"Tucanos tratam São Paulo como feudo", diz Haddad

O candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, fez duras críticas às gestões municipais do tucano José Serra – seu adversário na disputa – e de seu sucessor, Gilberto Kassab. "Eles tratam São Paulo como se fosse um feudo, uma propriedade privada", disse, durante plenária das centrais sindicais em apoio à sua eleição. 

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Haddad disse que pretende reconciliar São Paulo com ela mesma e com o resto do país. "São Paulo não pode continuar de costas para o que está acontecendo com o país", afirmou, criticando uma resistência do governo municipal em firmar parcerias com a gestão federal. 

"Nosso adversário usa a estratégia de sempre. Eles não fazem as parcerias e depois culpam o outro lado. Serra é especialista nisso", disparou, defendendo que os governos Lula e Dilma nunca discriminaram estados e municípios por questões partidárias na hora de fechar convênios. "Eles tratam São Paulo como se fosse um feudo, uma propriedade privada, nunca conceberam a cidade como um epaço público da cidadania", criticou.

Segundo o candidato, São Paulo desperdiçou uma "década de ouro" de crescimento do Brasil. De acordo com ele, a arrecadação aumentou nesse período, mas isso não se refletiu na qualidade de vida da população. Nesse sentido, apontou, "da porta de casa para dentro", tudo melhorou. "Todo mundo conseguiu um emprego, teve aumento real de salário, tudo melhorou um pouquinho. Mas é abrir a porta de casa e aí tem calçada esburacada, falta professor na escola, falta leito hospitalar, a lista é imensa", enumerou.

Falando para uma plateia lotada de sindicalistas, Haddad afirmou que é por esse tipo de discrepância entre os rumos da cidade e do país que 80% dos moradores de São Paulo querem mudar. "Queremos formar um governo de coalizão para fazer com que a gente atinja aqui os indicadores de aprovação que Lula e Dilma conseguiram. É hora de colocar São Paulo nos trilhos do desenvolvimento", discursou.

O candidato também criticou a falta de propostas de seu adversário, que só apresentou seu plano de governo na última segunda-feira (15). "Não se iludam, essa velha política de não fazer proposta vai morrer", disse, afirmando que a plataforma de Serra é, na verdade, "uma carta de intenções, porque não traz nenhuma meta".

Haddad referiu-se ainda à entrevista que o tucano deu à CBN na última terça, quando entrou em confronto com o jornalista que o entrevistava. "Apertado para falar sobre metas, ele começou a criticar a imprensa. Você tem que ter humildade de responder às perguntas, tem que enfrentar o debate", condenou Haddad, lembrando que o seu plano de governo está sendo debatido com a população desde 13 de agosto.

O candidato declarou ainda que pretende resgatar a dignidade de São Paulo, colocando a educação no topo das suas prioridades. "Não tem cabimento que uma cidade como Teresina, que tem muito menos recursos que São Paulo, tenha indicadores de qualidade (da educação) superiores aos da cidade mais rica do país."

Ao lado da sua vice, Nádia Campeão, Haddad apelou aos presentes para que não se guiem pelas pesquisas – que o colocam na frente do adversário – mas pelo sentimento das ruas, e continuem lutando para reverter cada voto de Serra. "Serão 10 dias de trabalho (até a eleição) e quatro anos de sossego", brincou.

"Porque a repressão que eles promoveram… São Paulo hoje é a cidade do não pode nada. A única coisa que pode é ficar espremido na condução para ir trabalhar e voltar quieto para casa. Se quiser cultura, lazer, esporte, não pode. Do artista de rua, ao empresário, não pode nada. Vamos libertar esta cidade em 28 de outubro", conclamou.

Haddad detacou a importância de os sindicalistas terem organizado uma plenária de apoio à sua candidatura e se disse honrado com o apoio recebido do PDT. "Esse encontro diz muito mais do que pode parecer. Diz que eu e Nádia não estamos aqui representando um projeto pessoal."

"Representamos um projeto político para o país e São Paulo e não se trata de um projeto partidário, mas de um projeto de desenvolvimento humano, econômico e social", discursou.

Mais que se comprometer em instalar uma mesa de negociação permanente com os trabalhadores – reivindicação dos sindicalistas –, Haddad disse que pretende fazer um governo participativo, aberto a toda a sociedade. "Queremos ouvir o povo."

Direita

Em entrevista coletiva após o ato, o candidato se disse honrado com o apoio dos sindicalistas e do PDT. Defendeu-se de acusações do adversário sobre a qualidade da educação no país e, questionado se Serra estaria caminhado cada vez mais para a direita, respondeu: "Não sobrou espaço mais à direita, viu? Acho que ele vai parar por aí".

Haddad recordou que durante sua gestão no Ministério da Educação, os professores não fizeram nenhuma greve e a educação deu um salto, inclusive segundo relatórios internacionais. De acordo com ele, Serra faz uma campanha de desinformação contra a sua postulação.

"Pergunte ao pessoal da Apeosp como eles eram tratados quando Serra era governador. Aliás, nos bastidores, ele lutou muito contra a aprovação do piso nacional do magistério. Chegou a me ligar. E eu dizia a ele que mudamos a Constituição para garantir a dignidade do professor", retrucou.

Sobre a exploração do tema da ética pelo adversário, Haddad disse que Serra usa uma "ética seletiva", pois não discute esse tema na gestão municipal.

Antes do evento, Haddad, assinou, durante entrevista à rádio CBN, documento em que se compromete a cumprir integralmente o mandato, caso eleito no próximo dia 28. Ontem, no mesmo programa, Serra não assinou o documento de igual teor.

Da Redação,
Joana Rozowykwiat