Jô Moraes: Poder sob controle

“As estruturas partidárias estão concentradas nas mãos de homens, responsáveis pelas máquinas”. A declaração é da deputada Jô Moraes (PCdoB-MG) ao cita os desafios enfrentados pelas mulheres nas eleições municipais do ano passado e a redução do contingente feminino nos parlamentos País afora.

Jô, que preside a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional que investiga a responsabilidade do poder público na violência contra a mulher no Brasil, concedeu entrevista à jornalista Cecília Alvim, da Revista Elas por Elas, durante pausa dos desfiles de blocos, no bairro de Santa Teresa. A revista é uma publicação do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro/MG).

A parlamentar se mostrou pessimista quanto às perspectivas de conquistas de mais espaços de representação política pelas mulheres, “enquanto o poder econômico for o principal eleitor”. Para ela, “o primeiro passo é o financiamento público de campanha”, passando ainda pelo reforço da presença feminina nas estruturas partidárias”, entre outros caminhos a serem trilhados para se garantir novos horizontes.

Mas, no ritmo em que as coisas caminham ela reforça a previsão do professor José Eustáquio Diniz Alves. No Brasil, “a paridade de gênero nos espaços de poder municipais vai demorar 148 anos”.

Leia a íntegra da entrevista:

Revista Elas por Elas: Na sua opinião, quais os principais desafios enfrentados pelas mulheres candidatas nas eleições municipais de 2012?
Jô Moraes: Como sempre, o principal desafio das mulheres foi a falta de estrutura para dar uma amplitude maior às suas campanhas. Cresceu muito o número de candidatas pela mudança ocorrida na legislação que tornou obrigatório o percentual de 30%. Em 2012, o total de candidatos no geral cresceu 26,9% em relação à eleição municipal anterior. Já o número de mulheres candidatas aumentou em 84,7%. Só que, o percentual de eleitas cresceu apenas 17,4%. Esse é o resultado de uma nova dinâmica no processo eleitoral que se torna cada vez mais caro. Ao mesmo tempo é a demonstração de que as estruturas partidárias estão concentradas nas mãos dos homens, responsáveis pelas “máquinas”.

Revista Elas por Elas: Mesmo no governo Dilma e com as alterações da lei de cotas de gênero, houve redução no número de mulheres eleitas em algumas cidades do Brasil, como na Câmara de Belo Horizonte? A que você credita essa redução?
JM: É importante resgatar o fato de que, em relação às eleições anteriores cresceu o número de eleitas tanto para as Câmaras Municipais quanto para as Prefeituras. Evidente que foi um crescimento pequeno, chegando as vereadoras a serem 13,3% e as prefeitas 12,1% do total dos eleitos em 2012. Parece que, quanto mais rica a região, mais o poder econômico interfere no resultado. Basta ver que os maiores percentuais de eleitas ficam no Nordeste e no Norte e os menores no Sudeste. As campanhas nas capitais, particularmente onde a disputa foi mais acirrada, exigiu uma grande estrutura de divulgação das candidaturas. Aliou-se a isto, a ausência de lideranças femininas destacadas que pudessem contornar a falta de recursos.

Revista Elas por Elas: Quais ações podem mudar esse cenário de baixa representação das mulheres na política e nos cargos públicos?
JM: Enquanto o poder econômico for o principal eleitor, dificilmente as mulheres conquistarão mais espaços. Por isso o financiamento público de campanha é o primeiro passo. É preciso, também, reforçar a presença das mulheres nas estruturas partidárias, sobretudo nos cargos de direção executiva. Só assim as políticas afirmativas terão maior presença. Cursos de formação para as filiadas, presença nos programas de mídia, creches nas convenções, visibilidade nos eventos são algumas das medidas que poderão superar as barreiras. Sem isso o caminho será longo. Como diz o professor José Eustáquio Diniz Alves: “De 1992 a 2012 o avanço foi, em média, de 1% no percentual de eleitas a cada eleição. Neste ritmo, a paridade de gênero nos espaços de poder municipais vai demorar 148 anos no Brasil”.