Livro disseca mídia na Venezuela e golpe anti-Chávez de 2002

Por Pedro Venceslau
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, é uma fonte inesgotável de inspiração para intelectuais e jornalistas. No Brasil, existem pelo menos cinco obras de fôlego disponíveis sobre o líder da revolução bolivariana, quase todas produ

Rovai é editor da revista Fórum, publicação que nasceu junto e inspirado no Fórum Social Mundial e que compete nas bancas pelos leitores de esquerda com a Caros Amigos.


 


O projeto do livro nasceu de sua tese de mestrado da USP, que teve como ponto de partida o golpe militar-empresarial-midiático que tirou Chávez do poder por 48 horas em abril de 2002. O diferencial da obra de Rovai é o ponto de vista de escolhido para explicar o complexo cenário político venezuelano.


 


Depois de uma série de viagens ao país, o autor produziu o mais completo relato disponível no Brasil sobre o protagonismo dos meios de comunicação no golpe, além de um minucioso mapeamento sobre quem é quem na mídia impressa e eletrônica.


 


Midiático Poder (Editora Publisher) tem, ainda, um longo capítulo de “serviço”, com informações detalhadas sobre os principais sites de esquerda do Brasil e do mundo.


 


Leia abaixo um trecho do livro


 


 



A farsa do Almirante


 


Ainda no dia 11 de abril, após a intensa difusão em massa do “massacre”, surgem oficiais das Forças Armadas em cadeia patrocinada pelos meios eletrônicos. Liderados pelo almirante Héctor Ramírez Pérez, pedem a renúncia do presidente da República e acrescentam um novo elemento à crise: as Forças Armadas não só não apoiavam mais Chávez, como também não o aceitavam como presidente. Após o anúncio, TVs no mundo inteiro reverberaram a exigência. Héctor Ramirez era apontado pela CNN como o líder máximo das Forças Armadas no país. Fazia parte do pacote de invenções daqueles dias.


 


O depoimento do correspondente da CNN, Otto Neustald, no Fórum de Jornalismo em Tempos de Crise, que foi filmado e faz parte de documentário da Anmcla, sintetiza a ação dos supermeios na Venezuela. Enquanto esperavam uma autorização de um canal de televisão para que pudessem entrar ao vivo, dizendo ao país que não reconheciam mais o governo, o jornalista Neustald, vendo a ansiedade dos militares, disse-lhes que ensaiassem o que iam dizer para que pudessem ser convincentes.


 


Eles aceitaram a proposta de Neustald, colocaram-se em frente à câmera e disseram: “O presidente do Conselho de Autoridades, o senhor Hugo Chávez Frias, traiu o povo e está o massacrando com franco-atiradores. Neste momento já se podem contar seis mortos e dezenas de feridos…”


 


A gravação realizada por Neustald aconteceu exatamente duas horas antes de os conflitos se iniciarem. Naquele momento não existiam mortos ou feridos. Nem confronto armado. Tampouco era possível saber da existência de franco-atiradores. Héctor Ramírez e seus colegas golpistas de farda, porém, sabiam de tudo que ia acontecer. Os meios de informação, que esperavam para autorizar-lhe a entrada ao vivo, também. Não havia um Nostradamus no grupo. Era somente o ensaio do golpe.


 


 


Fontes: A Imprensa e Blog do Rovai