EUA não querem dar visto de entrada a presidente sudanês 

O presidente do Sudão, Omar al-Bashir, pediu um visto para os Estados Unidos, para participar das reuniões de alto nível da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, na próxima semana, de acordo com um artigo do portal All Africa desta terça-feira (17). Seria um procedimento normal, não fosse o fato de Bashir ser indiciado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio, e estar sujeito a um mandado de prisão internacional.

Omar Al-Bashir - TLEP

“Nós condenamos qualquer esforço do presidente Bashir de viajar a Nova York, já que ele enfrenta acusações de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade pelo TPI. Diríamos que, antes de apresentar-se na sede da ONU, o presidente Bashir deveria apresentar-se ao TPI, em Haia [Holanda], para responder pelos crimes de que é acusado”, disse Marie Harf, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.

A embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power, também criticou veementemente a intenção de Bashir de viajar: “Tal viagem seria deplorável, cínica e imensamente inapropriada”.

Em julho, Bashir voltou à capital sudanesa, Cartum, após adiantar a sua retirada de uma conferência de alto nível da União Africana sobre a saúde, na Nigéria. Durante a visita ao país africano, o TPI pediu ao governo nigeriano a detenção imediata do indiciado.

Em agosto, a Arábia Saudita negou permissão de sobrevoo ao avião em que estavam o presidente e uma delegação de ministros sudaneses ao Irã para a tomada de posse do novo presidente persa, Hassan Rouhani. Outros episódios do gênero também antecederam esses exemplos.

A agência de notícias do Sudão (Suna) relatou que o Ministério de Relações Exteriores do país reagiu às declarações oficiais dos EUA “rejeitando a conduta da administração estadunidense com relação ao Sudão”.

O ministério afirmou que os EUA “não são qualificados moral, política e legalmente para dar sermões e conselhos relacionados com o Direito Internacional Humanitário e os direitos humanos, dado ao seu próprio histórico de crimes de guerra e extermínio contra povos inteiros, dos quais o último é a invasão do Iraque”.

Além disso, a declaração da chancelaria sudanesa critica também a administração estadunidense por recorrer ao TPI “como pretexto para criticar o pedido [de visto do presidente Bashir], quando os próprios EUA não são membro [do tribunal] e contrapõem-se a ele abertamente”.

A nota afirma “a adesão do Sudão aos seus direitos de participação integral em alto nível [de Chefe de Estado] da 68ª sessão da Assembleia Geral da ONU”, e exige que os EUA, “em sua capacidade de país anfitrião, emitam os vistos requisitados pela delegação do Sudão, liderada pelo presidente al-Bashir, o mais breve possível”.

O presidente Bashir foi o primeiro Chefe de Estado a ser indiciado pelo TPI, em 2009, por crimes de guerra, genocídio e crimes contra a humanidade, no contexto do conflito extremamente violento na região do Darfur (na fronteira com a Líbia, o Chade e República Centro-Africana), que eclodiu em 2003, entre populações de árabes e não árabes, com influências também islamitas.

Cerca de 200.000 a 400.000 mortes foram relatadas, em confrontos entre o governo, as milícias “Janjaweed” (alegadamente apoiadas pelo governo, com práticas de guerra como o estupro, a tortura, execução e o deslocamento forçado) e grupos rebeldes como o Exército Sudanês de Libertação e o Movimento por Igualdade e Justiça.

Com informações do portal All Africa,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho