Augusto Buonicore: Marx, Engels e a Comuna de Paris

Ao final do seu magistral Guerra Civil na França, Marx escreveu: “A Paris operária com a sua Comuna será sempre celebrada como o arauto glorioso de uma nova sociedade. Os seus mártires estão guardados como relíquias no grande coração da classe operária. E aos seus exterminadores, já a história os amarrou àquele pelourinho eterno onde todas as orações dos seus padres não os conseguirão redimir”.

Por Augusto Buonicore, da Fundação Mauricio Grabois

Marx jamais teve qualquer dúvida sobre o papel desempenhado pela Comuna de Paris na história dos movimentos operário e socialista internacionais. Mas, numa contradição aparente, ele várias vezes expressou a opinião de que aquele levante operário e popular deveria ter sido evitado. Para ele, a Comuna continuou sendo uma tentativa heroica dos operários de tomar os céus de assalto.

Napoleão III, Bismark e a Guerra franco-prussiana

Louis Bonaparte, sobrinho do imperador Napoleão Bonaparte, havia chegado à presidência da República francesa por via do sufrágio universal, após o massacre do Levante dos operários parisienses de junho de 1848. Logo em seguida, em 1852, ele se proclamou imperador dos franceses sob o título de Napoleão III. Sobre a ascensão deste último – chamado de “napoleãzinho” pelo grande escritor Victor Hugo – Marx escreveu duas obras importantes: As lutas de classes na França e O 18 de Brumário de Louis Bonaparte.

Nos primeiros anos do governo de Louis Bonaparte, a oposição foi tímida, graças ao esmagamento do movimento operário autônomo e das correntes republicanas pequeno-burguesas. O governo imperial, com mãos de ferro, deu certa estabilidade ao rápido desenvolvimento capitalista vivido pela França. Entre 1847 e 1872 a indústria teve um crescimento de 80%. Expandiram-se as ferrovias, a metalurgia e as redes bancárias.

Napoleãozinho, como o tio, buscou glórias no exterior e o fez de maneira bastante controvertida. Primeiramente, apoiou os italianos na sua luta contra a reacionária Áustria. Depois, mudou de lado: fez as pazes com a Áustria e se aliou ao papado contra a unificação da Itália. No final, a França acabou anexando Saboia e Nice. Nestes entreveros, Roma chegou a ser bombardeada. Fato que causou horror entre os republicanos franceses.

O imperador também entrou numa aventura militar no México. As nações europeias destituíram o governo de Benito Juarez e colocaram em seu lugar, como imperador, um arquiduque austríaco chamado Maximiliano. Uma verdadeira ofensa à dignidade nacional mexicana. A ocupação estrangeira ocasionou uma sangrenta guerra de libertação. Somente a França teimou em ficar até o fim ao lado de Maximiliano. Este foi destronado, preso e fuzilado em 1867. Napoleão saiu desmoralizado do episódio.

No final da década de 1860, o desgaste do império já era evidente. O vencedor absoluto de diversos plebiscitos passou a tropeçar nas urnas e nas ruas. Na eleição de 1869, a oposição conseguiu mais de três milhões e trezentos mil votos e o governo quatro milhões e seiscentos mil. As greves operárias começaram a se espalhar pelo país. Nelas, tiveram um importante papel os membros da seção francesa da Associação Internacional dos Trabalhadores, a AIT.

As coisas esquentaram quando, em janeiro de 1870, um primo-irmão de Bonaparte matou um jornalista republicano. A justiça imperial inocentou o assassino e ainda condenou o jornal onde trabalhava a vítima. O povo de Paris respondeu ao ultraje realizando grandes manifestações, como havia muito não se via. Sentia-se, novamente, um cheiro de revolução no ar.

Napoleão III pensou que a melhor maneira para desviar a atenção sobre seu governo em crise seria conduzir o país para uma nova guerra. O alvo, desta vez, deveria ser uma grande potência europeia, aquela que representava o principal perigo para a expansão do capitalismo francês. Assim, a escolhida foi a Prússia.
O rei prussiano, Guilherme, e seu chanceler, Oto Von Bismarck, estavam empenhados numa luta para unificar a nação alemã, que estava dividida em uma série de pequenos estados autônomos. A vitória militar sobre a Áustria, em 1866, havia permitido incorporar toda a região setentrional na chamada Confederação Alemã do Norte. Para o plano se completar faltava ainda anexar alguns estados ao sul, justamente na fronteira da França. Uma vitória militar sobre seu vizinho pretensioso viria a calhar.

No entanto, o governo prussiano não queria ser o responsável pelo início de novos conflitos armados na Europa. Uma preocupação que Napoleão III não tinha e, por isso, pensando agir no seu próprio interesse, se lançaria numa guerra desastrosa que faria o jogo do seu principal inimigo no continente.
O álibi para a guerra acabou sendo dado quando o trono espanhol foi oferecido ao primo do rei da Prússia. A França se disse ameaçada e não aceitou tal solução. Exigiu que Guilherme convencesse seu parente a renunciar de tal pretensão. E, estranhamente, os alemães aceitaram o ultimato. Não contente com o resultado, Napoleão III foi ainda mais longe: passou a exigir-lhes a cessão de territórios, que alegava serem necessários à defesa do seu país. Diante disso, Guilherme e Bismarck recusaram-se a receber oficialmente o representante diplomático francês.

