Luiz Nassif: os “vetos” de seu Frias

Quando cheguei ao velório do seu Frias, fui cercado por colegas querendo um depoimento sobre ele. Na balbúrdia do momento, contei os dois únicos “vetos” que sofri dele durante todo meu período de colunista do jornal.

O primeiro não foi propriamente veto, foi em uma entrevista que sugeri com Fernando Collor, anos depois de sua queda. Seu Frias tinha uma implicância visceral com Collor – que legou ao Clóvis Rossi, o jornalista que mais afinidades teve com ele e com o Otavinho. Acho que Collor foi a única pessoa, que me lembre, da qual seu Frias não podia nem ouvir falar o nome.

Mesmo assim, seu Frias aprovou a pauta. Quando voltei da viagem à Miami, ele me telefonou e disse o seguinte: “Nassif, você tem toda a liberdade para publicar a entrevista. Mas se o Collor voltar ao poder, provavelmente eu já terei morrido, mas juro por Deus que volto para puxar sua perna”.

Calhou de Collor, logo em seguida, solicitar sua candidatura à presidência (em 1994), o que me levou a suspender a publicação da entrevista.

O segundo episódio foi em um debate com um colunista do jornal, em 1995, quando comecei a denunciar os erros das políticas de câmbio e juros do Real. O tal colunista — que estava em Brasília e escrevia na página 2 — entrou na discussão econômica, alimentado pelo Pedro Malan e pelo Carlos Considera, Secretário do Ministério.

Quando os argumentos começaram a minguar, passou a apelar e a escrever diariamente que quem afirmava que os juros estavam errados era lobista da FIESP. Eu sabia que era questão de tempo para os indicadores comprovarem o tamanho da crise. Aliás conto em detalhes esse episódio no meu livro “O Jornalismo dos anos 90”.

Quando o próprio Fernando Henrique Cardoso admitiu que vinha crise brava pela frente, escrevi a coluna dando o troco e mostrando a manipulação de dados por parte do colunista.

Essa coluna não saiu. A rigor, foi o único veto que sofri em todo o período em que seu Frias esteve à frente do jornal. E não foi um veto de opinião, mas meramente em função das circunstâncias internas do jornal. Por isso coloquei os dois “vetos” entre aspas.

Fonte: Blog Luiz Nassif Online