Como a “Veja” distorce a realidade para vangloriar o PSDB

A matéria de capa de revista Veja desta semana (Por que o emprego público voltou a valer a pena) deixaria constrangido qualquer assessor de imprensa do PSDB caso o profissional tivesse que escrever a reportagem com o enfoque dado pelo semanário.

A reportagem, chamada pela revista como “especial”, começa dizendo que, ao contrário de “até pouco tempo atrás”, “um dos grandes sonhos da classe média brasileira que começa a vida economicamente ativa é passar em um concurso que dá acesso a um emprego público na União, no estado ou na prefeitura. Pelo volume e pela qualidade dos cargos oferecidos, a corrida por cargos públicos não tem precedentes na história brasileira. Trabalhar para o Estado tornou-se a opção preferencial de um enorme contingente de jovens recém-saídos da faculdade e até de profissionais sem maiores chances de ascensão no setor privado”.
 


Segundo a revista, “até meados da década de 90, era quase impossível para um servidor progredir na carreira. Havia gratificações por tempo de trabalho, mas não promoções por mérito. Isso começou a mudar no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Na época, iniciou-se uma reforma administrativa destinada a diminuir as distorções do serviço público. Extinguiram-se as gratificações por tempo de serviço e instituíram-se aumentos salariais de acordo com o desempenho individual em mais de quarenta carreiras. Para atrair bons profissionais, servidores com mestrado ou doutorado, o estado elevou seus vencimentos em até 40%”.


 


O ufanismo da Veja com o governo FHC não se sustenta um segundo se a revista conversasse com um bancário do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal ou de qualquer outro banco público. A era tucana foi marcada por um forte ataque ao funcionalismo, que perdeu muitos diretos e sofreu com um arrocho salarial jamais visto, passando os oito anos sem reajustes.
 


A péssima situação enfrentada pelos bancários do setor público não foi nem um pouco melhor que a vivida por outros setores do funcionalismo. É o que mostra o relatório feito em 2002, no último ano do governo FHC, pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, entidade que reúne dezenas de organizações não-governamentais e movimentos sociais.
 


Diz o documento: “Durante o governo FHC, o funcionalismo público federal amargou o maior arrocho salarial de sua história. O reajuste salarial concedido pelo governo foi zero. Além disso, tivemos o processo de privatizações que contribuiu em muito para o desmantelamento do Estado brasileiro, serviços essenciais como telefonia, distribuição de energia elétrica, telecomunicações, além de setores e empresas importantes, como CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, Usiminas, Banespa, Eletropaulo, Telesp, Vale do Rio Doce, entre outras”.


 


Ainda segundo o texto, “com as privatizações – que causam desemprego em massa diretamente (sem falar dos indiretos) -, tivemos também uma piora significativa na qualidade dos serviços prestados, já que profissionais com 10,15 e até 20 anos de experiência no ramo eram substituídos por pessoas sem experiência e despreparadas, visando ainda mais lucro”.
 


Para William Mendes, secretário de Imprensa da Contraf-CUT, a revista descreve na matéria de capa uma realidade que nunca existiu. “A reportagem é fantasiosa e desonesta, porque pinta um cenário totalmente inverso do que viveu o funcionalismo público federal. A era FHC foi marcada pelo desemprego, perda de direitos históricos e achatamento salarial. Passamos a década de 90 praticamente lutando para manter as conquistas”, conta o sindicalista.
 


Funcionário do Banco do Brasil, William lembra que foi durante o governo tucano, em 1998, que os funcionários do BB sofreram o maior ataque já visto na história, com a retirada de direitos e benefícios e a criação de duas categorias de bancários dentro da própria instituição.
 


O diretor da Contraf-CUT e coordenador da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa, Plínio Pavão, diz que na CEF, os bancários sofreram como nunca na era FHC. “Ou a revista Veja não conhece a realidade dos funcionários públicos, ou ela é venal ao publicar uma notícia exclusivamente para louvar os tucanos e influenciar seus leitores”, comentou.
 


Assim como Plínio, William destaca que a revista tenta recontar a história dissimulando a realidade para favorecer um partido. “A nossa imprensa pertence a meia dúzia de famílias ricas que têm ligações com o poder e, portanto, têm um lado na luta política. E este lado é de centro direita, que não é preenchido pelo PT”, declara William.


 


“Por isso a sanha da revista Veja em tentar desestabilizar o governo atual durante a crise insuflada pela imprensa em 2005. Veja é a principal representante do que eu chamo de mídia-elite, que tem verdadeira ojeriza em assistir o país sendo comandado por um trabalhador”, concluiu William.


 


Fonte: Contraf-CUT