apontavam para produção da mais-valia, como fator determinante da desagregação do tecido social, precisavam ser silenciados. O normal, o natural, era enxergar e aceitar a condição de cada um como sendo uma imposição do destino, ou um capricho, quem sabe um desejo divino. Nada, portanto poderia ser alterado pela determinação e vontade dos homens.

Esse quadro demorou bastante para ter cores mais claras, mas a determinação de setores democráticos e progressistas de enfrentar o obscurantismo, terminou trazendo o País para os trilhos na normalidade democrática.Uma vitória cara. Paga com muito sangue e sofrimento. Uma vitória bastante comemorada, mas que ainda mostra seu rosto com limites indefinidos para as novas gerações que desconhecem o terror da proibição e da censura.

Escrever um livro e não poder publicar, escrever uma peça e não poder ensaiar, compor uma música e não poder cantar, são coisas que podem ser contadas, fazem parte da história, mas estão distantes da juventude como um pelourinho que se ergue na escravidão.

Quando digo que a normalidade democrática foi restabelecida, preciso ressaltar que se trata da democratização política e acrescento que a democracia econômica ainda é para a nação brasileira um por de sol distante.

Milhares de brasileiros ainda precisam ser assistidos por programas sociais para não conviver com a extrema pobreza. Outro número significativo vive em favelas sem saneamento básico, sem as mínimas condições de higiene e sem transporte público de qualidade. A criminalidade ainda aterrorizando o nosso cotidiano, afirmando constantemente que a vida não tem valor, e o mais grave, muitos de nós ainda não compreendeu que para a vida ser nobre, precisa escapar do egoísmo doentio e ingressar na dimensão coletiva.

É visível a melhoria na saúde e na educação, mas ainda são áreas carentes de aporte financeiro para atender satisfatoriamente a demanda atual. Por último, mas não menos importante, vejo que precisamos estreitar os laços entre a população e o universo político. Uma nova composição das Casas legislativas, com parlamentares comprometidos e sintonizados com suas bases, e com propostas avançadas que apontem para uma reforma política é necessária e urgente.

*É médico e deputado federal pelo PCdoB do Ceará