Luís Carapinha: A vitória de Correa

Cabe destacar a dimensão popular da vitória de Rafael Correa e do partido Aliança País (AP) nas eleições do Equador de 17 de Fevereiro e a sua importância para o processo da Revolução Cidadã e o quadro da luta na América Latina.

Por Luís Carapinha, no Jornal Avante!

Rafael Correa - Assessoria da presidência

De acordo com os últimos dados Correa foi reeleito presidente com 57,17% dos votos e a AP arrebatou uma maioria de 2/3 no parlamento, vencendo em 33 dos 34 distritos e 199 dos 221 municípios do país. Um triunfo que constitui a sétima vitória nas urnas desde que Correa assumiu o poder em 2007, dando início a um dos processos mais determinados de mudança progressista em curso no continente americano. 

Sem margem para dúvida o Equador vive o maior momento da sua história. A inversão de rumo construída ao longo dos últimos seis anos não está terminada, mas o país foi resgatado do longo túnel neoliberal em que imperou a espoliação da riqueza nacional a favor de uma minoria subordinada a Washington e ao grande capital, o empobrecimento de largas camadas, a corrupção avassaladora, o autoritarismo e a instabilidade política e a ação desinformativa da grande mídia detidos pelos grandes grupos econômicos no poder. O golpe contra a soberania nacional foi tão profundo que nem a própria moeda nacional escapou. Quito abandonou o sucre no ano 2000, convertendo-se ao dólar.

Rafael Correa afirmou antes das eleições que “a maior mudança da revolução cidadã é o poder político” [Telesur, 04.02.13]. A conquista do poder político que permitiu dizer não! às receitas do FMI e BM e às ordens de Washington, Bruxelas ou Madrid. O poder político que permitiu ao governo equatoriano, em tempos de recessão mundial, ter controle sobre o Banco Central, taxar o capital financeiro e renegociar a dívida externa, não reconhecendo a sua parte ilegítima. Que permitiu reforçar a presença do Estado nos setores estratégicos da economia, impor às multinacionais novas condições nos contratos de exploração e retirar a base militar estadunidense de Manta. E avançar com medidas palpáveis de combate à pobreza e à precariedade laboral; de promoção da saúde, educação e direitos sociais. Permitindo reduzir a taxa de desemprego para 4.1%, a mais baixa em 25 anos.

Novo poder político que permitiu a decisão soberana do Equador ser parte ativa dos espaços de cooperação na América Latina. Quito juntou-se ao grupo de países da Alba – e ao projeto da moeda de compensação da Alba, o Sucre, iniciado em 2010 – e está também na vanguarda dos processos da Unasul e da Celac. É difícil imaginar o ritmo transformador vivido no Equador fora da realidade latino-americana, sob impacto dos processos progressistas e revolucionários (na mesma semana em que Passos/Portas alienam a ANA, a Bolívia nacionaliza os principais aeroportos).

Na lista negra do imperialismo, até onde poderá chegar a revolução cidadã equatoriana? Diz Correa: “podemos enganar-nos durante o caminho, mas nunca enganarmo-nos no caminho e esse caminho é a revolução e o socialismo” [Cubadebate, 24.02.13]. Os comunistas equatorianos (PCE) apoiam o processo, mantendo a sua identidade e independência. Este é também um momento extraordinário de acumulação de forças em que os grandes desafios à consolidação e aprofundamento das transformações iniciadas estão ainda pela frente. A necessidade da convergência e unidade das forças políticas mais consequentes continuará a sobrepor-se como elemento determinante da construção do novo Equador neste tempo inspirador para as forças da emancipação na América Latina.

* Luís Carapinha é membro do Partido Comunista Português