CNV cria grupo para investigar repressão ao movimento sindical

A Comissão Nacional da Verdade anunciou nesta segunda (15) em São Paulo a criação do Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical. A integrante da CNV e coordenadora do novo GT, Rosa Cardoso, reuniu-se com 16 representantes de sete centrais sindicais.

CNV com movimento sindical em SP - Marcelo Oliveira/CNV

A pesquisa se dividirá em 11 temas, entre os quais está a elaboração de uma lista dos sindicatos que sofreram invasão e intervenção no golpe e pós-golpe; dirigentes cassados pela ditadura e que sofreram prisão imediata ao golpe; prisões, tortura e assassinatos de dirigentes e militantes sindicais urbanos e rurais, repressão a greves e a presença de agentes dos serviços de segurança nos sindicatos.

Segundo levantamento realizado pela Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, entre os cerca de 500 nomes da lista oficial de mortos e desaparecidos, 52% dessas vítimas eram trabalhadores. O grupo deverá se reunir novamente no dia 6 de maio para definir a metodologia de trabalho.

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Outro dado levantado pelas centrais que ajuda a dimensionar a repressão aos trabalhadores organizados foi a intervenção da ditadura em 400 organizações sindicais somente no primeiro ano após o golpe de 64. Segundo as mesmas fontes, pelo menos mais 300 sindicatos sofreram intervenções nos anos posteriores.

O Secretário Nacional de Políticas Sociais da Central Única dos Trabalhadores, Expedito Sonaley, apresentou a Rosa Cardoso a lista dos 11 temas, discutidos por nove centrais sindicais antes da reunião.

Durante o encontro com os sindicatos, Rosa Cardoso explicou que a coordenação da pesquisa do novo GT sobre repressão aos trabalhadores e movimento sindical será da CNV, mas com informações, acompanhamento, envolvimento e a mobilização proporcionada pelos trabalhadores, através das centrais sindicais e sindicatos de categorias que já criaram comissões da verdade próprias, como os petroleiros.

Segundo ela, além das graves violações de direitos humanos de trabalhadores, o GT apurará "situações que provocaram desemprego e insubsistência", como as causadas por medidas e políticas da época e também listas-negras em que foram colocados líderes sindicais e outros, por exemplo. "É importante revelar essas destituições de direitos e políticas que violaram direitos de trabalhadores, como o arrocho salarial", afirmou.

Sebastião Neto, do Projeto Memória da Oposição Metalúrgica de São Paulo, Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas (IIEP) e Domingos Galante (Químicos-SP) contaram na reunião suas experiências com pesquisas sobre repressão aos trabalhadores na ditadura e afirmam que a tarefa é árdua e que há um universo grande para pesquisar. Segundo Neto, documentos do Dops-SP recentemente divulgados têm muita informação, como listas com nomes de grevistas fornecidas pelas fábricas para os órgãos de segurança investigarem trabalhadores.

Chico Bezerra representou o Grupo Tortura Nunca Mais-SP e o Centro Memória ABC. Ele contou os detalhes das bárbaras torturas sofridas pelo metalúrgico Raimundo Eduardo da Silva, morto aos 22 anos pela repressão, em janeiro de 1971, preso logo após ter passado por uma cirurgia.

Participaram da reunião de ontem os seguintes representantes das centrais sindicais e outras instituições: Márcia Regina Viotto, Gilmar Carneiro e Carlos Rogério Nunes (CTB), Magno de Carvalho (CSP-Conlutas), Américo Gomes (Sindipetro-CSP-Conlutas), Ruth Coelho Monteiro (Força Sindical), Luiz Carlos Prates (CSP-Conlutas), José Ibrahim (UGT), Sebastião Neto (Projeto Memória), Domingos Galante (CUT), Osvaldo Bezerra (Químicos-SP), Expedito Solaney (CUT), Rosa Cardoso (CNV), Ivan Seixas (Comissão Rubens Paiva), Edson Carneiro (Índio), Antonio José Marques (Cedoc-CUT), Luiz Eduardo Greenhalgh (advogado da CUT), Chico Bezerra (CCT, Centro Memória ABC e Grupo Tortura Nunca Mais-SP).

Informações do Portal da CNV