PC português insta o povo a lutar por valores revolucionários

Em Portugal, com a evocação da "fuga de Peniche", encerraram-se as comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal e tiveram início as celebrações do 40º aniversário de Abril. Isso se dá numa sequência lógica, na medida em que a fuga do valioso conjunto de dirigentes e quadros do Partido Comunista Português (PCP) constituiu fator decisivo para a derrubada do governo fascista de Marcelo Caetano e para o desenvolvimento do processo revolucionário que se lhe seguiu.

Álvaro Cunhal - PCP

Com efeito, e como incisivamente acentuou o secretário-geral do PCP na intervenção proferida em Peniche, na semana passada, a fuga teve como consequência imediata a adoção de um conjunto de medidas que conduziram a um notável reforço orgânico, ideológico e interventivo do Partido, desde logo visível, designadamente, na correção do desvio de direita que, desde 1956, caracterizava ideologicamente a linha política do Partido; no reforço da ligação à classe operária e restantes trabalhadores; no fortalecimento da unidade antifascista; na retoma da via do levantamento nacional para a derrubada do fascismo.

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A nova dinâmica e o novo conteúdo da ação do Partido resultantes dessas medidas tiveram expressão concreta no desenvolvimento impetuoso da luta de massas, traduzido nomeadamente na intensificação da luta contra a guerra colonial, nas significativas movimentações dos estudantes do Superior, em Coimbra, Lisboa e Porto e, num patamar mais elevado, na realização do 1.º de Maio de 1962 – o mais poderoso Dia do Trabalhador até então realizado – e na histórica conquista das oito horas pelos heroicos assalariados rurais da zona do latifúndio.

Foi também na sequência da fuga de Peniche que o PCP ergueu o seu memorável 6º Congresso, momento alto na história do Partido e na luta antifascista – um Congresso cujas decisões e orientações tomadas, tendo como espinha dorsal essa obra marcante de Álvaro Cunhal que é "Rumo à Vitória", foram decisivas para a criação das condições que conduziram ao derrubamento do fascismo e à Revolução de Abril.

Assim, é enquanto grande partido da resistência antifascista, partido de Abril e da sua Revolução, que o PCP levará por diante, durante todo o ano de 2014, um diversificado e vasto conjunto de iniciativas próprias que, subordinadas ao lema "Os Valores de Abril no Futuro de Portugal", assinalarão o 40º aniversário do processo revolucionário iniciado em 25 de Abril de 1974 e que produziu, na sociedade portuguesa, profundas e progressistas transformações sociais, políticas, econômicas, culturais, civilizacionais.

Transformações essas que, sustentadas nos valores da liberdade, da democracia, da justiça social, da paz, da solidariedade, da independência nacional, permanecem como referências básicas fundamentais para um Portugal de progresso e desenvolvimento, independente e soberano.

Na situação atual – em que o País e os portugueses vivem um dos mais graves e dolorosos períodos da sua história; em que uma inaceitável intervenção externa agride e põe em risco a soberania e a independência nacional; em que a Lei Fundamental do País é todos os dias posta em causa, desprezada, violada pelos que têm como dever supremo defendê-la; em que os valores e as conquistas de Abril são o alvo primordial da ofensiva destruidora da política de direita – comemorar Abril é lutar contra a política da troika, antipatriótica e de direita, e por uma política de sentido oposto, patriótica e de esquerda, naturalmente inspirada nos valores e nos ideais de Abril.

Comemorar Abril é, também, lutar pela convergência e a unidade de todos os patriotas, de todos os homens, mulheres e jovens que, independentemente das suas opções políticas e ideológicas, se sintam identificados com os valores de Abril e assumam como questão maior a defesa da Constituição da República Portuguesa.

Insistamos, então: comemorar Abril é lutar por Abril. E, mais do que nunca, a luta organizada das massas trabalhadoras e populares se apresenta a nós como questão central.

O ano que findou foi o que sabemos: doze meses de assaltos aos direitos dos trabalhadores e do povo, doze meses de polpudos benefícios para os grandes grupos econômicos e financeiros. Para os primeiros, mais e mais desemprego; mais e mais roubos nos salários, nas pensões, nas aposentadorias; mais e mais ataques ao Serviço Nacional de Saúde e à Escola Pública; mais e mais disparos contra serviços públicos essenciais; mais e mais impostos, e encargos, e aumentos… Para os segundos, mais e mais condições para aumentar a exploração; mais e mais desprezo por quem trabalha e vive do seu trabalho; mais e mais lucros; mais e maiores fortunas…

Para o ano agora chegado, o Governo – e o presidente da República que o ampara, acaricia e apoia – promete mais do mesmo. E, para começar, aí estão, já, os aumentos da eletricidade, do gás, dos transportes, dos alugueis de casa, das telecomunicações, e do mais que se verá, em matéria de aumentos de preços de bens essenciais.

Logo a seguir, por efeito da aplicação do sinistro Orçamento do Estado – que o Governo perpetrou, a maioria parlamentar apoiou e o inevitável presidente da República apadrinhou – chegarão mais roubos, mais desemprego, mais dramas, a somar aos dramas que o ano que passou fez cair sobre a imensa maioria dos portugueses, mais pobreza, mais miséria. E menos Abril.

Por isso, insista-se uma vez mais, comemorar Abril é lutar contra a política das troikas, é lutar por uma política patriótica e de esquerda, é lutar por Abril.

Fonte: Jornal Avante!