Nelson Sargento e o Samba do Operário

Nelson Sargento conta que este samba foi feito por ele, seu pai de criação, Alfredo Português (que se refugiou no Brasil, perseguido pelo salazarismo), e Cartola (Angenor de Oliveira, 11 de outubro de 1908 / 30 de novembro de 1980).   

“Esse samba foi feito da seguinte maneira”, diz: “era 1º de maio e o Cartola estava lá em casa. Conversa vai, conversa vem, ele e o Alfredo começaram papear sobre a situação do operário. Ai o Alfredo falou: ‘Vamos fazer um samba?’ e o Cartola respondeu: ‘Manda a letra’. Ele pegou e fez a primeira parte. Mas não cogitaram de fazer a segunda parte. Depois que o Alfredo fez a segunda parte do samba eu terminei, ao invés do Cartola”.
 
“Eu sabia que samba era um negócio de valor”, relata Nelson Sargento. “Mas não sabia o quanto. Babau da Mangueira (1914-1993) uma vez escreveu: ‘Trabalho, não tenho nada e não saio do miserê’. Foi durante a ditadura militar que esse movimento ganhou mais força. Chico Buarque, Geraldo Vandré, entre outros, foram os grandes inimigos da ditadura”, disse. “O Vandré fez músicas de arrepiar, embalou aqueles estudantes engajados na luta contra a ditadura e fez muito eco”.

Letra
O Samba do Operário
Se o operário soubesse
Reconhecer o valor que tem seu dia
Por certo que valeria
Duas vezes mais o seu salário
 
Mas como não quer reconhecer
É ele escravo sem ser
De qualquer usurário
 
Abafa-se a voz do oprimido
Com a dor e o gemido
Não se pode desabafar
 
Trabalho feito por minha mão
Só encontrei exploração
Em todo lugar