Referendo não oficial busca resolver disputa territorial no Sudão

Residentes da região de Abyei, reivindicada pelo Sudão e pelo Sudão do Sul, iniciaram um referendo não oficial neste domingo (27), com continuação nesta segunda (28), para decidir a qual país pertencerão. De acordo com observadores, a iniciativa, não reconhecida pelos dois países em questão, pode inflamar as tensões entre os dois grupos étnicos locais e os Estados aos quais se dizem ligados.

Sudão e Sudão do Sul - UN Photo

Na votação, apenas um dos dois grupos locais, habitantes do distrito sob disputa, participou: o Ngok Dinka. O grupo árabe Misseriya, que tem laços diretos com o Sudão, boicotou o referendo e afirmou que não reconhecerá o resultado, previsto para quinta-feira (31).

“As pessoas estão votando para escolherem o Sudão do Sul ou para ser parte do Sudão”, disse Rou Manyiel, presidente da organização pela sociedade civil de Abyei, em entrevista à agência AFP.

“Há longas filas de pessoas, mas as pessoas estão pacíficas e calmas”, acrescentou Manyiel, que é um líder comunitário de longa data para o povo Ngok Dinka. Segundo ele, a votação deve durar até esta terça (29).

O Sudão do Sul separou-se do Sudão e tornou-se um país independente em julho de 2011, através de um referendo. Desde então, a definição da fronteira foi impossibilitada pela disputa pela região de Abyei, rica em recursos petrolíferos.

Disputa territorial

Como praticamente na África inteira, a configuração territorial do Sudão havia sido definida pelos colonizadores (no caso, britânicos), através da divisão dos povos e a imposição da convivência entre grupos étnicos por vezes rivais, o que acirrou conflitos graves.

No caso de Abyei, a questão inseriu-se num contexto maior de disputa entre os árabes e outros grupos étnicos da região, entre as áreas de Kordofan e Darfur, onde um profundo conflito armado ainda se mantém e a atuação de milícias propaga uma violência extrema.

Devido ao conflito pela região de Abyei entre os dois países, o território é atualmente patrulhado por uma missão da ONU composta por 4.000 tropas, lideradas pela Etiópia.

Em janeiro de 2005, um acordo de paz que encerrou a guerra civil do Sudão previa a realização de um referendo, em janeiro de 2011, pela separação e pela definição da fronteira, com o estabelecimento de Abyei como parte de um dos países.

A falha na definição do estatuto da região levou os líderes Nogk Dinka a declararem, na semana passada, que levariam adiante a sua própria votação, apesar das advertências da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Africana (UA), pela possibilidade de tensões.

As autoridades locais também disseram que não impediriam os nômades árabes Misseriya de acessar a área após o referendo. A votação “não afeta os outros acordos, não cancela o que foi estabelecido pela proposta de 21 de setembro de 2012 e o Acordo de Paz Geral”, disse Luka Biong Deng, porta-voz do comitê pelo referendo de Abyei.

Ainda na semana passada, o presidente do Sudão, Omar al-Bashir, encontrou-se com seu homólogo do Sudão do Sul, Salva Kiir, em meio à pressão regional pela determinação do futuro de Abyei. Embora ambos tenham classificado o encontro de “positivo”, nenhum avanço foi feito, e a questão continua entre as questões mais importantes a serem resolvidas entre os dois países.

O acordo de paz de 2005 encerrou um conflito de duas décadas entre o governo central do Sudão e os militantes do sul, e pavimentou o caminho para o referendo que resultou na independência do sul e a formação de um novo país, em 2011.

Com agências,
Da redação do Vermelho