Debate com Venício Lima discute mídia e poder

Numa iniciativa do Consórcio de Empreendedores Sociais – COESA, do Instituto da Cidade e do Instituto Maurício Grabois, foi realizado em Fortaleza um debate sobre mídia e poder com o jornalista e pesquisador Venício Lima como expositor, tendo ainda o Sena

A mídia tem poder? De acordo com pesquisa sobre a consolidação democrática na América Latina, 79,7% dos entrevistados acham que, quem exerce o poder na AL são os grandes grupos econômicos, os empresários e o setor financeiro. E 65.2% atribuem o exercício de poder à mídia. “Então, se as elites dominantes entrevistadas em 18 países, atribuem à mídia esse segundo lugar, é porque ela tem mesmo poder”, diz o sociólogo, jornalista e publicitário Venício Lima, durante conferência realizada na noite dessa segunda-feira (11), no Centro Cultural Oboé, sobre o tema “A Mídia e Poder”.



 
Ainda segundo a pesquisa sobre quem exerce o poder na América Latina, em terceiro lugar aparece o Poder Executivo; em quarto lugar, os partidos políticos; em quinto, os Estados Unidos; e em sexto lugar, as Forças Armadas. Para Venício Lima, a “mídia tem poder porque ela é o um ator econômico importantíssimo. Ela distribui uma mercadoria que não se esgota no seu consumo. Sua mercadoria se estende no campo das idéias, dos valores, da representação da vida”.



 
No mundo contemporâneo, não há política nacional sem mídia, diz Venício, acrescentando que a própria noção de público e privado foi alterada por causa da mídia. Em alguns momentos, a mídia substitui os partidos políticos em muitas de suas funções. Como ela é a principal fonte de informação está mais habilitada a capacitar as demandas da população. A mídia alterou as campanhas eleitorais de forma fundamental. E a conseqüência disso, é o fato dela conduzir a uma despolitização da campanha.



 
Ainda segundo Venício, os grandes grupos nacionais de mídia se transformaram em atores políticos, isso porque, a legislação brasileira sempre permitiu a propriedade cruzada, ou seja, um mesmo grupo é dono de jornal, rádio, televisão e agora internet. Outra característica histórica, é que continua havendo o vínculo entre os grupos de mídia e as oligarquias políticas. De 2.205 rádios comunitárias autorizadas, 53.9% delas têm vínculo político, ou político religioso, ou duplicidade de outorga. No Ceará, por exemplo, das 133 rádios autorizadas, 57.8% tem vínculo político explícito.


 


Os debatedores


 


O seminário “A Mídia e o Poder” foi uma promoção do Consórcio de Empreendedores Sociais (COESA) e do Comitê da Sociedade Civil. Participaram como debatedores o senador Inácio Arruda, o psiquiatra Valton Miranda Leitão e a presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Ceará, Débora Lima.


 


Para Valton Miranda, não se pode demonizar nem a mídia, nem os jornalistas. Eles têm prestado funções importantes na sociedade. Já Inácio Arruda, ressaltou o papel dos grandes jornais, desde a época da independência do Brasil, quando eram tratadas batalhas midiádicas. Lembrou Lênin e João Amazonas que diziam que as razões para a sobrevivência de um partido política era o jornal. “Na época da ditadura militar, A Classe Operária, jornal do PCdoB, era distribuído de mão em mão”. Para Inácio, a única forma de dar limites a mídia é através do enfrentamento político, dos grandes debates. Débora Lima, presidente do Sindicato dos Jornalistas, defendeu a necessidade do Conselho Nacional de Jornalismo e condenou o tipo de discussão que vem sendo feito sobre a questão da não renovação da concessão de RCTV da Venezuela.


 



O conferencista


 



Venício Lima é Pós-Doutor em Comunicações pela Universidade de Illinois e Pós-Doutor pela Universidade de Miami. Professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB foi fundador do Núcleo de Estudos de Mídia e Política (NEMP-UnB), membro do Conselho de Acompanhamento da Programação de Rádio e TV da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e da Comissão de Liberdade de Imprensa do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal. É articulista do Observatório da Imprensa e autor de vários livros sobre Comunicação.


 


 


De Fortaleza, Emilia Augusta