Pesquisadores querem “reconstruir” a internet

Ainda que a internet tenha levado quase quatro décadas para chegar ao seu estado atual, alguns pesquisadores acadêmicos – com o auspício do governo federal norte-americano – querem reestruturar tudo e começar de novo.

A idéia pareceria inconcebível, até absurda, mas muitos crêem que a estratégia de “apagar e começar de novo” representa a única maneira de atender verdadeiramente aos desafios como segurança e portabilidade. Esses temas surgiram desde que Leonard Kleinrock, um professor da Universidade da Califórnia (Ucla), ajudou a supervisionar a primeira troca de textos significativa entre dois computadores, em setembro de 1969.


 


A internet “funciona muito bem em muitas situações, mas foi desenhada com premissas completamente diferentes”, disse Dipankar Raychandhuri, professor da Universidade de Rutgers, que supervisiona os projetos de reestruturação. “É uma espécie de milagre que ela siga funcionando bem hoje”.


 


Agora que a rede não está mais limitada pela lentidão das conexões ou dos processadores nos PCs, nem pelos altos custos de armazenamento de dados, os pesquisadores consideram ter chegado o momento de reformular a arquitetura subjacente da rede.


 


Esse passo implicaria a necessidade de substituir os equipamentos existentes e de reprogramar o software para encaminhar melhor o tráfego do futuro sobre os canais disponíveis. Até mesmo Vinton Cerf – que foi um dos fundadores da internet e ajudou no desenvolvimento e nas técnicas para as chaves de comunicação – disse que a iniciativa de reforma é “saudável em geral”, porque a tecnologia atual “não satisfaz todas as necessidades”.


 


Quem faz o quê


 


Para qualquer reconstrução, um dos desafios consistirá em alcançar o equilíbrio entre os interesses de vários grupos. No começo, os pesquisadores puderam trabalhar em paz dentro de seus laboratórios. Desta vez, a indústria tem uma influência mais importante, e as autoridades querem que sejam levadas em conta suas necessidades de intervenção.


 


Não há evidências de que esses grupos já estejam atuando, mas, uma vez que qualquer investigação pareça promissória, “inúmeras pessoas vão querer participar no desenho”, disse Jonathan Zittrain, professor de Direito afiliado às universidades de Oxford e Harvard.


 


A Fundação Nacional de Ciências (NSF) quer construir uma rede experimental de investigação conhecida como “Ambiente Global para Inovações em Rede” (Geni), e está financiando vários projetos nas universidades e em outras instituições mediante o projeto Desenho da Rede Futura de internet (Find).


 


As universidades de Rutgers, Stanford, Princeton, Carnegie Mellon e o Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) estão entre as instituições que empreenderam projetos individuais. As dependências governamentais, incluído o Departamento de Defesa, também exploraram o conceito.


 


Vida paralela


 


A União Européia apoiou pesquisas de iniciativas semelhantes, mediante um programa conhecido como Investigação e Experimentação da Internet Futura (Fire). Funcionários e pesquisadores se reuniram no mês passado em Zurique para discutir seus primeiros achados e metas.


 


Uma nova rede funcionaria paralela à internet atual e a substituiria posteriormente, ou talvez alguns aspectos da investigação se aplicariam a uma reestruturação da arquitetura existente. Estas propostas estão, entretanto, em suas etapas iniciais, e não dariam frutos senão daqui a dez ou 15 anos, no caso de o Congresso aprovar o financiamento.


 


Guru Parulkar, que assumirá a direção geral da iniciativa de Stanford, depois de encabeçar os programas da NSF, estimou que apenas a proposta Geni custará US$ 350 milhões, enquanto que o gasto do governo, da universidade e da indústria em projetos individuais cresceria em conjunto a US$ 300 milhões.


 


Até agora, o gasto foi de algumas dezenas de milhões de dólares. A substituição de todos os programas e computadores para implementar a nova rede poderia acrescentar bilhões de dólares ao custo.