Demitido pelo “Google”: a queda de Terry Semel no “Yahoo!”

Afastado da Apple em 1985, Steve Jobs voltou à empresa 12 anos depois para salvá-la da falência. Com uma linha de produtos revolucionários, como o computador iMac e o tocador de MP3 iPod, ele não só recolocou a companhia na trilha do crescimento como a tr

No começo do ano, uma missão semelhante foi atribuída a Michael Dell. Depois de mudar a forma como computadores são produzidos e vendidos, ele foi convocado para reconduzir a Dell ao primeiro lugar do mercado, perdido para a HP. O mais recente exemplo de criadores de empresas de tecnologia que voltaram a assumir as rédeas de suas criaturas é Jerry Yang.


 


Aos 38 anos, o co-fundador do Yahoo! atuava apenas como uma espécie de embaixador da marca. Ele acabou voltando ao comando do portal depois que os maus resultados nos últimos anos culminaram com a perda da liderança na internet e a degola do antigo presidente, Terry Semel.


 


Yang terá uma tarefa inglória. Para voltar ao topo, ele precisa superar o Google, líder absoluto do mercado. Em 2006, o Google faturou quase o dobro a mais, obteve lucro de US$ 3 bilhões (ante US$ 751 milhões do concorrente) e suas ações se valorizaram 32% (as do Yahoo! sofreram queda de 7,4%). ''O último ano foi difícil para nós'', disse Semel ao deixar o cargo, em junho.


 


Indicação política


 


A notícia de que Yang será o homem incumbido de tentar levar o Yahoo! de volta ao posto de maior portal da internet não chega a ser uma surpresa. Muita gente acredita que, se existe alguém capaz de atingir o objetivo, essa pessoa é Yang. A decisão foi tomada durante reunião de acionistas realizada no começo de junho. Insatisfeitos, eles colocaram um ponto final no mandato de seis anos de Terry Semel.


 


Aos 64 anos, ele tinha um dos maiores contracheques do setor (US$ 100 milhões no ano passado), mas nunca foi unanimidade. Ex-presidente do estúdio Warner Brothers em Hollywood, Semel assumiu o comando do portal em maio de 2001 sem ter mandado um único e-mail na vida. Sua indicação foi política: dar credibilidade a um mercado visto com desconfiança pelos investidores depois do estouro da bolha da internet, em 2000.


 


Ao longo de sua gestão, Semel conseguiu até alguns feitos: o Yahoo! multiplicou por três o número de usuários que acessam suas páginas (500 milhões de pessoas por mês – o mais visitado da internet) e aumentou nove vezes a receita (US$ 6,4 bilhões em 2006). De uma empresa que operava no vermelho, o Yahoo! lucrou US$ 751 milhões no ano passado.


 


O Projeto Panamá


 


Mas todos esses números acabaram obscurecidos diante da perda da liderança de mercado para o Google – um exemplo poderoso de que, no mundo dos negócios e no mercado financeiro, não basta ser bom, é preciso ser melhor que os demais. Reverter essa situação será uma das principais atribuições de Yang.


 


Para isso, ele aposta tudo no sucesso do Projeto Panamá, uma plataforma de publicidade online que utiliza uma tecnologia muito parecida com a do Google. O programa promete ajudar o anunciante a atingir de forma precisa o público-alvo de suas campanhas.


 


Os responsáveis pelo projeto garantem que, ao cruzar os dados de uma pessoa que visita o site do Yahoo!, é possível determinar com boa dose de exatidão seus gostos, hábitos e desejos. Com isso, o portal pode cobrar mais dos anunciantes e, assim, aumentar sua receita.


 


Desde que foi lançado, em fevereiro, o Projeto Panamá ajudou a incrementar em 10% as vendas de anúncios do Yahoo! É animador, mas o Google continua muito à frente nesse jogo: suas receitas com anúncios são 30% maiores do que as do maior rival.


 


Amendoim


 


Criado em 1994 por Jerry Yang e David Filo, dois estudantes da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, o Yahoo! já foi considerado a cara da internet. A crise atual começou no final da década de 90, quando a empresa passou a oferecer uma miríade de serviços, como canais de notícias, guias financeiros e e-mail – entre tantos outros.


 


''O Yahoo! perdeu sua identidade'', disse Drew Neisser, diretor da agência de propaganda americana Renegade. A confusão contaminou os funcionários e, no ano passado, resultou em fogo amigo.


 


O estopim foi uma mensagem interna que se tornou pública. Nesse e-mail, que ficou conhecido como ''manifesto pasta de amendoim'', o vice-presidente do Yahoo!, Brad Garlinghouse, usou uma metáfora inusitada para criticar a estratégia da companhia. ''A empresa está espalhando pasta de amendoim em muitos negócios'', escreveu. ''O resultado: uma camada tão fina de investimentos que faz com que não nos foquemos em nada.''


 


Ao mesmo tempo em que atirava para todos os lados, a empresa menosprezou a importância estratégica do serviço de buscas. O Google cresceu justamente aproveitando esse vácuo. Hoje, seu valor de mercado é US$ 161 bilhões – quatro vezes maior do que o do Yahoo!.


 


Venda?


 


Num mercado dinâmico e competitivo como a internet, erros assim podem ser fatais. Tome-se como exemplo os casos de marcas como Lycos, Excite e Netscape. Quando a rede mundial de computadores ainda dava seus primeiros passos e o Yahoo! era apenas um projeto de dormitório de faculdade, esses nomes eram as vedetes da indústria digital.


 


Uma série de tropeços, acompanhados do surgimento de sites mais incrementados, fez com que as três empresas acabassem engolidas. Para que isso não aconteça com o Yahoo!, Yang terá de recuperar a capacidade de inovação da empresa e sua agilidade.


 


Uma decisão importante dentro da companhia hoje pode levar até oito meses – uma eternidade para a internet. Por esse motivo, o Yahoo! perdeu a chance de comprar o popular site de vídeos YouTube, vendido para o Google no final de 2006.


 


Os problemas são tantos no Yahoo! que analistas apostam que a função principal de Yang será preparar o portal para uma venda. No começo do ano, especulou-se sobre uma negociação com a Microsoft – mas as conversas esfriaram. Yang diz que isso tudo não passa de boato. ''O Yahoo! terá um futuro brilhante'', garantiu ele.


 


Da Redação, com Info Online