Progresso africano e cooperação com o Brasil são debatidos em SP

As relações entre o Brasil e África desenvolvem-se exponencialmente, assim como a visão da sociedade brasileira sobre o continente e a valorização da descendência africana no país, com influência histórica decisiva. Neste contexto, na terça-feira (29), a série televisiva “Presidentes Africanos” foi apresentada pelo ex-ministro das Comunicações, Franklin Martins, no Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Franklin Martins Conversas sobre África - Moara Crivelente / Portal Vermelho

Na segunda jornada do ciclo “Conversas sobre África”, organizada pelo Instituto Lula, Franklin Martins, ex-ministro do Governo Lula, apresentou o primeiro episódio da série “Presidentes Africanos”, que já está em exibição na TV a cabo (no canal Discovery Civilization).

Além disso, a série entrará em exibição na televisão nacional em breve e ficará disponível para escolas e universidades, na construção de uma nova perspectiva sobre o papel decisivo dos africanos na construção do país e da sociedade brasileira.

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O Instituto Lula vem fortalecendo trabalhos de base no estreitamento dos laços entre o Brasil e o continente africano, uma aproximação “que não deve ser apenas de políticas de governo, mas também da sociedade, das organizações sociais, como os sindicatos”, afirmou Celso Marcondes, diretor da Iniciativa África no instituto.

Fica cada vez mais evidente, neste contexto, a necessidade de a sociedade brasileira ter melhor informação, com a consolidação do ensino sobre a história africana nas escolas e universidades e com a mudança da abordagem pela mídia, principalmente sobre a descendência africana no Brasil.

O ex-ministro introduziu o debate com perspectivas sobre os “momentos” pelos quais passa a África, um continente de 1,1 bilhão de habitantes. Apesar de o enfoque midiático incidir sobre as guerras, os regimes autocráticos e as mazelas da fome e da pobreza, lembra Franklin Martins, estima-se que 100 milhões dos africanos sejam afetados diretamente por essas situações, enquanto 1 bilhão deles passa por processos de desenvolvimento e fortalecimento de regimes democráticos vibrantes.

No evento estavam presentes os embaixadores da Etiópia e dos Camarões, que foram saudados pelos organizadores. No episódio exibido, em que Franklin Martins entrevista diversos presidentes africanos, apresenta-se um continente diverso, empenhado pelo progresso e pelo fortalecimento de instituições regionais de cooperação.

Além disso, são ressaltadas as parcerias construtivas e respeitosas com aliados dedicados ao progresso e à construção de relações mutuamente benéficas, como o Brasil e a China, em alternativa às relações neocoloniais mantidas pelas potências europeias e pelos Estados Unidos na história mais recente.

Cooperação justa e desenvolvimento

A luta contra a pobreza extrema e a fome e o desenvolvimento da agricultura, das pesquisas científicas, da indústria e da extração sustentável dos recursos energéticos (que deve ser traduzida em inclusão social e desenvolvimento para a população africana) estão entre as prioridades das relações fortalecidas com o Brasil.

Além disso, a estruturação dos mecanismos regionais de cooperação, como a própria União Africana, marcam um “renascimento africano” e até um “afro-entusiasmo”, de acordo com Carlos Lopes, da Guiné Bissau, representante especial da Organização das Nações Unidas para a África, entrevistado por Franklin Martins no episódio.

Depois de um período grave no processo de descolonização, até a década de 1970, o continente mergulhou na configuração de disputas da Guerra Fria, e os Estados Unidos buscaram manter relações neocoloniais no continente, com o apoio a movimentos e regimes que oprimiam as lutas por libertação e pelo socialismo.

Na Angola, por exemplo, a proclamação da independência aconteceu com o apoio decisivo de Cuba, assim como da URSS, mas não se deu sem a tentativa de interferência exterior. Foi o caso da África do Sul, mas o combate do regime de segregação racial contra os movimentos de libertação regionais fracassou, em 1988, quando foi derrotado por tropas angolanas, apoiadas por Cuba. O resultado foi uma transformação histórica na região, que culminou com a eleição de Neslon Mandela como presidente sul-africano.

Embora o continente tenha passado por três grandes mazelas recentes, como identificadas por Franklin Martins (a escravidão, a colonização e os efeitos da Guerra Fria), a África enfrenta agora novos desafios de alavancagem positiva, com uma população formada maioritariamente por jovens (75% com menos de 35 anos), em um processo de consolidação da paz, enraizamento da democracia e a chegada de novos parceiros, de acordo com Carlos Lopes.

É neste contexto que se fortalece a identidade africana de unidade em prol da cooperação e do desenvolvimento, na resistência contra os resquícios neocoloniais e imperialistas. São fundamentais nessa luta as diversas organizações regionais, a parceria com novos atores mundiais (que buscam construir relações diferentes das mantidas pelas potências) e o fortalecimento da sociedade africana, com seus matizes diversos, diferentes grupos étnicos, culturais, linguísticos e religiosos, unidos na busca pelo progresso da paz, por maior participação política e pela construção da democracia justa e socialmente inclusiva.

Como disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um trecho do episódio apresentado nesta terça, a África tem sido a prioridade do Brasil pela primeira vez, enquanto historicamente, a concepção dos governos e da elite brasileira era a de que se tratava de um continente empobrecido e distante, com a preferência pela Europa e pelos Estados Unidos. Agora, “o Brasil está com os africanos na construção de um mundo mais justo e mais livre”, disse Lula.