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Luiz Carlos Prestes, herói do povo brasileiro

Por Walter Sorrentino*



Em recente entrevista ao Vermelho, a comunista Maria Prestes, viúva de Luiz Carlos Prestes, registra o legado do legendário do Cavaleiro da Esperança do povo brasileiro. De forma singela e nem por iss

Poderia se acrescentar: seu comportamento quando preso no Estado Novo de Vargas – que levou o seu advogado de defesa, Sobral Pinto, a invocar até mesmo a lei de proteção dos animais contra as condições de anos de prisão em masmorra solitária –; sua atitude exemplar com os algozes, não fornecendo informações que atingissem o seu Partido; o enfrentamento do terrível destino de Olga Benário, sua esposa, desterrada grávida para a prisão fascista na Alemanha, onde foi condenada à morte, tudo isso são mostras do desprendimento e abnegação de Prestes, baseados em convicções profundas e férrea disciplina. Prestes integra, sim, por esses feitos, a galeria das maiores lideranças populares do Brasil no século 20.



Aquilatar o papel de personagens desse porte é sempre muito complexo. Exige contextualizar as circunstâncias em que atuaram, o papel que jogaram, o que deixaram como legado. Essa é uma faceta indispensável da luta de idéias neste tempo. Os historiadores sociais e políticos têm farto material para pesquisar e resgatar esse papel,e já o vêm realizando. Os próprios comunistas precisam elaborar uma história do Partido Comunista do Brasil, de seus 85 anos de vida e luta porque a capacidade de aprender com o passado, extrair dele lições para orientar a luta, indica o grau de maturação das correntes transformadoras.



Isso registrará o papel de Prestes naqueles anos esperançosos, sob o efeito da  histórica revolução soviética de 1917 que, com seus acertos e erros, deixou um legado de contribuições de grande vulto à humanidade durante o século 20. Registrará também os confrontos ideológicos profundos, irrepetíveis talvez em sua radicalidade própria do tempo, que separaram posteriormente caminhos entre as correntes de esquerda em todo o mundo, já sob o efeito de limitações e erros na experiência do socialismo na URSS, que conduziram afinal à sua derrocada nos anos 80-90. Examinará os impactos provindo desses confrontos no Brasil, acrescidos das disjunções de pensamentos estratégicos e táticos que se produziram então acerca do caráter da revolução brasileira, produzindo cismas no então PCB – Partido Comunista do Brasil –, no qual Prestes, como não poderia deixar de ser, foi figura central.



Resgatará em seu contexto histórico também o papel de personagens como João Amazonas, Gregório Bezerra, Carlos Marighela, Maurício Grabois, Pedro Pomar,Diógenes Arruda e muitos, muitos outros, que legaram exemplos de bravura indômita, desprendimento, dedicação à causa dos trabalhadores e do povo brasileiro. Personagens que levaram às últimas conseqüências a idéia da liberdade como consciência da necessidade na  luta por uma nova sociedade, que sabiam o que faziam, estavam dispostos a pagar as exigências da luta com a própria vida, se necessário fosse – e muitas vezes o foi. Por isso, todos eles representam, cada um ao seu modo, uma síntese elevada dos anseios do povo brasileiro.



Aí reside um patrimônio da luta política e social no Brasil. Nele se inclui o patrimônio da corrente comunista, do qual nos orgulhamos. Orgulho que se expressa no registro este ano na comemoração dos 90 anos da revolução soviética. Orgulho de contar nessa luta com Oscar Niemeyer, gigante de lucidez e simplicidade, comunista convicto aos cem anos de vida e, ainda, dessa brasileira comunista Maria Prestes. Orgulho de ver referido, em discursos de Hugo Chávez, quando saúda os heróis da luta anti-imperialista em nosso sofrido continente latino-americano, o papel do brasileiro Luiz Carlos Prestes.



Enfim, trata-se de enfoques a serem feitos no espírito da época. Porque cada uma tem seus próprios desafios e gesta seus próprios heróis na luta revolucionária. A história os julga, contextualizados em seu tempo, mas fornecendo contribuições perenes aos que seguem perseguindo os mesmos ideais radicais de liberdade e justiça social, anti-imperialistas, socialistas. Herdar e dar continuidade à causa que eles abraçaram inclui também apreender seu papel histórico, de acertos, erros e vicissitudes, para re-alimentar ideais e convicções, base para o desprendimento e abnegação, dedicação e disciplina com a causa transformadora.



É outro o contexto da época hoje, mas o problema é o mesmo: ser militante da causa transformadora, marxista e revolucionária.  Talvez de modos mais diversos: não é novo o caminho, mas se pode caminhar de novo jeito, como dizia o poeta Thiago de Mello. Também este tempo que nos foi dado viver gestará seus heróis, anônimos ou não. Mas uma coisa é certa: se alimentarão do exemplo dos que passaram, heróis do povo brasileiro. Assimilarão o passado, para uma síntese nova e mais elevada da luta pelo socialismo, nossa razão de existir. Sem idealizações românticas, a-históricas, pois ninguém é infalível nem perfeito. Compreendendo que erros fazem parte da trajetória e fornecem igualmente elementos para o aprendizado.



Os comunistas, quando pensam no futuro, não esquecem seu passado: essa é uma lição essencial de todos os que percorrem as trilhas da luta pela transformação social revolucionária.



* Médico, secretário de Organização do Comitê Central do PCdoB


 


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