Para Saramago, Cuba “avançou muito em relação ao comunismo”

O escritor português José Saramago, Nobel de Literatura em 1998, não acredita que Cuba tenha alcançado o comunismo, apesar de achar que Fidel Castro, sim, é marxista-leninista. Em entrevista divulgada neste domingo (15) pelo jornal El Tiempo, de

“Eu não diria que Cuba chegou ao comunismo, apesar de ter se adiantado muito nessa direção. Não sabemos direito como se manifestará um comunismo real na prática, nem sabemos até onde pode chegar”, afirmou o escritor. “Em Cuba, há uma visão muito clara do que poderá ser”, acrescentou, ressaltando que o país está mais próximo da compreensão do ideal comunista.


 


Já quanto a Hugo Chávez, Saramago disse que o presidente venezuelano tem uma “arma poderosíssima” que é o petróleo, e que “ama seu povo”. Também disse não achar que o presidente Chávez seja um problema, como alguns países da região, especialmente os Estados Unidos, acreditam.


 


Depois de assinalar que “ser comunista é um estado de espírito”, Saramago — que visita a Colômbia para lançar seu novo livro — afirma que, em seus 80 anos, se sente mais comunista do que nunca. Ele concedeu entrevista coletiva em Bogotá, cidade designada como a capital mundial do livro pela Unesco e onde o escritor português participa de uma conferência sobre o uso do livro como instrumento da paz.


 


Problemas na Colômbia


 


Ao responder a uma pergunta do El Tiempo sobre o ressurgimento de governos progressistas na América Latina, Saramago disse que a esquerda “sofre uma espécie de tentação maligna — que é a fragmentação”. Deu a entender, na ocasião, que mantinha suas reservas.


 


O prêmio Nobel adotou tom crítico sobretudo com relação aos grupos armados que atuam na Colômbia, incluindo as guerrilhas de esquerda. “Há desaparecidos, seqüestrados, paramilitares e guerrilheiros que, no começo, suponho que tivessem vontade de mudar algo, mas se tornaram seqüestradores e narcotraficantes”, lamentou. “E o pior é que eles já não saberiam viver de outra forma.”


 


O escritor octogenário também advertiu para o ressurgimento do fascismo no velho continente. “Na Europa estamos assistindo ao ressurgir da direita, à presença da extrema direita com insígnias fascistas”, denunciou. Deixou claro, no entanto, que continua sendo comunista, “embora as coisas não sejam tão puras” como imaginava.