Isaura Lemos: a estratégia dos comunistas de organizar as massas

Durante a Plenária do 13º Congresso Nacional do PCdoB, realizada entre os dias 14 a 16 de novembro de 2013, no Anhembi, em São Paulo, a presidenta estadual do PCdoB de Goiás e recém-eleita para a direção do Comitê Central, Isaura Lemos* destacou em sua intervenção, a grande preocupação do papel estratégico e decisivo dos comunistas na tarefa de organizar as massas. 

Segue abaixo a íntegra da intervenção:Camaradas de todo Brasil,

Saúdo este nosso 13º Congresso em nome dos comunistas goianos!

Para quem não me conhece, sou comunista desde 1972, quando encontrei meu companheiro Euler Ivo, perseguido político, já na clandestinidade. Logo fomos deslocados para o Sertão Baiano. Depois fomos enviados para a Mata Amazônica, região do Acre. Moramos juntos com outros camaradas na densa floresta por quatro anos. Ali, aprendemos a viver e a integrar com o povo mais simples: seringueiros, castanheiros e mateiros. Ali, também nasceu minha primeira filha, Tatiana, que hoje é do nosso partido, vereadora no segundo mandato e suplente de deputada federal por Goiás. Em 80, recebemos a tarefa de reconstruir o partido em Goiás. Nos vinculamos às massas, especialmente no movimento de moradia .E hoje estou no quarto mandato de deputada estadual.

Concordo essencialmente com nossas teses e resoluções. Porém, tenho quatro observações a fazer.

A primeira delas é uma grande preocupação e sobre o papel estratégico e decisivo dos comunistas na tarefa de organizar as massas. Além de participar de organizações de massas, os comunistas também precisam ter a iniciativa na criação de uma rede de pequenas, médias e grandes associações de massas na luta por direitos.

O que é isso? Precisamos compreender que não haverá ambiente capaz de garantir e ampliar a democracia e de realizar essas mudanças que estamos propondo sem o povo organizado. Essas resoluções, essa nossa vontade, nossas palavras serão apenas risco n’ água. Não se efetivarão.

Deveríamos ter como meta que cada pessoa da população participasse de pelo menos uma organização por seus direitos específicos.

Na avaliação sobre a qualidade dos organismos do nosso partido e mesmo na avaliação de cada um de nossos quadros, devemos fazer valer a característica comunista de vinculação com as massas. Temos que insistir nisso a tal ponto que um quadro ou militante que atua nos movimentos populares, que não tenha essa ligação que seja considerado um ET. Uma coisa esquisita. Como ser considerado ou considerada liderança de massas, sem estar vinculado às massas?

Mesmo as entidades gerais como UNE, CTB e UBM têm de ter bases constituídas de organizações de massas em cada local. Ter capacidade real de mobilização.

Pretendemos apresentar ao Congresso emenda aditiva na primeira resolução que diz: “Batalhar pelas reformas estruturais, fortalecer o partido, assegurar a quarta vitória do povo. Que seja modificada da seguinte forma:

Batalhar pelas reformas estruturais, organizar as massas, fortalecer o partido assegurar a quarta vitória do povo. Nenhum outro partido tem essa responsabilidade igual ao nosso nessa questão. Muitas entidades que dirigimos não aproveitam as oportunidades no decorrer de uma luta por interesses mais específicos, para criar ali uma nova organização do povo.

Outra questão é tirarmos mais ainda o partido de dentro da lata, de dentro das limitadas condições do tempo da clandestinidade. O que isso significa?

Na clandestinidade, aprendemos agir com muita prudência. Vivemos novos tempos, mas nossa atuação mudou muito pouco. Mas hoje é diferente. São tempos de legalidade. Um partido mais aberto, de massas tem que participar de movimentos de massa em larga escala. Não haverá fortalecimento do partido se não estivermos ligados ao movimento de massas e se não abrirmos o partido para elas.

Temos que estar convidando os lutadores e lutadoras do povo, os formadores de opinião a filiarem ao partido.

A formação teórica e reuniões das organizações de base logo elevarão os filiados mais avançados à condição de militantes e quadros.

Os quadros são fundamentais na aplicação de nossa linha política. Nós temos as melhores propostas e temos condições de ser o maior partido do Brasil. Na escala de milhões. Crescer no meio das massas, crescer e fortalecer o partido.

No entanto, é preciso ter a consciência dos limites dos avanços alcançados para não se distanciar da realidade em que o nosso povo vive. Temos que ter a lucidez de que as mudanças a favor das massas ainda são muito limitadas e que a crise social continua crescendo. Nas discussões das teses, os trabalhadores e trabalhadoras concordavam com nossa avaliação sobre os avanços, mas mesmo com o aumento de 67 % do SM gritavam : salário de miséria. A violência crescente, as deficiências na saúde, transporte público tiveram medidas ainda ineficientes e insuficientes. A política de reforma agrária, por exemplo, avançou tão pouco que parece estar parada.

Nosso partido precisa liderar as denúncias sobre a dívida externa e interna e tomar medidas para nos livrar dessa escravização de que o Brasil hoje vive nas garras dos grandes banqueiros nacionais e mundiais. São 2 trilhões 800 bilhões de dívidas internas e 440 bilhões de dívidas externas.
Em 2012 pagamos 134 bilhões só de juros e 619 bilhões de amortizações, de acordo com documentos oficiais do Senado do Brasil. Em depoimento da senhora Maria Lucia Fatoreli, representante da ONG Auditoria Cidadã, ela disse que foi ao Equador, a convite de Rafael Correia, e conseguiu junto com uma equipe de trabalho reduzir em 70% a divida do Equador. Ou seja, em vez de 100, pagaram 30.

E eu pergunto: Por que nosso partido, o PCdoB, não levanta mais essa grande bandeira? Por que não damos mais a ênfase e nem fazemos denúncias e agitações de massas sobre esse tema? A população brasileira precisa saber que nos livramos do FMI, mas ainda temos dívidas com bancos e não tem nem auditoria. Afinal, democracia pressupõe acesso à informação.

*Isaura Lemos é deputada estadual, presidenta do PCdoB de Goiás e recém-eleita para a direção do Comitê Central