Sem demora, periódicos governistas falavam sobre ofensas alemãs à honra da França e pediam a declaração de guerra à Prússia. Até este momento, o conflito armado não era bem visto pelos povos de nenhum dos lados da fronteira. A própria oposição republicano-burguesa foi reticente em apoiar mais uma aventura militar. Por isso, exigiu que fossem apresentadas provas que autenticassem as informações publicadas na imprensa ligada a Bonaparte. De nada valeram as objeções e os protestos, a guerra já estava decidida pelo imperador e seus generais.

A AIT se levantou contra a guerra iminente. No dia 12 de julho, sua seção francesa publicou um manifesto no qual afirma: “Uma vez mais a pretexto de equilíbrio europeu e de honra nacional, a paz do mundo está sendo ameaçada (…). Trabalhadores da França, da Alemanha e da Espanha unamos nossas vozes num mesmo grito de reprovação! (…) A guerra por uma questão de preponderância ou de dinastia só pode ser, aos olhos dos trabalhadores, uma loucura criminosa (…). Irmãos da Alemanha!, as nossas divisões só resultariam no triunfo completo do despotismo dos dois lados do Reno”.

Alguns dias depois surgia um novo manifesto: “A guerra é justa? Não! A guerra é nacional! Não! Ela é puramente dinástica. Em nome da humanidade, da democracia e dos verdadeiros interesses da França, aderimos completa e energicamente ao protesto da Internacional contra a guerra!”. Era o grito da classe operária francesa contra o nacionalismo estreito e o chauvinismo de parte de suas elites governantes.

No dia 16 de julho os operários alemães responderam a seus camaradas franceses: “somos adversários de todas as guerras, mas, antes de tudo, das guerras dinásticas (…). Com pena e dor profundas vemo-nos forçados a entrar numa guerra defensiva como um mal inevitável; mas apelamos ao mesmo tempo, a toda a classe operária pensante, para que torne impossível a repetição de uma tão monstruosa desgraça social, reivindicando para o povo o direito de decidir sobre a guerra e a paz, tornando-os, assim, senhores dos seus próprios destinos”.

Nos primeiros dias do conflito franco-prussiano, em 11 de agosto, Guilherme lançou uma mensagem ao mundo: “O imperador Napoleão atacou, por água e por terra, a nação alemã, que desejou e continua a desejar viver em paz com o povo francês; tomei o comando supremo do exército alemão para repelir a sua agressão e fui levado pelos acontecimentos militares a atravessar a fronteira da França”.

Os líderes militares da Prússia procuraram, até quanto foi possível, apresentar a guerra como defensiva, voltada apenas contra a agressão bonapartista. Num primeiro momento, esta opinião foi amplamente aceita pela maioria dos dirigentes operários alemães e da Associação Internacional dos Trabalhadores, incluindo Marx e Engels.

Marx, Engels e Guerra franco-prussiana

A Primeira Mensagem do Conselho Geral da AIT, de 23 de julho de 1870, redigida pelo próprio Marx, afirmava: “do lado alemão, a guerra é uma guerra de defesa”. Portanto, uma guerra justa. Mas, imediatamente, alertava que esta situação poderia ser alterada se “a classe operária alemã permitisse que a presente guerra perdesse seu caráter estritamente defensivo e degenerasse numa guerra contra o povo francês, então a vitória ou a derrota seriam igualmente desastrosas”. Continuou: “Qualquer simpatia que os alemães pudessem reclamar, com razão, numa guerra de defesa nacional contra a agressão bonapartista, perdê-la-iam imediatamente se permitissem que o governo prussiano apelasse para a ajuda dos cossacos ou a aceitasse”. Pelo que é possível ver, até os primeiros dias do conflito, as simpatias da AIT se destinavam para o lado prussiano.

Qual deveria ser, segundo Marx e Engels, a posição dos operários e comunistas alemães durante este breve período em que a guerra ainda não se caracterizava como uma guerra de conquista e de anexações contra a França? Defender a vitória prussiana sobre Napoleão III. “Os franceses precisam levar uma surra!”. Assim Marx expressou seu sentimento numa carta endereçada ao amigo Engels.
Nesta mesma mensagem, datada de 20 de junho, explicaria as razões de tal afirmação: “Se os prussianos vencerem, a centralização do Estado favorecerá a centralização da classe operária. Além disso, a supremacia alemã deslocará o centro de gravidade do movimento operário do ocidente da Europa, da França para a Alemanha, e basta comparar o desenvolvimento de ambos os países desde 1866 para se convencer de que a classe operária alemã está acima da francesa, tanto em teoria como em organização. O triunfo da primeira sobre a segunda representará ao mesmo tempo um triunfo de nossa teoria sobre a de Proudhon”. Eram as ideias deste último que predominavam na seção francesa da AIT.

Por esses mesmos motivos, Marx reprovaria a atitude dos dois únicos deputados socialistas (marxistas) no Reichstag do norte da Alemanha, Wilhelm Liebknecht e Augusto Bebel, que haviam se abstido na votação dos créditos para a guerra contra a França.

As opiniões de Marx e Engels, mais uma vez, eram coincidentes. Numa carta, datada de 15 de agosto, este último escreveu: “a Alemanha é arrastada por Badinguet (Bonaparte) para uma guerra de defesa da sua existência nacional. Se Bandiguet triunfar, o bonapartismo ficará consolidado por muitos anos e a Alemanha ficará destruída durante muito tempo, talvez por várias gerações. Não podemos pensar num movimento operário alemão autônomo; a luta pela restauração da unidade nacional absorvê-lo-ia inteiramente (…). A vitória da Alemanha acabaria de vez com o bonapartismo francês e com a eterna disputa em torno da restauração da unidade alemã. Então, os operários alemães poderiam se organizar numa base nacional muito diferente da de hoje, e os franceses, qualquer que fosse o governo que lhes deparasse, teriam muito mais liberdade que sob o bonapartismo. A massa do povo alemão, sem distinção de classe, viu que nesta guerra está em jogo, antes de mais nada, sua existência como nação, levantando-se em armas sem vacilar. Não creio, pois, que nenhum partido político deva pregar nestas circunstâncias a la Guilherme (Liebknecht) a obstrução total, antepondo uma série de considerações secundárias àquilo que deveria ser o objetivo principal”.

Engels expressaria a ideia de que Guilherme e Bismarck, ao contrário do seu adversário francês, representariam uma espécie de “bonapartismo” progressista: “Seria absurdo pretender erigir o antibismarckismo em princípio (…). Em primeiro lugar, Bismarck, tanto agora, como em 1866, não faz mais do que impulsionar com a sua política o nosso movimento, à sua maneira e sem o saber, é claro”. Como a burguesia e os junkers poderiam ajudar na realização dos objetivos dos comunistas alemães? Unificando a nação, industrializando-a e forjando uma forte classe operária. Em outras palavras, criando os coveiros que iriam enterrá-los futuramente.

Nos meses em que durou a guerra – e mesmo depois – Marx e Engels criticaram duramente o nacionalismo da classe operária francesa, considerado resquício na memória popular do processo de resistência armada da grande Revolução Francesa contra uma Europa conservadora. Era preciso que se livrasse deste passado se quisesse construir um futuro socialista. Napoleão III – escreveu Engels – “não teria podido empenhar-se nesta guerra se não fosse o chauvinismo da massa do povo francês (…). Enquanto este chauvinismo não for esmagado sem piedade, não haverá paz possível entre a Alemanha e a França”.

Embora Marx e Engels não usassem este termo, podemos dizer que a chamada “questão nacional” estava no centro da estratégia dos comunistas alemães. No caso francês, por suas tradições, a luta de classes tendia a se encobrir com o manto nacional. Na Alemanha ocorria justamente o contrário.

A guerra prussiana muda de conteúdo

A guerra defensiva dos prussianos durou pouco. Em 2 de setembro Napoleão III e parte de seu alto comando se renderam vergonhosamente em Sedan. Dois dias depois era proclamada a República em Paris e formado um Governo de Defesa Nacional.

Para Marx e a AIT não havia mais razão para o prosseguimento do conflito. Contudo, não era assim que pensavam o governo e as classes dominantes prussianas. Eles haviam prometido conduzir uma guerra apenas defensiva e agora mostravam suas garras.

Buscando convencer o “pacífico” rei prussiano de que a Alemanha precisava de “espaço vital” que lhe garantisse sua segurança externa contra novos ataques estrangeiros, os latifundiários e burgueses realizaram inúmeras manifestações. Exigiam a anexação de territórios franceses (Alsácia e Lorena) e a cobrança de pesadas indenizações dos vencidos. O rei e Bismarck, muito atentos ao clamor da “opinião pública”, resolveram atendê-los.

Numa segunda mensagem – escrita por Marx datada de 9 de setembro –, a direção da AIT afirmou: “A guerra de defesa acabou com a rendição de Louis Bonaparte, com a capitulação de Sedan e com a proclamação da República em Paris. Mas muito antes destes acontecimentos, no momento mesmo em que se tornava evidente a completa podridão das armas imperiais (refere-se aos exércitos de Napoleão), a camarilha militar prussiana tinha se decidido pela conquista”. Num discurso feito num comício em Konigsberg, o socialista reformista alemão, Johann Jacoby, foi na mesma linha, mas com tonalidades mais nacionalistas: “Até há poucos dias, a nossa guerra era um guerra defensiva, uma guerra santa pela nossa amada pátria; hoje é uma guerra de conquista, uma cruzada para impor a supremacia da raça germânica na Europa”.

A partir de então era preciso adotar uma outra política diante do conflito que continuava, agora com a ocupação da França e a ameaça sobre Paris revolucionária. Dos operários alemães partiu o grito internacionalista: “protestamos contra a anexação de Alsácia-Lorena. E estamos conscientes de que falamos em nome da classe operária alemã. No interesse comum da França e da Alemanha, no interesse da paz e da liberdade, no interesse da civilização ocidental contra a barbárie oriental, os operários alemães não suportarão pacientemente a anexação de Alsácia-Lorena”. Este era o tom do Manifesto do Comitê Central do Partido Operário Social Democrata da Alemanha (marxista) de 5 de setembro de 1870.

Marx, embora achasse justa, não se mostrava otimista quanto à possibilidade de sair vitoriosa a reivindicação de seus camaradas alemães: “Infelizmente, não podemos ter grandes esperanças nos seus êxitos imediatos. Se os operários franceses, em plena paz, não conseguiram parar o agressor,poderão mais facilmente os operários alemães parar o vencedor em pleno clamor das armas?”.

Quando o parlamento se reuniu, novamente, para discutir novos créditos para a guerra, Liebknecht e Bebel votaram contra sua aprovação. Desta vez, esta atitude foi saudada por Marx e Engels. Acabada a sessão, os dois parlamentares socialistas foram presos e acusados de alta traição.

Se, de um lado, era preciso pedir o fim das ações militares prussianas e se posicionar contra as anexações, de outro, era necessário continuar combatendo o nacionalismo francês que pedia a continuação da guerra agora sob o manto de “guerra de libertação”. O alvo principal das críticas eram os blanquistas, que queriam reviver os heroicos anos da grande Revolução Francesa.
O seu slogan era “A Pátria em Perigo!”, título do jornal editado pelo próprio Blanqui depois da queda de Sedan. Nele, podia se ler: “vai-se combater por aquilo que é a respiração de todos (…) a pátria”. “De pé contra os teutões, esses homens de longas tripas e pés chatos que pretendem ser a elite do gênero humano; de pé, para acabar com as hostes bestiais da noite”.

Este tipo de linguagem, típica dos revolucionários franceses, enfurecia Marx que revidava: “Esses homens, que suportaram Bandiguet durante 20 anos, que, seis meses atrás, não puderam impedir que ele obtivesse 6 milhões de votos contra um milhão e meio, e que, sem razão, ele os lançasse contra a Alemanha, essa gente exige agora, porque os alemães vencedores lhes deram de presente uma República – e que República! Que os alemães deixem imediatamente o solo sagrado da França, se não: guerra até o fim”.

Sem dúvida, Marx cometia uma grande injustiça para com os blanquistas. Na França, a bandeira nacional havia muito tinha caído das mãos da burguesia. Esta, inclusive, capitulou diante da ocupação estrangeira em nome do restabelecimento da ordem (…) do Capital. Em breve, se aliaria aos inimigos prussianos contra a revolta dos operários parisienses.

Num artigo do Daily News, publicado em 16 de janeiro de 1871, Marx, compreendendo isso, escreveria: “A França – cuja causa, felizmente, está muito longe de ser desesperadora – luta neste momento, não só pela própria independência nacional, como também pela liberdade da Alemanha e da Europa”. Existia um forte elemento nacional na luta dos franceses, especialmente após a ocupação prussiana. Sem ele não poderíamos entender a própria formação da Comuna de Paris.
Em 28 de janeiro, com a França derrotada, foi estabelecido o armistício que deveria durar três semanas. Enquanto isso, o país seria chamado a votar e eleger sua Assembleia Nacional. Caberia ao novo parlamento decidir sobre os encaminhamentos da paz com a Prússia. Guilherme, atendendo ao clamor da burguesia, exigia a entrega das regiões francesas de Alsácia-Lorena, que já estavam sob ocupação, e o pagamento de pesada indenização.

A eleição, ocorrida com parte do território francês ocupado e Paris sob cerco militar – além de não existirem partidos republicanos e socialistas organizados nas províncias –, levou à vitória das forças conservadoras pró-monarquia. Formou-se uma Assembleia Nacional onde predominavam os ruralistas dispostos a fazer qualquer acordo com a Prússia, contanto que a antiga ordem fosse preservada. Neste quadro, a soberania nacional e a República estavam seriamente ameaçadas. À cabeça do governo conservador estava Louis Adolphe Thiers.

Não podendo se reunir na capital parisiense, temendo os operários armados, a Assembleia ocorreu em Bordeaux e depois passou a funcionar em Versalhes, transformando-se num centro de conspiração contra a Paris revolucionária. Os poucos republicanos eleitos, como Giuseppe Garibaldi e Victor Hugo, eram apupados pela malta realista. Ali se planejava cuidadosamente uma provocação, como ocorrera em junho de 1848. O objetivo, novamente, era varrer a cidade com seus fuzis e, quem sabe, desta vez, contando com o apoio de um poderoso exército estrangeiro.

A fome, gerada pelo cerco militar, e as notícias preocupantes vindas de Versalhes levaram ao crescimento da ira popular. Paris era um barril de pólvora prestes a explodir. Marx e Engels temiam que isso pudesse acontecer, pois as condições políticas e militares eram bastante desfavoráveis a qualquer insurreição.

“A classe operária francesa move-se, pois, em circunstâncias de extrema dificuldade. Qualquer tentativa de derrubamento do novo governo na presente crise, quando o inimigo bate às portas de Paris, seria uma loucura desesperada. Os operários franceses têm que cumprir seus deveres como cidadãos; mas, ao mesmo tempo, não devem se deixar iludir pelas lembranças nacionais de 1792 (…). Não têm de recapitular o passado, mas construir o futuro. Que aproveitem, calma e resolutamente, as oportunidades da liberdade republicana, para o trabalho da sua própria organização de classe”. Isso era o que dizia a Segunda Mensagem do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores sobre a Guerra Franco-Prussiana, redigida por Marx em 9 de setembro.

Poucos dias antes, em 6 de setembro, Marx havia escrito uma carta para Engels, na qual mostrava alegria pela viagem de seu camarada Auguste Serraillier à capital francesa. A sua presença ali seria importante, pois “toda a seção francesa se colocou a caminho de Paris para ir lá fazer besteira em nome da Internacional. Eles querem derrubar o governo provisório, estabelecer a Comuna de Paris”. Algo que Marx, naquele momento, desaprovava dizendo ser algo temerário.

Respondeu Engels: “Acaba de sair Dupont. Esteve aqui à noite e estava indignado com a bela proclamação parisiense. Tranquiliza-o saber que Serraillier partiu após falar com você. Suas opiniões sobre o caso são muito claras e muito justas: aproveitar a liberdade que a República terá que dar inevitavelmente à França para organizar o Partido”. Os operários deveriam usar a democracia recém-conquistada – ainda que limitada – para avançar no seu processo de organização. Esta posição se manteve até o momento da eclosão da Comuna de Paris.

Ainda em fevereiro, quando do aniversário da Revolução de 1848, a AIT desautorizou a realização de qualquer manifestação, mesmo pacífica, nas ruas de Paris. Sabia que isso poderia servir de pretexto para provocações, causando uma intervenção do exército prussiano ou francês. Ainda estavam frescos em sua memória os massacres ocorridos durante a rebelião operária de junho de 1848. Por mais corretas que fossem suas opiniões, Marx e Engels não estavam em condições de impedir o que estava por vir.

Eclode a Comuna de Paris

O governo de Thiers, nas sombras, preparava o desarmamento da cidade de Paris. A Guarda Nacional, composta predominantemente de operários e pequeno-burgueses revolucionários, era uma ameaça real aos interesses da grande burguesia e dos agrários.

Estes desejavam paz a qualquer preço, inclusive abrindo mão da soberania nacional. Muitos deles queriam mesmo a volta da monarquia, que fora derrubada pelo povo parisiense após a capitulação vergonha de Napoleão III. Mesmo os republicanos burgueses desejavam apenas uma República liberal e não uma República Social, apregoada pelos trabalhadores. Para monarquistas e republicanos burgueses, a agitação popular em Paris tinha que ter um fim, mesmo que isso custasse muito sangue.

No dia 18 de março, os soldados enviados para roubar os canhões que protegiam Paris – e que haviam sido comprados através de subscrições públicas – recusaram-se a fazê-lo, mudaram de lado e aderiram à revolta que se iniciava. A cidade ficou sob o governo exclusivo do Comitê Central da Guarda Nacional. Em outras palavras: o poder político caiu nas mãos dos trabalhadores e das massas populares. Era o início da Comuna de Paris.
As primeiras notícias, evidentemente, preocuparam Marx e Engels. Mas, agora se tratava de dar apoio irrestrito ao movimento revolucionário que eclodira. Mesmo sabendo das dificuldades quase intransponíveis que encontrariam, devia-se contribuir para que ele fosse vitorioso.

A partir deste momento, Marx vê-se na obrigação de rebater toda e qualquer crítica à Comuna, mesmo aquelas que recentemente chegara a esposar. Quando seu amigo Ludwig Kugelmann criticou-a por ter empreendido uma luta sem possibilidade alguma de vitória – comparando-a ao Levante pequeno-burguês de 13 de junho de 1849 –, Marx respondeu indignado: “A história mundial seria na verdade muito fácil de fazer se a luta fosse empreendida apenas em condições nas quais as possibilidades fossem infalivelmente favoráveis”. Continuou: “eles (os homens de Versalhes) colocaram os parisienses perante a alternativa de aceitar o combate ou sucumbir sem luta. No último caso, a desmoralização da classe operária seria um mal muito maior que a perda dum qualquer número de ‘chefes’”.

Aqui, em certo sentido, Marx parecia desdizer o que afirmara pouco tempo antes. O Levante havia sido justo e mais do que isso: teria sido, diante das circunstâncias dadas, a única alternativa possível aos parisienses. As alternativas pareciam ser: ou o levante armado ou a desmoralização dos operários!

Naqueles dias, as únicas críticas que se ouviu de Marx (e Engels) foi quanto à timidez das medidas político-militares da Comuna. Numa outra carta a Kugelman, afirmou: “Se eles sucumbirem à causa será apenas o seu ‘bom caráter’. Eles deviam ter marchado imediatamente sobre Versalhes (…). Por escrúpulo de consciência deixou-se passar o momento favorável. Não se quis começar a guerra civil como se esse nocivo aborto Thiers já não a tivesse começado, quando tentou desarmar Paris. Segundo erro: O Comitê Central anulou muito cedo as suas funções para dar lugar à Comuna, ainda por escrúpulos muito honrados”. Já que a revolução havia eclodido, ela deveria ter se mantido na ofensiva.

Ao invés de aproveitarem-se da rápida vitória conquistada e marcharem imediatamente sobre Versalhes, os revolucionários procuraram dar legitimidade à sua atitude organizando eleições democráticas. Esta decisão deu o tempo necessário para que Thiers organizasse suas forças militares e preparasse o seu ataque contra Paris.

No seu clássico Guerra Civil na França, escrito nos últimos dias da Comuna, Marx reforçou a crítica quanto à timidez dos comunardos diante da guerra civil que lhes era imposta: “Até os sargents-de-ville, em vez de serem desarmados e encarcerados, como se devia ter feito, tiveram as portas de Paris abertas de par em par, para sua retirada a salvo para Versalhes. Os homens da ordem não só não foram molestados como lhes foi consentido reagruparem-se e tomarem conta, placidamente, de mais uma posição de força no próprio centro de Paris. Esta indulgência do Comitê Central – esta magnanimidade dos operários armados –, tão estranhamente em desacordo com os hábitos do ‘partido da ordem’, foi interpretada por este último como fraqueza”. Isso fez apenas aumentar a violência de Versalhes contra os seus prisioneiros. Marx, que era tão avesso às reminiscências da revolução francesa, parece que se inspirava no terror jacobino para derrotar a contrarrevolução de Versalhes.

O próprio decreto sobre os reféns, que dizia “dente por dente, olho por olho”, não foi cumprido. Por isso, os homens de Versalhes continuaram executando sumariamente todos os prisioneiros que lhes caíam nas mãos. Foi recusado aos combatentes parisienses o status de beligerantes e, por isso, não lhes foram estendidas as garantias dadas pela primeira Convenção de Genebra, estabelecida em 1864.

As execuções dos reféns começaram somente quando a Comuna já estava derrotada e seus integrantes massacrados, mesmo quando rendidos. Elas foram mais atos de desespero – ou de “ira santa” – do que propriamente ações visando a interesses estratégicos. Diríamos mesmo que elas desempenharam um papel negativo naquele momento e foram usados fartamente por seus inimigos. A notícia da execução dos reféns, incluindo o arcebispo de Paris, correu o mundo.

A burguesia procurava, assim, encobrir os crimes que ela estava cometendo. Como disse Marx, “o velho mundo contorceu-se em convulsões de raiva, à vista da Bandeira Vermelha, símbolo da República do Trabalho, a flutuar sobre o Hôtel de Ville”. Por isso, no dia de sua vitória, extravasou todo o seu ódio na mais abominável e sangrenta das vinganças. Cerca de trinta mil comunardos morreram – a grande parte executada friamente após o final daquele conflito –, mais de 40 mil foram aprisionados e condenados aos trabalhos forçados em colônias penais distantes (Argélia e Nova Caledônia). Muitos morreram no exílio antes que a anistia os atingisse em 1880. A burguesia, através da sua repressão insana, chegou a despovoar Paris de seus operários, causando um prejuízo ao próprio desenvolvimento industrial da França. E ela continuou, por mais de um século, cobrando dos operários a execução de 64 reféns e o incêndio de seus belos edifícios.

