Irã busca diplomacia e desenvolvimento global justo, diz Rohani

O presidente da República Islâmica do Irã, Hassan Rohani, deu um discurso nesta quinta-feira (23), na 44ª Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial, que acontece em Davos, na Suíça. Rohani afirmou que o caminho para a segurança no Oriente Médio, cuja estabilidade está diretamente ligada à de todo o mundo, passa pelo desenvolvimento da região em todos os aspectos.

Hassan Rouhani - Michel Euler / Associated Press

Ao descrever a violência como uma chama que se espalha, para destruir inclusive os que não a provocaram, o presidente Rohani disse que o seu país se solidariza com os vizinhos do Oriente Médio, presos na abrangência da violência.

Rohani afirmou a esperança de que os povos contribuam para o estabelecimento da segurança no mundo como uma precondição para construir as bases de um sistema justo, já que a população precisa se sentir segura, ou então, vai se rebelar contra a injustiça.

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Por isso, ele ressaltou que é imprescindível que as nações sintam que existe uma igualdade de oportunidades de desenvolvimento econômico e social, e que é preciso considerar que, para um mundo seguro e desenvolvido, é necessário que todos tenham liberdade econômica e direito a tomar decisões sobre o seu destino.

O presidente afirmou também a oposição do seu país à política de sanções ou de outras proibições contra os países, já que isso obstaculiza o caminho em direção ao desenvolvimento científico e sustentável. Além disso, pontuou, essas medidas são inúteis, pois aprofundam as divergências.

Rohani fez referencia ao caso do seu próprio país, que é vítima de um programa frequentemente renovado de sanções desde 1979, quando a Revolução Islâmica derrubou uma monarquia autocrática apadrinhada pelos Estados Unidos.

Com o passar das décadas, as sanções foram renovadas quase anualmente para alegar o combate ao desenvolvimento de um programa nuclear de fins bélicos pelas autoridades persas, embora ainda hoje as evidências neste sentido não tenham sido comprovadas. Além dos EUA, a União Europeia e a ONU passaram a aplicar as suas próprias sanções desde 2006 e 2010.

Cooperação e avanço diplomático

O avanço da diplomacia e o apelo do governo persa ao diálogo internacional – com base no seu direito a um programa nuclear de fins civis (energéticos e para a medicina) garantido pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) – têm aberto um novo caminho de consenso.

Em novembro, um plano de ação foi anunciado depois das negociações do Irã com o Grupo 5+1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China como membros do Conselho de Segurança, e a Alemanha), para que as sanções contra o país fossem aliviadas, em troca pela redução do programa nuclear e pela facilitação do acesso de inspetores internacionais às instalações do país. O acordo foi inaugurado, com estas medidas, nesta segunda-feira (20).

Ainda assim, em seu discurso, Rohani criticou firmemente as acusações contra o Irã. “Declaro com toda a precisão que nem as armas nucleares e nem a violência têm lugar na nossa estratégia de segurança a nível macroestrutural. Não interessam ao país estas medidas.”

Por outro lado, o presidente garantiu que o país não ficará alheio a qualquer violação e responderá da forma devida a qualquer arrogância, assim como fez nos últimos meses, sobre o tema nuclear.

“A contraparte [o Ocidente], depois de seguir insistindo em embargos e pressões durante 10 anos, se deu conta de que a nação iraniana não desistiria dos seus direitos nucleares pacíficos, e que esta postura irracional trazia apenas problemas para as partes envolvidas no assunto.”

O presidente destacou a segurança, o desenvolvimento econômico, o meio ambiente e a luta contra a violência e o extremismo como exemplos das áreas comuns para uma suposta colaboração com base no interesse mútuo a nível internacional. Neste sentido, retomou a unanimidade com que os membros da Assembleia Geral das Nações Unidas aprovaram a resolução intitulada “Mundo Contra a Violência e o Extremismo” (Wave, na sigla em inglês).

Rohani disse que esta unanimidade demonstra o rechaço mundial contra estes fenômenos e um ponto de partida para as colaborações futuras a nível internacional, a pesar das disputas “que já se converteram em problemas crônicos e incuráveis.”

Economia mundial e benefícios mútuos

Ele voltou a enfatizar a importância das relações econômicas baseadas em interesse mútuo como parte das relações baseadas no pensamento moderado e o interesse do Irã em manter um relacionamento amistoso com os outros países.

Por isso, ressaltou a disposição iraniana em para participar no abastecimento de energia para o mundo, devido aos recursos de que o país dispõe, em um terreno tão crítico. A relevância desta ressalva deve-se ao fato de que grande parte das sanções tem como alvo o setor petrolífero do Irã.

Rohani conclui seu discurso com um convite a todos para visitar o Irã e avaliar a disposição do país para colaborar, receber investimento estrangeiro e para conhecer a cultura e a civilização persa e islâmica. “Só podemos estabelecer a paz sustentável, garantir uma vida melhor para os nossos povos e construir um mundo sem violência e extremismo através de uma via: a da cooperação, integração, entendimento mútuo e empenho econômico e tecnológico.”

A 44ª Reunião do Fórum Econômico Mundial está sendo realizada entre terça-feira (21) e sábado (25), com temas novamente centrados na superação da crise financeira e capitalista mundial, neste âmbito elitizado, considerado um dos palcos centrais para a projeção neoliberal pelo mundo.

A participação de atores diversificados e emergentes, entretanto, é vista como uma oportunidade progressista para a mudança da configuração econômica e social internacional, alheia à hegemonia antes intransponível das potências ocidentais.

Da redação do Vermelho,
Com informações da HispanTV