Maria Pankararu – Doutora Índia do Brasil

O Jornal Nacional noticiou no dia dezenove de abril de dois mil e seis, dia do índio, que o Brasil passava a ter a primeira índia doutora de sua história. Maria Pankararu, remanescente da etnia Pankararu, do Estado de Pernambuco, apresentou e defendeu sua

O objeto de seus estudos foi a língua dos índios Ofayé, de Mato Grosso do Sul. Eis aí uma boa notícia, justamente no momento em que a educação brasileira atravessa uma crise tão aguda. Maria Pankararu, mulher e índia, é o símbolo da superação, uma brasileira legítima que no peito e na raça chega ao seleto grupo de doutores. Quanta adversidade ela não deve ter enfrentado? Afinal, o país inteiro sabe que os índios são submetidos a um tratamento preconceito e violento. Várias situações poderiam ser citadas aqui, mas o caso do Índio Galdino Pataxó, queimado vivo, assassinado por filhos entediados de juiz e militares em Brasília, exemplifica a conduta da sociedade brasileira. A Maria agora é uma referência, não somente para os indígenas, mas para todos que precisam enfrentar adversidades na luta pelo pão, pela dignidade e pelo conhecimento formal. É também um choque para um país, onde bacharéis e advogados de porta de cadeia são chamados de doutores. A Maria Pankararu, doutora de verdade, é uma boa notícia para o Brasil que vive o eterno carnaval da impunidade, da corrupção e da falta de memória. Um exemplo como esse dá alento e vontade de acreditar. É como resgatar a simplicidade e a generosidade que marcaram a índole de seus ancestrais. É, seguramente, uma forma de manter vivos os anônimos que lutaram pelo direito à preservação da cultura, dos rituais sagrados, dos costumes, das terras, enfim, de toda a identidade e tradição brutalmente reprimidas. Este feito notável resgata não somente a língua de um povo, mas, também lideranças indígenas de Mato Grosso do Sul, como a Marta Guarani e o Marçal de Souza, morto há mais de vinte anos (seus assassinos jamais foram punidos). A educação realmente abre portas, dá vigor às vozes, embora as universidades, principalmente as caça-níqueis, não transformem as pessoas em seres humanos melhores, tem muito imbecil por aí com diploma de curso superior, depende muito da vontade pessoal de cada um. No caso específico da Maria Pankararu fez toda a diferença, o seu diploma de doutora pela Universidade Federal de Alagoas é a prova incontestável de que as populações indígenas não precisam ser tuteladas pelo Estado, grupos religiosos ou seja lá quem for. Precisam apenas do que lhe pertencem originalmente e o Brasil precisa de mais Marias como ela. Marias professoras, magistradas. Índias médicas, policiais, reitoras. No Senado e na Câmara. A integração precisa acontecer também nos centros de poder. Essa vitória espalha esperança, alimenta sonhos e cultiva a tolerância ao diferente. Parabéns Maria Pankararu, doutora índia do Brasil.
 
Almir Farias da Cunha

Servidor público em Mato Grosso do Sul