Em defesa dos comunardos

Até o momento em que os últimos combates estavam sendo travados, Marx defendeu integralmente às ações dos comunardos, inclusive seus atos violentos e desesperados. Entre eles, estavam os incêndios premeditados e a execução dos reféns. Escreveu ele: “Paris operária, no seu ato de holocausto heroico, envolveu nas suas chamas edifícios e monumentos. (…) O governo de Versalhes grita ‘incendiários!’ (…). A burguesia do mundo inteiro, que olha complacentemente o massacre em grande escala depois das batalhas, fica convulsiva de horror à profanação de tijolos e argamassa”.
Na guerra, continuou, “o fogo é uma arma tão legítima como qualquer outra. Edifícios ocupados pelo inimigo são bombardeados para pôr-lhes fogo. Se os defensores têm que se retirar, eles mesmos ateiam as chamas para impedir que o atacante faça uso dos edifícios. Serem queimados tem sido sempre a sorte inevitável de todos os edifícios localizados na frente de batalha de todos os exércitos regulares. Mas, na guerra dos escravizados contra os seus escravizadores, a única guerra justificável na história, isso de modo nenhum seria válido?! A Comuna usou o fogo estritamente como meio de defesa (…). E a defesa só recorreu ao fogo quando as tropas de Versalhes já tinham começado o assassínio de prisioneiros em grande escala (…). Os adversários em nada se preocupavam com as vidas do povo de Paris, mas somente com os seus próprios edifícios em Paris”.

Sobre a execução dos reféns, Marx também procurou justificar tal ação. “Quando Thiers (…), desde o começo do conflito, pôs em vigor a prática de executar os prisioneiros da Comuna, ela foi obrigada, para proteger suas vidas, a recorrer à prática prussiana de manter reféns. As vidas dos reféns haviam sido condenadas repetidas vezes pela execução continuada de prisioneiros por parte dos versalheses”.

“Mas e a execução pela Comuna dos sessenta e quatro reféns, com o arcebispo de Paris à frente?! (…) O assassino real do arcebispo Darboy é o próprio Thiers. Repetidas vezes a Comuna tinha oferecido trocar o arcebispo, e ainda uma quantidade de padres, só por Blanqui, então nas mãos de Thiers. Este se recusou obstinadamente (em aceitar a proposta). Ele sabia que com Blanqui daria uma cabeça à Comuna, enquanto o arcebispo serviria melhor ao seu propósito sob a forma de cadáver”.

Uma grande parte dos reféns era composta de padres – um resquício do forte anticlericalismo presente entre os revolucionários desde a primeira Revolução Francesa. Enquanto isso, banqueiros e grandes industriais ficavam livres e esperando, ainda que preocupados, em suas casas pela “libertação” de Paris pelas tropas de Thiers. Numa crítica velada a este tipo de atitude, Marx afirmou que o confisco do Banco da França, que o comunardos não fizeram, teria valido muito mais que a vida de cem reféns.

Coube a Marx realizar a defesa integral da Comuna, apesar das divergências que pudesse ter. A coletânea de manifestos escritos por ele para a Associação Internacional dos Trabalhadores, publicada em livro sob o título A Guerra Civil na França, causou grande polêmica. Escreveu Marx: “Fez-se um barulho dos diabos e a estas horas tenho a honra de ser o homem mais caluniado e mais odiado de toda a cidade de Londres”. Muitos socialistas, numa atitude oportunista, o repreenderam por trazer a responsabilidade pelos atos da Comuna para a AIT, atraindo sobre ela o ódio e as medidas repressivas da burguesia.
Existem fortes indícios de que Marx, no fundo, também não havia concordado com aquelas atitudes desesperadas, mas teria evitado expressar esta opinião publicamente, pois isso só faria reforçar os argumentos dos reacionários. A tarefa principal seria, justamente, desmascarar a hipocrisia burguesa.

Poucos anos mais tarde, em 1864, quando os blanquistas exilados passaram a reivindicar para si todos os atos da Comuna, inclusive os incêndios e as execuções, Engels escreveu: “Em qualquer revolução acontece, inevitavelmente, toda espécie de disparates (…) e quando, de novo, se retorna à calma, chega-se necessariamente à conclusão: fizemos muitas coisas que teria sido melhor que não tivéssemos feito; e deixamos de fazer muitas outras que deveríamos ter feito, por isso sofremos um revés. Mas, que falta de espírito crítico, santificar a Comuna, declará-la infalível, afirmar que cada casa incendiada, cada refém fuzilado sofreu exatamente e até o último pormenor o que lhe era devido”.

Voltando ao tema Comuna de Paris, numa carta a Domela-Nieuwenhuls, de 6 fevereiro de 1881, Marx, já no fim da vida, escreveu: “abstração feita de que se tratava de uma simples sublevação de uma cidade em condições excepcionais, a maioria da Comuna não era socialista e nem podia sê-lo. Com uma fraca dose de bom senso, ela poderia, entretanto, ter obtido de Versalhes um acordo útil a toda massa do povo, única coisa que era possível atingir naquele momento”. No final de sua vida, Marx parece voltar à velha posição esposada nos dias anteriores da eclosão da Comuna de Paris. Os operários de fato, apesar de todo heroísmo, haviam tentado tomar os céus de assalto.

Comuna de Paris: Ditadura do Proletariado?

No final do seu Prefácio à Guerra Civil na França (1891), Engels escreveu categórico: “O filisteu social-democrata caiu recentemente, outra vez, num salutar terror, à palavra: ditadura do proletariado. Ora bem, senhores, quereis saber o rosto que tem esta ditadura? Olhai para a Comuna de Paris. Ela era a ditadura do proletariado”.

