Brasil, Espanha e o caso Bolívia.

A decisão da Bolívia de nacionalizar os tais hidrocarbonetos, faz lembrar dois episódios, o primeiro, e mais recente, foi o processo de nacionalização do petróleo brasileiro na década de 50; o segundo, durante a colo

A decisão da Bolívia de nacionalizar os tais hidrocarbonetos (petróleo e gás), palavra que entrou na moda durante a semana passada, causou espécie a boa parte do povo brasileiro, sendo que uma parte considerou, seguindo o discurso diplomático do governo Lula, um direito legítimo, enquanto outra parte, assaz ligada à oposição tucano-pefelista, pedia para o Brasil endurecer sem nenhuma ternura.

Independente dessas duas posições, poucos ou quase nenhum analista lembrou dois episódios importantes sobre os países em questão. Tomemos o caso do Brasil, Nação que há duas semanas comemorou efusivamente a auto-suficiência na produção de petróleo e gaba-se de ter uma das maiores empresas petrolíferas do mundo, a Petrobras. Quem é o Brasil que questiona a nacionalização boliviana? É o país que nos anos 50 fez exatamente a mesma coisa, tirando as petrolíferas norte-americanas da prospecção e exploração do petróleo e privatizou a toque de caixa todas as refinarias existentes em seu território. O manauense que tiver dúvidas sobre este ato basta olhar para a Refinaria de Manaus Isaac Sabbá (Reman), tirada a bem da coisa pública das mãos do então proprietário, que hoje lhe empresta o nome.

Bem, mas e a Espanha, da petrolífera Repsol. Quem é a Espanha que reclama, por meio de sua mídia, círculos empresariais e autoridades, da nacionalização boliviana, senão o país que mais expropriou e até mesmo roubou as riquezas da Bolívia? Uma leitura atenta da obra de Eduardo Galeano ‘As veias abertas da América Latina’ mostra-nos um retrato cruel do que os espanhóis fizeram nas minas de prata de Potosí. Levaram toda a prata e deixaram a população indígena numa indigência sem igual.

Posto na mesa esses pressupostos históricos, fica claro que o presidente boliviano, Evo Morales, está querendo, até para recuperar sua popularidade perdida, promover um acerto de contas com o passado espanhol e com o presente brasileiro. Se está certo ou não, só a História dirá.
Fonte: Diário do Amazonas