Sem categoria

O livro didático que a Globo quer proibir 

O professor de História Mario Schmidt responde à altura, diante da campanha de difamação contra o seu livro didático capitaneada pelo diretor executivo do jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel. ''Em primeiro lugar exigimos respeito. Nós jamais&nbs

A respeito do artigo do jornalista Ali Kamel no jornal O Globo  de 18 de setembro de 2007 sobre o volume de 8ª série da obra Nova  História Crítica, de Mario Schmidt, o autor e a Editora Nova Geração  comentam:  Nova História Crítica da Editora Nova Geração não é o  único nem o primeiro livro didático brasileiro que questiona a  permanência de estruturas injustas e que enfoca os conflitos sociais em  nossa história.  Entretanto, é com orgulho que constatamos que nenhuma  outra obra havia provocado reação tão direta e tão agressiva de uma   das maiores empresas privadas de comunicação do país. 



Compreendemos que o sr. Ali Kamel, que ocupa cargo  executivo de destaque nas Organizações Globo, possa ter restrições às  posturas críticas de nossa obra. Compreendemos até que ele possa querer os livros didáticos que façam crer ''que socialismo é mau e a solução  para tudo é o capitalismo''. Certamente, nossas visões políticas diferem  das visões do sr. Ali Kamel e dos proprietários da empresa que o  contratou. O que não aceitamos é que, em nome da defesa da liberdade  individual, ele aparentemente sugira a abolição dessas liberdades. 



 Não publicamos livros para fazer crer nisso ou naquilo,  mas para despertar nos estudantes a capacidade crítica de ver além das  aparências e de levar em conta múltiplos aspectos da realidade. Nosso  grande ideal não é o de Stálin ou de Mao Tsetung, mas o de Kant: que  os indivíduos possam pensar por conta própria, sem serem guiados por  outros. 



Assim, em primeiro lugar exigimos respeito. Nós jamais  acusaríamos o sr. Kamel de ser racista apenas porque tentou argumentar  racionalmente contra o sistema de cotas nas universidades brasileiras.  E por isso mesmo estranhamos que ele, no seu inegável direito de  questionar obras didáticas que não façam elogios irrestritos à isenção  do Jornal Nacional, tenha precisado editar passagens de modo a  apresentar Nova História Crítica como ridículo manual de catecismo  marxista. Selecionar trechos e isolá-los do contexto talvez fosse  técnica de manipulação ultrapassada, restrita aos tempos das edições  dos debates presidenciais na tevê. Mas o artigo do sr. Ali Kamel parece  reavivar esse procedimento.


 


Ele escolheu os trechos que revelariam as  supostas inclinações stalinistas ou maoístas do autor de Nova História Crítica. Por exemplo, omitiu partes como estas:  ''A URSS era uma  ditadura. O Partido Comunista tomava todas as decisões importantes. As  eleições eram apenas uma encenação (…). Quem criticasse o governo ia  para a prisão. (…) Em vez da eficácia econômica havia mesmo era uma  administração confusa e lenta. (…) Milhares e milhares de indivíduos  foram enviados a campos de trabalho forçado na Sibéria, os terríveis  Gulags. Muita gente foi torturada até a morte pelos guardas  stalinistas…'' (pp. 63-65).



Ali Kamel perguntou por onde seria possível as crianças saberem das insanidades da Revolução Chinesa. Ora, bastaria ter  encotrado trechos como estes: ''O Grande Salto para a Frente tinha  fracassado. O resultado foi uma terrível epidemia de fome que dizimou  milhares de pessoas. (…) Mao (…) agiu de forma parecida com Stálin,  perseguindo os opositores e utilizando recursos de propaganda para  criar a imagem oficial de que era infalível.'' (p. 191) ''Ouvir uma fita  com rock ocidental podia levar alguém a freqüentar um campo de  reeducação política. (…) Nas universidades, as vagas eram reservadas  para os que demonstravam maior desempenho nas lutas políticas. (…)  Antigos dirigentes eram arrancados do poder e humilhados por multidões  de adolescentes que consideravam o fato de a pessoa ter 60 ou 70 anos  ser suficiente para ela não ter nada a acrescentar ao país…'' (p. 247)   Os livros didáticos adquiridos pelo MEC são escolhidos apenas pelos  professores das escolas públicas. Não há interferência alguma de  funcionários do Ministério. 



O sr. Ali Kamel tem o direito de não gostar de certos  livros didáticos. Mas por que ele julga que sua capacidade de escolha  deveria prevalecer sobre a de dezenas de milhares de professores? Seria  ele mais capacitado para reconhecer obras didáticas de valor? E, se os  milhares de professores que fazem a escolha, escolhem errado (conforme  os critérios do sr. Ali Kamel), o que o MEC deveria fazer com esses  professores? Demiti-los? Obrigá-los a adotar os livros preferidos pelas  Organizações Globo? Internar os professores da rede pública em Gulags,  campos de reeducação ideológica forçada para professores com simpatia  pela esquerda política? Ou agir como em 1964?


 


Leia também:


Globo pressiona e MEC retirará livro didático das escolas