Creio que esta representava a visão de Marx, pelo menos quando publicou A Guerra Civil na França em maio de 1871, pois afirmou que a Comuna havia sido a “forma positiva” da República Social aclamada pelos operários parisienses nas rebeliões de 1848. Para ele, a Comuna “era, essencialmente, um governo da classe operária, o produto da luta da classe produtora contra a proprietária, a forma política, finalmente encontrada, com a qual se realiza a emancipação econômica do trabalho”. Continuou: “A Comuna havia, pois, de servir como uma alavanca para extirpar os fundamentos econômicos sobre os quais se assenta a existência de classes e, por conseguinte, a dominação de classe. Emancipado o trabalho, todo homem se torna trabalhador e o trabalho produtivo deixa de ser atributo de classe”. E foi ainda mais longe: “Sim, senhores, a Comuna tencionava abolir toda essa propriedade de classe que faz o trabalho de muitos a riqueza de poucos. Ela aspirava à expropriação dos expropriadores”. Sem dúvida, para ele, a Comuna de Paris teria sido um protótipo de Ditadura do Proletariado, embora limitado, pois foi estabelecido numa região restrita e por pouco tempo.

O estranho é que as tímidas medidas econômicas e sociais da Comuna – limitadas pelo Estado de Guerra e nos limites de uma cidade – pudessem ter empolgado tanto Marx e Engels. É claro que, como afirmamos, Marx chegou a duvidar da justeza do Levante e do caráter operário-socialista da Comuna: “a maioria da Comuna não era socialista e nem podia sê-lo”. Como pensar uma ditadura do proletariado sem uma maioria socialista em sua direção?

Foi, justamente, neste ponto que se pegaram Lênin e Trotsky para negar-lhe o título pleno de governo socialista e de ditadura do proletariado. No artigo A Comuna de Paris e as Tarefas da Ditadura Democrática (1905), Lênin pergunta: “Foi a Comuna uma ditadura do proletariado?”. E ele mesmo responde: “De maneira nenhuma! O proletariado consciente (apenas mais ou menos consciente), quer dizer, os membros da Internacional estavam em minoria; a maioria do governo era de representantes da democracia pequeno-burguesa”.

Na sua argumentação usa uma passagem da obra antológica de Lissagaray: “Eram os seus membros agitadores conhecidos? Socialistas? Absolutamente, eram pessoas de nome desconhecidos: pequeno-burgueses, lojistas e empregados subalternos”, portanto, não-proletários. Continua Lênin: “a meta imediata da Comuna era a revolução socialista completa? Não podemos ter essas ilusões”.

A verdadeira tarefa que a Comuna teve de cumprir foi, acima de tudo, o exercício da ditadura democrática e não socialista, ou seja, a aplicação do nosso “programa mínimo”. A Comuna teria sido a “Ditadura democrática do proletariado e dos camponeses”, o governo estratégico apregoado pelos bolcheviques em 1905.

Lênin também se mostrou cético quanto a qualquer possibilidade de vitória de uma verdadeira revolução socialista na França de 1871. “Para que uma revolução social triunfe são necessárias, pelo menos, duas condições: um alto desenvolvimento das forças produtivas e um proletariado preparado para ela. Porém, em 1871, não se deu nenhuma dessas duas coisas. O capitalismo francês se achava ainda pouco desenvolvido (…). Por outro lado, não havia um partido operário (…). Não havia uma organização política séria do proletariado, nem grandes sindicatos e cooperativas”.

Em O Estado e a Revolução, Lênin definiria a Comuna como uma revolução popular – não socialista –, pois “em nenhum dos países da Europa continental de 1871, a maioria do povo era constituída pelo proletariado. A revolução capaz de arrastar a maioria do movimento só poderia ser ‘popular’ com a condição de englobar o proletariado e os camponeses. Essas duas classes constituíam, então, o povo”. Ele ironizou os mencheviques afirmando: “Reduziram o marxismo a uma doutrina tão mesquinhamente liberal que, afora a antítese revolução burguesa e revolução socialista, nada exista para eles”. A Comuna seria justamente um exemplo de um modelo de revolução e Estados híbridos – de transição – entre a democracia popular e o socialismo.

** Augusto C. Buonicore é historiador, secretário-geral da Fundação Maurício Grabois. E autor dos livros Marxismo, história e revolução brasileira: encontros e desencontros e Meu Verbo é Lutar: a vida e o pensamento de João Amazonas, ambos publicados pela Editora Anita Garibaldi.

Obs. Este artigo não procurou tratar das medidas econômicas, políticas e sociais adotadas pelos comunardos nos setenta e dois dias que estiveram no poder em Paris e que tanto chamaram a atenção de Marx e Engels. Isso foi feito no artigo “A Comuna de Paris: o poder operário e popular”, publicado na revista Debate Sindical e reproduzido nas colunas do portal Vermelho.

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