Estudantes da Unila denunciam nova ação da PM

Estudantes da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) denunciaram nesta segunda-feira (11) que um grupo de policiais militares (PM) invadiu, durante a madrugada de hoje, a Moradia 1 dos estudantes sob o pretexto de atender a uma reclamação de vizinhos por "perturbação do sossego". No entanto, não há vizinhos no entorno da moradia e, segundo a própria PM, não houve a constatação de "perturbação do sossego".

Sem entrar em detalhes, a Polícia Militar do Paraná confirmou que esteve na Moradia 1 da Unila durante a madrugada, após receber uma ligação de uma vizinha. De acordo com o aspirante Mendes, da Comunicação do 14º Batalhão da PM, os policiais foram até o local para constatar o que estava acontecendo. "Consta a averiguação feita, mas não foi registrado nenhuma ocorrência de perturbação da ordem", esclareceu o PM.

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Segundo os estudantes, não há vizinhos nas proximidades da Moradia 1, que era uma espécie de hotel fazenda. "Nesta moradia não há vizinhos. É um antigo hotel fazenda. Eles chegaram afirmando que houve perturbação da ordem, mas não havia nada. Ao que tudo indica, não houve vítimas e a invasão ocorreu sob proteção de um veículo de comunicação (SBT). Por isso estamos denunciando a ação. A polícia não pode entrar pra nos perseguir tampouco com auxílio da imprensa", declarou o estudante da Unila Rafael Gomes, que mora no alojamento invadido no dia 3 de junho.

Para Rafael, os policiais invadiram propriedade da União e, portanto, cometeu um crime. "O que mais estranha é o comportamento de alguns setores dos meios de comunicação de Foz do Iguaçu. Esta invasão à moradia é notadamente parte da escalada de represálias que a polícia investe contra os estudantes. Ao que ocorreu na moradia 1 soma-se outras como as sucessivas abordagens com insultos que muitos estudantes estão sofrendo", contou Rafael ao Vermelho.

O estudante comparou a ação da mídia nesse caso com o envolvimento de veículos de imprensa com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. "Até onde vai essa relação? Com que objetivo a polícia e parte dos meios de comunicação estão associados nessa empreitada contra estudantes da Unila?", questionou o estudante.

Os estudantes prometem fazer bastante barulho sobre as investidas da PM na moradia, sempre, segundo os universitário, querendo relacioná-los com comportamento de "marginais favelados".

A secretaria de assistência estudantil da Unila e a assessoria da reitoria, chefe de gabinete, Aline Albuquerque, foram procuradas para saber se haveria algum posicionamento sobre esse novo episódio, mas não foram localizadas até o fechamento.

Na quarta-feira (6), a Unila se pronunciou "veementemente contra os excessos cometidos pelos policiais militares" durante a invasão violenta da PM na moradia estudantil, no dia 3 de junho, registrada em vídeo. "Diante do ocorrido no Hotel Passaporte neste final de semana, a UNILA solicitou à Corregedoria da Polícia Militar que fosse aberto procedimento disciplinar, a fim de apurar a ação por parte de PMs na abordagem dos alunos residentes naquele estabelecimento que funciona como moradia estudantil para cerca de 60 estudantes", diz o trecho da nota divulgada pela Instituição de Ensino Superior.

O Comando Geral da Polícia Militar do Paraná confirmou a abertura de Inquérito Policial Militar (IPM) para apuração dos fatos e responsabilização dos envolvidos. Segundo o aspirante Mendes, um policial foi ferido com estilhaços de um vidro que teria sido quebrado por um estudante, o que justificou a abertura do inquérito. O prazo para a conclusão é de 40 dias, mas pode ser prorrogado, se necessário, por mais 20, contados a partir do dia 3 de junho, data da ocorrência (quando foi aberto o procedimento interno).

Sete alunos foram detidos e levados à delegacia. Dois deles, um brasileiro e um venezuelano, foram autuados. Desde então, os estudantes temem novas ações. "Ficamos de mãos atadas porque não temos assistência jurídica e a única coisa agora que tá rolando é este processo na corregedoria da PM do paraná e nossas manifestações públicas", afirmou Rafael Gomes.

Dias antes, a organização estudantil da instituição havia se manfiestado favorável a greve nas universidades federais, iniciada pelos professores. Rafael Gomes, que também é do Cuca da UNE, revelou em um vídeo produzido por ele toda a mobilização dos estudantes.

De acordo com o Comando da PM, será instaurado um Inquérito Policial Militar e o resultado será encaminhado ao Ministério Público Militar, no caso de crime militar, e ao Ministério Público Estadual, no caso de crime comum. Todo o processo deve durar cerca de 90 dias e será acompanhado de perto pela Universidade.

Acompanhe notícias sobre os estudantes da Unila no blog Quebrada do Guevara.

Deborah Moreira
De São Paulo