Em luta, trabalhadores da Gerdau nos EUA vêm ao Brasil

Representantes dos trabalhadores de unidades da empresa brasileira nos Estados Unidos estão em Porto Alegre, pedindo abertura de diálogo com entidades sindicais e denunciando o desrespeito à legislação trabalhista e a pre

Trabalhadores das fábricas do Grupo Gerdau nos Estados Unidos publicaram um pedido na edição desta quarta-feira (10/05) do jornal Zero Hora, convidando o presidente da empresa, Jorge Gerdau Johannpeter, a visitar suas unidades americanas e conversar sobre o acordo coletivo sindical. Representantes do Sindicato Internacional dos Metalúrgicos dos Estados Unidos e Canadá vieram a Porto Alegre para encontro com lideranças políticas e sindicais, pedindo a abertura do diálogo entre o sindicato, os trabalhadores e a direção da empresa.

Segundo eles, a unidade da Siderúrgica Gerdau no Texas está desrespeitando direitos trabalhistas, recusa-se a negociar acordos coletivos, não dialoga com o sindicato da categoria, demitiu funcionários e impediu o ingresso de trabalhadores na fábrica. Os representantes dos trabalhadores estiveram na sede da empresa, onde entregaram uma carta expondo a situação e convidaram os funcionários a visitar as plantas da Gerdau nos Estados Unidos.

A nota, assinada por mais de 600 trabalhadores, afirma: “Por favor, venha aos Estados Unidos. Quem convida são os trabalhadores fiéis, talentosos e confiáveis das plantas da Gerdau nos Estados Unidos, que geraram milhares de dólares em lucro ao longo dos anos. Queremos conversar sobre o nosso acordo coletivo sindical e o que isso significa para nós. Queremos fazer com que o senhor entenda o quanto é importante para nós e nossas famílias, como meio de proteção do nosso padrão de vida. Queremos escutá-lo. Ouvimos dizer que o senhor acredita que os líderes do nosso sindicato na sede de Pittsburg atrapalham um acordo coletivo. Queremos aclarar as coisas. Nosso sindicato é uma instituição democrática. Os líderes são eleitos de forma democrática e utilizamos o sistema de voto secreto na decisão de aceitar ou rejeitar um acordo trabalhista. Queremos garantir que o senhor entenda isso e que tenha uma oportunidade de se manifestar”.

E conclui: “Queremos que nos veja como parceiros. Queremos continuar fazendo milhões em lucro para a empresa e queremos manter nosso padrão de vida. Estamos nisso juntos. Não queremos brigar, mas defenderemos nossas famílias contra ataques que reduzam nossa remuneração, nossos fundos de pensão e nossos seguros-saúde. Venha visitar suas plantas dos Estados Unidos. Precisamos conversar”.

Segundo os trabalhadores, os problemas começaram em 2004, quando a Gerdau adquiriu quatro fábricas nos Estados Unidos. Em depoimento prestado, na manhã desta quarta, na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do RS, o sindicalista Ben Hallas, dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos do Estado de Minnesota e representante da United Steelworkers (USW), disse que a Gerdau está desrespeitando relações trabalhistas nos Estados Unidos e investindo contra a ação dos sindicatos.

Precarização das relações de trabalho –
Segundo Hallas, “a Gerdau tem uma administração ditatorial e não demonstra disposição para negociar seriamente os contratos com os trabalhadores”. A empresa, informou, possui 12 metalúrgicas adquiridas desde 2994, empregando cerca de 3 mil trabalhadores nos Estados Unidos e no Canadá. O objetivo principal da missão de sindicalistas dos Estados Unidos no RS é tentar convencer a direção da empresa a negociar diretamente com os sindicatos.

A ausência de negociação, protestou, fez com que a Gerdau demitisse trabalhadores, de modo unilateral, a partir da adesão forçada a um instrumento denominado “contrato de concessões”. Segundo Ben Hallas, trata-se de uma espécie de acordo firmado entre a empresa e os trabalhadores, que acaba fragilizando as relações trabalhistas.

Ele listou algumas dessas precarizações: proposta de congelamento salarial por quatro anos, criação de níveis na escala salarial com pagamentos mais baixos para novas contratações, reestruturação de pensões acarretando redução de benefícios, cortes nos planos de saúde dos aposentados, cortes de horas-extras, convocação forçada com turnos de até 16 horas por dia e corte no período de férias.

O presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos, deputado estadual Dionilso Marcon (PT), fez contato com a direção da Gerdau, que ficou de definir uma data para receber o sindicalista. A empresa, em sua carta de princípios, defende as práticas da responsabilidade social e ambiental.

“Promovemos clima construtivo em nossas relações com entidades representativas de classe patronal e das categorias profissionais, que favoreça a melhoria contínua das relações de trabalho. A franqueza no diálogo, a abertura dos argumentos e o respeito às posições de cada parte, caracterizam nosso comportamento durante as negociações com os nossos colaboradores”, diz um texto disponível no site da empresa.

Os representantes das unidades da Gerdau nos Estados Unidos querem que esses princípios sejam colocados em prática nas negociações com suas entidades sindicais.

Por Marco Aurélio Weissheimer (Carta Maior)