Greve de fome: até onde Garotinho aguenta?

Neste momento, o ex-governador Anthony Garotinho completa seis dias de greve de fome. Ele se diz perseguido e caluniado pelas Organizações Globo e a revista Veja, que acusam ele e o governo do Rio de diversas irregularidades.

Desde o dia em que Garotinho anunciou a greve de fome, as reações foram imediatas. Algumas a favor, mas a maioria contra. O primeiro gesto foi de espanto, pois ninguém havia sido avisado da atitude que tomaria, nem mesmo o PMDB, seu partido. Aliás, os caciques peemedebistas foram unânimes em rechaçar tal ação unilateral. Brincando, o cronista/humorista Tutti Vasquez concluiu, “o mais incrível na greve de fome de Anthony Garotinho é que ela conseguiu unir o PMDB contra a atitude de seu pré-candidato à presidência da República. O partido não se manifestava de forma tão coesa desde a morte de Ulysses Guimarães”.

Não é de hoje que as Organizações Globo, principalmente seu jornal diário, ataca e denuncia o ex-governador e, mais recentemente, o atual governo ocupado por Rosinha. É comum os dias em que várias páginas estampam irregularidades da administração. O Globo chegou a fazer especiais desmistificando obra por obra a propaganda do governo do Rio que dizia ter feito “10 mil obras”. O calibre das acusações tem aumentado e por coincidência isso aconteceu logo depois de pesquisas apontarem Garotinho na frente de Geraldo Alckmin (esse sim o candidato da grande mídia e do setor financeiro) na corrida presidencial. As próprias denúncias sobre irregularidades em São Paulo, como o Nossa Caixa, não mereceram tanta atenção.

O caso da revista Veja é parecido. Não é de hoje que se sabe o lado dela. Seus ataques ao MST e outros movimentos sociais e ao governo Lula são bem conhecidos.

Outro ponto para discussão é exatamente como o ex-governador se propôs a enfrentar esta perseguição. Garotinho tem feito uma oposição frontal ao governo Lula, às vezes até de forma histérica, e nesta crise mais recente vem acusando o governo Lula de ser o incentivador das denúncias. A greve de fome para muitos foi o caminho errado, talvez um tiro no pé. Para alguém que deseja ser presidente do Brasil, o comandante das Forças Armadas, greve de fome não é a melhor maneira de enfrentar as batalhas. Para o prefeito Cesar Maia, seu inimigo no Rio, “a greve de fome do Garotinho – como um gesto desesperado – o desqualificou definitivamente para concorrer à presidência. Um estresse desses sob pressão, mostrou uma faceta que agora todos conhecem: o desequilíbrio”. Parece que sua candidatura a presidência, que já estava difícil de acontecer afundou de vez.

“Mais do que governadora, sou mulher dele”

Enquanto isso tudo ocorre, pior ainda para o estado do Rio. A governado Rosinha não sai do lado do seu marido. Ela chegou a dizer aos jornais que “mais do que governadora, sou mulher dele”. O governo e suas ações estão paralisados e os problemas não são poucos. Os servidores da UERJ estão em greve, os professores da rede estadual voltaram ao trabalho, mas prometem parar por 24 horas no dia 10. Outras categorias também reclamam de aumento salarial. O Sindicato dos Servidores do Sistema Judiciário já realizou dois protestos na sede do PMDB, a nova residência de Garotinho durante a greve de fome.

Uma coisa é certa. Para Garotinho, a perseguição da mídia ao governo Lula era justa e nunca foi alvo de qualquer contestação sua, mas quando as baterias voltaram-se para ele a situação mudou. Que isso sirva de lição. Resta saber até quando Garotinho agüenta.

*Marcos Pereira – Jornalista e membro da Comissão Estadual de Comunicação