Presidente sul-sudanês demite todo o governo em meio a tensões

O presidente do Sudão do Sul, mais novo país africano, Salva Kiir Mayardit dissolveu todo o governo, inclusive o seu vice-presidente, Riek Machar, através de um decreto emitido nesta terça-feira (23). Kiir também dispensou todos os vice-ministros, e Barnaba Marial Benjamin, ministro da Informação e porta-voz do governo, disse que uma reestruturação já era devida, mas questões sobre a estabilidade do país e as negociações com o Sudão foram predominantes.

Sudão do Sul - Hannah Mcneish / AFP

Kiir rejeitou qualquer indicação de que a reorganização, como chamou a ação, pudesse causar instabilidade no país, cuja independência do Sudão se deu há dois anos.

Entretanto, Benjamin disse ser provável que a reestruturação gere um debate aquecido dentro do governante Movimento pela Libertação do Povo do Sudão (SPLM), afirmando que “a última reorganização que ele [Kiir] fez foi em 2010. Assim, esta é uma reorganização significativa após quase três anos”.

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O presidente “agiu dentro do Constituição da República do Sudão do Sul. Esses são seus poderes constitucionais e é por isso que ele nomeou o secretário-geral do governo e o sub-secretário para monitorar a administração do governo até a altura em que ele poderá formar um novo governo”, disse Benjamin.

Entre os demitidos está Pagan Amum, secretário-geral do SPLM e o chefe do time negociador para o conflito com o Sudão. Benjamin disse que o presidente também estabeleceu um comitê para investigar Amum em questões relacionadas ao partido.

A reestruturação não é uma surpresa para muitos sul-sudaneses, de acordo com Benjamin: “Já havia afirmações gerais nos jornais sobre uma reorganização a caminho, mas que forma teria ninguém poderia adivinhar”. Um dos motivos mais fortes para a ação do presidente tem sido afirmado como uma disputa de poder dentro do partido governante, o SPLM.

Sobre as especulações com relação à desestabilização do Sudão do Sul, Benjamin disse: “nós escolhemos ser um país democrático, onde você tem a Constituição, através da qual o povo tem autoridade. Então, não vejo qualquer instabilidade advinda disso. Estou certo de que o povo entenderá isso”.

Uma maioria esmagadora de sul-sudaneses votou em janeiro de 2011 no referendo realizado em prol da secessão, e tornou-se o mais novo país da África, desde que a Eritreia separou-se da Etiópia, em 1993.

O novo país deve beneficiar-se da herança dos recursos petrolíferos sudaneses, mas as disputas com Cartum, governo do Sudão, sobre este assunto e sobre as fronteiras, e a insuficiência de um desenvolvimento econômico também são fatores de tensões continuadas.

O momento escolhido para a "reestruturação", assim, é considerado inoportuno e arriscado por diversos analistas, já que o Sudão e o Sudão do Sul ainda negociam aspectos finais da separação, como questões de segurança e a posse sobre as jazidas de petróleo, na região da fronteira.

Com informações do portal All Africa,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho