Inferno tropical: a mídia e os “monstros” da classe média

Por Roberto Porto (Direto da Redação)
O espancamento de uma empregada doméstica por playboys num ponto de ônibus da Barra da Tijuca espantou a população do Rio. Não a mim, que acompanho pelo noticiário dos jornais a escalada da violência da classe médi

Será que os leitores se recordam dos pré-carnavalecos Baile da Balança, promovido supostamente por advogados no Hotel Glória? Não? Pois o tal baile, ano após ano, na década de 50, terminava em pancadaria generalizada só contornada com violência pela Polícia Especial, criada por Getúlio Vargas (1882-1954).


 


Pouco mais tarde, no carnaval, veio o baile do Yatch Club, que era interrompido pela polícia quando os freqüentadores – que pagavam ingressos caríssimos – cismavam de jogar mulheres, copos, garrafas, cadeiras e mesas na bela piscina do clube.


 


Certa vez, o editor-chefe de O Globo, Evandro Carlos de Andrade (1932-2001) demitiu sumariamente os fotógrafos do seu jornal que não registraram a violenta briga que explodiu no elegantíssimo baile do Teatro Municipal – pois saíram mais cedo – que o Jornal do Brasil estampou na primeira página, dando um tremendo furo no Globo.


 


Ou será que os nossos leitores esqueceram-se da dupla Ronaldo Castro e Cássio Murilo – com a conivência do porteiro Antônio João – que atiraram a jovem Aída Cury da cobertura de um edifício em plena Avenida Atlântica? Ou jamais ouviram falar das brigas e arruaças promovidas pelas turmas da Miguel Lemos e Constante Ramos, em Copacabana? Ou dos confrontos surgidos nos velhos bailes de Formatura, realizados no Ginástico, no Centro? Num deles, um cadete da Marinha sacou de seu espadim e golpeou mortalmente seu possível desafeto, diante de centenas de pessoas.


 


Agora veio o caso da doméstica. Os playboys da Barra (ou seriam pitboys?) deram uma surra na mulher e desculparam-se dizendo que pensaram que ela era prostituta. Ou seja: hoje, no Rio, é permitido bater em prostitutas, travestis e possivelmente mendigos?


 


Dois ou três dias depois dessa covardia – chamadas de crianças pelo pai de um dos pitboys -, dois jovens atores da idiotice televisiva chamada Malhação, da Rede Globo, literalmente chutaram do carro em movimento uma prostituta que fizera um programa com eles, mas tomaram o cuidado de roubar a bolsa dela com R$ 127 e documentos.


 


Não, repito, eu não me espanto. Faz tempo que as diferenças sociais, o dinheiro e pais omissos vêm criando esses monstros da classe média alta, que espancam quem der na telha deles e se matam, também, em desastres de automóvel na saída de boates, depois de muito uísque e vodca. E não vejo uma solução para isso. Não via antes, quando era rapaz e presenciava brigas homéricas, e não vejo hoje, quando aos ricos tudo é permitido.


 


Afinal, a justiça está sempre do lado deles. Ou não?