50 anos depois, Praia do Flamengo não silenciou

Há exatos 50 anos o endereço da Praia do Flamengo 132, no Rio de Janeiro, sofria um atentado sem precedentes. Sede da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), ponto de encontro de artistas, intelectuais, pensadores e outros que queriam transformar o Brasil, o prédio foi atacado, com fogo e balas de metralhadora, em uma das primeiras ações da ditadura militar, logo nas primeiras horas após o golpe de 1964.

Sede UNE - UNE

Hoje, em 2014, a UNE e a UBES avançam na construção de sua nova sede no local, tendo lutado e reconquistado o espaço, além do reconhecimento oficial de dívida pelos males causados pela repressão. O trajeto dessas cinco décadas não foi fácil, mas determinou a vitória do barulho contra o silêncio, da juventude contra os opressores, da democracia de muitos contra a brutalidade de poucos.

Logo após o incêndio, as entidades foram postas na clandestinidade, seus militantes perseguidos, em um processo que se agravou com o Ato Institucional Número 5 e as execuções de jovens como Honestino Guimarães, Helenira Rezende e Alexandre Vannucchi Leme. Mesmo assim, ao longo de 21 anos, o movimento estudantil resistiu e conseguiu lutar até o retorno democrático na década de 1980. A ditadura, no entanto, como se tentasse terminar o que começou, demoliu o antigo prédio da Praia do Flamengo. O terreno foi ocupado por um estacionamento clandestino, durante muitos anos.

Em 2007, na data histórica de primeiro de fevereiro, a UNE e a UBES reocuparam o espaço, montando um acampamento e retomando as rédeas da sua própria história. Os estudantes ganharam a posse definitiva na justiça e, além disso, uma indenização do Estado brasileiro. Em 2009, foi aprovado o projeto de lei que concedeu a UNE uma indenização de 44.6 milhões de reais pelos danos que lhe foram causados pela repressão que sofreu ao longo dos anos da ditadura. Esta lei, de iniciativa do Poder Executivo, tendo à frente na época o Presidente Lula, foi votada por todos os parlamentares de todos os partidos do Congresso Nacional, tornando-se a UNE a primeira entidade da sociedade civil a ser indenizada pelas perseguições sofridas nos anos de chumbo.

Oscar Niemeyer, o mais notável arquiteto de nosso país, presenteou os estudantes com o projeto arquitetônico da nova Casa do Poder Jovem. Atualmente as obras estão em fase de fundação e a expectativa é de que seja inaugurada no final do próximo ano.

Na lembrança dos 50 anos do incêndio de sua histórica sede, é preciso dizer que o objetivo dos ditadores daquele período não foi atingido: não calaram nossa voz, não cercearam nossa luta. A nossa mensagem de coragem, neste 2014, é seguir na luta no processo ainda inconcluso de transição democrática do Brasil e varrer os resquícios de autoritarismo que permanecem em nosso país. A nossa história ninguém apaga: é UNE e UBES de volta para casa! Viva a luta dos estudantes brasileiros!

Fonte: União Nacional dos Estudantes